SERVIÇO DE UTILIDADE PÚBLICA THRASH COM H

“Yersinia Pestis”, Torchbearer, 2004, Metal Blade/Cold Records

sons: ASSAIL THE CREATION * / SOWN ARE THE SEEDS OF DEATH * / DEAD CHILDREN, BLACK RATS / FAITH BLED DRY * / BEARER OF THE TORCH / PEST COMETH / FAR ADVANCED CLOSURE * / THUS CAME DYING UNTO KAFFA * / SHORESPREAD GOD / FAILURE’S DAWN *

formação: Pär Johansson (vocals), Christian Älvestam (guitar), Mikael Degerman (bass), Henrik Schönström (drums), Patrik Gardberg (guitar)

additional guitar solo by Thomas Johanson

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Fenômeno q muito me aconteceu era o de cair em mãos algum cd desconhecido, de banda igualmente desconhecida, cuja apreciação gerou surpresa e sede de sangue. Em tempos de internet, a ocorrência vinha caindo a praticamente zero.

Até semana passada, onde encontrei este “Yersinia Pestis” na mesa do meu irmão, e, munido de curiosidade + compulsão por copiar cd’s no hd, me deparei com daqueles álbuns q tb valem o clichê “jamais julgue um livro pela capa”. Pois analisando-a precipitadamente, a impressão é de alguma banda lendária obscura dos 80’s e/ou sub-Grave Digger (q os titulares já são sub-Judas o bastante pra mim…), cuja única discrepância visível era o logotipo meio true.

Ñ só. O som tb é do cacete!

Foi rolando a “Assail the Creation” inicial – e q outra alvissareira surpresa ouvir cd cuja faixa inicial ñ é violãozinho, barulhinho de trovão ou intro tecladística pernóstica! – e a consulta aos Metal Archieves (necessária por conta de ser cd pirata, sem informação alguma) foi me revelando ser esses Torchbearer banda ativa, sueca, e q mescla black, death e thrash melódico. Sim e ñ.

Pricipalmente ñ a última parte. Pq sendo vc tb alguém indignado perante a diluição e deterioração q se tornou o death/thrash melódico – de bandas muitas vezes wannabe new metal, porcamente pegadoras de inspiração no Carcass no mais superficial das guitarras graves harmonizadas – digo q aqui ñ há aquele ímpeto equivocado de quererem ser o novo Arch Enemy ou In Flames: este álbum é vertinginoso, urgente, preciso, de cair o queixo. De fazer jus a mais outro clichê: um PETARDO.

Tem riff cáustico pra cacete aqui, tem solos ríspidos tb, e alguns acima da média (realmente ótimos), partes de 2 bumbos, blasts beats à vontade (e ainda mid-blasts, q é como chamo a batida ENTRE a thrash e o blast), tem vocal urrado, vocal rasgado (aliás, parece às vezes ter 3 vocalistas a banda – como o início de “Sown Are the Seeds Of Death”, com 3 urros iniciais diferentes), existem partes cadenciadas conduzidas em ride (tipo Dave Lombardo no “Reign In Blood”), e tb algumas em crashes (sem soarem chatas nem pula-pula, pq sempre com 2 bumbos. Jamais rappeadas) e tem até harmonizações guitarrísticas – poucas e propriamente thrash melódico (em “Dead Children, Black Rats” sobretudo) – q ñ soam flácidas, bem pelo contrário.

Nenhum dos 10 sons começa lentinho pra daí engrenar: todos vão direto ao assunto, com riff na cara, base contundente ou passagem baterística (“Faith Bled Dry”). Assim como os finais, q nenhum é em fading. Como se os caras estivessem realmente necessitados de mostrar serviço. James Hetfield recentemente declarou de Rick Rubin haver instigado o Metallica a cometer o “Death Magnetic” como estivessem pra conseguir o 1º contrato de suas vidas: discutível isso enquanto resultado, mas “Yersinia Pestis” cabe nesse espírito, nessa atitude. Até por ser a estréia de fato da banda, q consta ter ainda outro álbum, “Warnaments” (2006), conceitual sobre batalhas navais da 1º Guerra, com capa q achei belíssima.

Observação conceitual outra: yersinia pestis é o nome científico da bactéria hospedeira dos ratos durante os anos infecciosos da Peste Negra na Europa, e as letras do álbum giram em torno dela, o q o torna conceitual sobre o mesmo mórbido período, o q além de true soa óbvio: como é q me parece nenhuma banda tê-lo feito até hoje?

Pra opositores de plantão tb cabe dizer serem os elementos black bem sutis: uns momentos vocais horrendos climáticos – em “Black Children, Dead Rats” ou “Shorespread God” – e ainda partes guitarrísticas harmonizadas – ufa!, no lugar de teclados – porém pertinentes (em “Far Advanced Closure” e “Pest Cometh”), embora menos constantes na receita coesa q é isto aqui. Álbum q soa feito por gente q SABE TOCAR, tirar timbre legal (a ñ ser q o produtor tenha sido aquela “mãe”) e gravar bem (mesmo o baixo se ouve regularmente), além de nitidamente gostar de várias veretentes no metal extremo, bem mais do q quererem atingir públicos-alvo diversos.

Pq a descrição das constantes variações nos sons (abaixo) com outras bandas poderia soar assim. Ainda outra coisa surpreendente: ñ soa disco feito em Pro Tools, q se usado, o foi discreta e cirurgicamente.

Enfocando os sons por aqui numa outra perspectiva: soam inversos àqueles álbuns – de q ñ recordo nenhum no momento pra exemplificar (sugiram ae!) – compostos de poucos sons contendo trocentas partes, dos quais às vezes reclamamos pensando “tivessem feito 3 sons diferentes, ao invés de 1 apenas com o tanto de riffs e passagens, o trabalho seria (ainda mais) do caralho”. É tudo muito sucinto e cativante, justamente por isso. Poucas são as variações composicionais das faixas, mas o resultado ñ é o dum catadão monótono de faixas parecidas. Sempre com algum riff thrash (predominantes) ou death (floridense, ñ sueco) conduzindo as coisas e as batidas alternantes entre o thrash, o mid-blast, blast e o cadenciado num mesmo som, sem soarem maçantes nem automáticas.

Pessoalmente me agrada muito o trampo do baterista Schönström de, em muitos sons, fazer batidas (com andamentos) diferentes às vezes prum mesmo riff, q “Pest Cometh” sobretudo reflete; ou em “Failure’s Dawn”, quando taca blast numa levada mais cadenciada, sem soar forçado. Ñ chega a ser o destaque instrumental – q eu atribuiria por muito pouco ao trampo guitarrístico e à versatilidade vocal – mas ainda as constantes viradas, todas muito justas e objetivas (sujeito sabe tocar, mas ñ quer ostentá-lo, ao mesmo tempo q ñ consegue ser mais xucro), constituem trunfo no material.

Pequenos detalhes outros de sons, pra instigar audição/download: 1) “Assail the Creation” entra comendo solta, com solos alavancados já de cara. E tem uns riffs thrash cativantes q me remetem a algo – sem ser chupim – q ñ consegui ainda precisar; 2) “Bearer Of the Torch” tem a única BREVE parte com guitarra limpa, ñ sendo exatamente limpa (sem efeito), e dá a deixa dum trabalho de duas guitarras o tempo todo bem interessante e variado: percebe-se a atuação de Älvestam e Gardberg nada redundantes entre si; 3) “Far Advanced Closure” entra de cara com blast e contém trampo baterístico de chimbaus abertos em contratempo bem legal. Fora uns riffs numas paradinhas q denotam influência de Slayer antigo e Death; 4) “Shorespread God” contém o único blast a la Cannibal Corpse no trampo, junto de partes de solo, fora pegada Testament na levada mais cadenciada; 5) “Failure’s Dawn” tem batida no vocal q quase q arrasta/atrasa as coisas (tipo “Atitude Zero”, do Ratos De Porão), e aí o riff quebra ficando seco em paradas bruscas junto do vocal algumas vezes. Por outro lado, soa esquisita em conter um solo de bateria quase ao fim (!?!?).

Posso estar enganado, ou andei distraído, mas ñ me recordo de qualquer resenha ou entrevista com o Torchbearer ou sobre qualquer um de seus álbuns nas revistas magnas nacionais, o q é algo q me soa no mínimo contraproducente: tanta banda tranqueira e/ou derivativa e/ou sem gana e/ou projeto de estúdio e/ou marqueteira q vem sendo incensada…

Claro q o material decantado por aqui ñ é em absoluto original (ñ há ruptura de paradigmas ou tentativas de se criar novo estilo), ao mesmo tempo em q ñ é assim uma porcaria – mesmo alguns riffs thrash, geradores dalgum deja-vu, ñ soam imaturidade chupinhada de bandas consagradas – com a banda soando SINCERA e coerente na plenitude dos 36 minutos nada exígüos deste disco, de modo q, além de indicar à freguesia tchaptchura deste blog, eu tb o recomendaria com muito amor no coração à gente órfã do The Haunted 2 primeiros álbuns e a headbangers q consideram o Torture Squad meio água & óleo em seu amálgama técnico.

Pra fechar com o último clichê: grata revelação!

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CATA PIOLHO CLXXIV – Bizarro: “Pretty Hate Machine”, estréia fonográfica do Nine Inch Nails, quando ouvido na ordem vai revelando nenhuma das batidas (programadas) de nenhum dos sons contar com qualquer espécie de pratada/crash. No entanto, o álbum ñ fica totalmente isento disso o q certamente o credenciaria à menção no Guinness Book mas das 10 músicas de q é feito, a única vez em q acontece é na penúltima, “The Only Time”. Piada involuntária??