MORRER NO SENTIDO FIGURADO
MELHORES BANDAS ‘MORTAS’ PRA MIM:
- Dead Kennedys
- Dead Can Dance
- Nação Zumbi
- Cannibal Corpse
- Zumbis do Espaço
- Dying Fetus
- Killer Be Killed
- White Zombie
- Corpse
- The Grateful Dead
MELHORES BANDAS ‘MORTAS’ PRA MIM:
o tipo de lista em q certamente vou brincar sozinho
(e q evitei colocar álbuns nome da banda + “Live“, tipo “Priest… Live!”, essas coisas. Pode funcionar como regra se alguém mais quiser)
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DISCOS CUJO TÍTULO CITA A BANDA, SEM NO ENTANTO SEREM AUTO-INTITULADOS
1. “Sabbath Bloody Sabbath”, Black Sabbath
2. “Maiden Japan”, Iron Maiden
3. “Panzer Division Marduk”, Marduk
4. “Quarto Golpe”, Golpe De Estado
5. “The Young Gods Play Kurt Weil”, The Young Gods
6. “Wake Up And Smell the… Carcass”, Carcass [semi-coletânea]
7. “We Are Motörhead”, Motörhead
8. “Apocalyptica Play Metallica By Four Cellos”, Apocalyptica
9. “Garotozepam De Prodrezepil”, Garotos Podres
10. “Forbidden Evil”, Forbidden
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CODA: em 4 de Julho último, num “Thrash Com H Classics”, reprisei “I Live, You Die”, disco obscuro, de banda idem (Corpse). Um dos integrantes, Luís E. Hess, achou a resenha semana passada e teceu depoimentos bem interessantes por lá. Do tipo terem gravado, mixado e masterizado o álbum em apenas 36 horas. Bem legal.
Publicado originalmente em 13 de Abril de 2006
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SERVIÇO DE UTILIDADE PÚBLICA THRASH COM H
“I Live, You Die”, Corpse, 1990, BRZ
sons: HEAVEN NEEDS MONEY / SLAVES OF OUR INVENTIONS * / BACK TO MY WORLD / I LIVE, YOU DIE * / TOXIC DEATH * / LIFE REFLECTIONS * / REASON TO KILL
formação: Marcelo Fonseca (vocal & guitar), Marcos Khalil (bass), Luiz Hess (lead guitar), Fabio Russo (drums)
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Hoje é a vez da resenha mais true jamais publicada aqui no Thrash Com H. Sério mesmo.
Simplesmente nunca ouvira falar nesse Corpse, e continuei ñ ouvindo, nem sequer ouvindo lamentos por terem encerrado atividades ou sido banda pioneira, coisas do tipo. Tb ñ li nada (ainda) a respeito duma volta bombástica pra algum show babilônico nalgum palco mesopotâmico para gravação dum DVD ao vivo faraônico a consertar a falha do mundo e dos tempos q ñ os reconheceram quando estavam ativos. Comunidade no Orkut tb ñ tem.[Adendo: tem sim. Quando publicada da 1ª vez, o dono dela “me” encontrou]
Era banda brasileira, isso já dá pra dizer. O selo do vinil, q ganhei da Mônica – uma grande amiga pra quem thrash ou trash faz pouca ou nenhuma diferença – naqueles escritos “fabricado e distribuído por Sonopress” atesta isso. O endereço do selo q lançou o álbum, sediado em Guarulhos, tb. A pesquisa feita no Metal Archives os têm entre 94 outros ‘Corpses‘, ‘alguma coisa Corpse‘ e ‘Corpses alguma coisa‘, e revela q os caras eram sediados em Arujá, cidade da Grande São Paulo. E mesmo assim, continuo sem saber porra nenhuma de quem eram eles, o q fizeram depois, q fim levaram, e tal. Discografia inclui apenas e tão somente este “I Live, You Die” e uma demo anterior. Pouca história pra contar ou encher lingüiça por aqui, afinal.
É o tipo de resenha, como a q fiz do Vodu em janeiro último [reprisada no Exílio Rock em julho último], q periga alguém da banda ou alguma pessoa ligada a eles acabar descobrindo e vir polemizar, discutir, achincalhar, achar legal. Tomara q sim.
De qualquer modo, pouco cabe especular. Vamos aos sons registrados por aqui, e à produção descuidada, toda abafada, q arruína alguma boa-vontade inicial em ouvir o trampo. Sim, pq uma ouvida por cima e/ou desatenta ñ fará justiça às tantas partes e idas e vindas dos sons. Este é o típico caso de disco a ser ouvido várias vezes, e em q sempre se descobre algum detalhe diferente. Pra mal e pra bem.
Pra mal: a praga oitentista das introduções limpas um tanto extensas e anti-climáticas se faz notar. (Até hoje ñ entendo se era tão onda de copiar Metallica. Sendo q na pior das hipóteses soava Flotsam & Jetsam, ou em ñ ficando tão ruim lembraria vagamente Testament). Fora q melhor gravadas q as partes pesadas, o q revela a precariedade na produção tvz tendo ocorrido por defasagem de equipamentos ou por desconhecimento de como se gravar thrash metal. “Heaven Needs Money” ilustra isso: é jurar q se trata de algum som mais pop, pra dali a um minuto e pouco (fossem menos segundos, ficava melhor) mudar bruscamente pras palhetadas abafadas em demasia, dando impressão de serem músicas diferentes, de bandas diferentes.
“Back To My World”, por outro lado – e pra bem – faz bom uso de partes limpas mais pro meio do som (no começo nem tanto: parece balada, e fora Testament nos violões, me lembra algo do Suicidal Tendencies poser), o q tvz denote maior grau de maturidade ao longo das composições. Pq “I Live, You Die” vejo assim um tanto semelhante ao MX em “Simoniacal” [S.U.P. em jan/2005] no sentido de as músicas parecerem dispostas na ordem em q foram compostas. A tendência duma banda, afinal, é aprimorar suas composições à medida em q compõe mais. A exceção é “Reason to Kill”, o pior som do álbum, meio q um amontoado de partes q ñ ficaram bem costuradas. E possui um “uh” celtic frostiano bem evidente ali pro meio. Sendo este um álbum refletivo de época em q gravar algo era mais difícil e árduo, e oportunidades q surgiam faziam com as bandas quisessem aproveitar e registrar o máximo possível de coisas.
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Tivessem durado mais, ou gravado outros álbuns, tvz adquirissem senso de compor músicas com menos partes, de modo a render mais sons. Ñ vejo como demérito isso, uma vez q estamos falando duma banda verdadeiramente de raízes oitentistas, e difícil seria ñ soar como a época “impunha”. Mas, pra destacar algo negativo nesse modus operandis, dá pra dizer q em algumas vezes as mudanças soam abruptas, sem alguma virada ou passagem de transição.
(Vai q tb isso seja um vício deste q vos escreve, devido aos sons noventistas melhor resolvidos nesse quesito a q sou/fui exposto, q me faz estranhar um jeito mais “tradicional” de compor…)
Percebo bastante disso nas bandas oitentistas q ñ vingaram, sobretudo nas brasileiras. Se por um lado denotavam entrosamento – mudanças tantas requerem ensaio e química entre os integrantes – por outro se quebravam alguns sons às vezes desnecessária e abruptamente… “Toxic Death” traz um pouco disso: entrasse ‘no pau’ logo após a intro, ñ daria a impressão de lentidão e de quebra da expectativa de bangear.
“Slaves Of Our Inventions” e “Life Reflections”, por sua vez, trazem um maior senso de cadência, sendo mais baseadas em palhetadas e grooves baterísticos acompanhando-as. E tornam-se relevantes à medida em q mostram ser possível cadenciar o som sem virar aquela coisa funkeada nada a ver, q tanta banda recente acaba cometendo. A 1ª, extensa, contém uma parte de solos bem interessante, com mudanças a ver e trechos q remetem ao Metallica antigo: ñ chega a ser chupim, mas cavalgadas a la “From Whom the Bell Tolls” e “Creeping Death” fazem-se notar.
A faixa-título, por sua vez, assim como “Toxic Death”, são pra empolgar fãs de Nuclear Assault: andamentos baterísticos bate-estaca a la “New Song” cativam. (Ainda q a 2ª tb tenha um tanto de Kreator pré-“Coma Of Souls”). Fora o trampo de backing vocals bem naquela veia clássica. Apenas o vocal, mais rouco e grave, foge ao formato. (E ñ é ruim: o tal Marcelo passa o recado sem encheção de saco de rasgados forçados ou guturais q ñ saberia fazer; a voz do cara é o q está ali, e pronto). E no q se refere à técnica ou a destaques musicais, tem-se (tinha-se) aqui, reiterando, um pessoal bastante entrosado: várias vezes um baixo aparece aqui e acolá (paradinhas como em “Toxic Death”), sendo q jamais mostra-se aquele baixista q fica na cola do bumbo ou dando só notas nas cabeças de tempo; há sons q o cara aparece junto com as guitarras, dedilhando até.
O trampo de guitarras é legal e sem exageros: palhetadas e alternâncias de um fazendo base enquanto o outro sola bem criativas – como na “Slaves Of Our Inventions” citada, mas tb em todos os sons. Ñ há nenhum som por aqui em q o solo dure breves segundos, e as bases – e alternâncias delas durante as alternâncias de solos – mostram gente q respirava e exsudava thrash 24 horas por dia, imagino. Alguns solos com alavancadas tb. O miguxo Wagner ontem mesmo me falava de bandas recentes q se dizem influenciadas por isto, aquilo, aquilo outro, e ñ sei mais o quê SEM MOSTRAREM uma vírgula de referências ou de bom gosto das bandas citadas nos releases: isso ñ se dá/dava com o Corpse.
Q, à semelhança do Vodu (embora sonoramente ñ), usava das referências, influências e artifícios conhecidos ñ pra soar chupim, mas na busca de encontrarem uma cara própria. Tudo q foi citado por aqui de influência assim o é: ñ era uma banda tentando ser o Testament, o Nuclear Assault ou o Kreator brasileiros. Falando francamente: é o caso de banda q mereceria uma reedição do trampo em cd – q imagino inexistir – ou até uma volta, caso voltassem nos mesmos moldes decantados neste “I Live, You Die”.
Q nem é disco divisor de águas do metal brasileiro, tampouco pilar na invenção ou reinvenção de estilo, muito menos uma obra constantemente citada por gente q começou a tocar depois de ouví-lo. Tem pouco mais de meia hora, e tvz incite ainda uma outra reflexão: quantas bandas – boas – por aí ñ ficaram (e ñ ficam, atualmente) à margem, por ñ disporem dum jabá eficiente ou dalguma assessoria de imprensa competente em plantar notas nos sites e revistas? Imagino q tantas outras bandas, como o Corpse, “ficaram pelo caminho”, o q é uma pena. A história do metal brasileiro, afinal, ñ deveria ser só a das bandas q vingaram e das bandas tardiamente reconhecidas.
Um uso adicional e recreativo deste material pode ser feito por babacas true q tenham como profissão de fé intimar ou mostrar a outros (geralmente desavisados ou ‘menos true‘) q conhecem bandas desconhecidas e/ou precárias. Tanta gente com jaco jeans por aí ostentando patches de Artillery, Crossfire (ae, Bruno, aguarde!), Grave Digger, Exumer [S.U.P. em jan/2004]… Q tal copiassem com canetinha – vermelha – o logo dos caras, pra q se alguém perguntar, se pudesse orgulhosamente retrucar: “pô, vc nunca ouviu Corpse?”.