THRASH COM H CLASSICS

Pra quebrar um pouco a rotina, reprise dum álbum de q falei mal.

Publicado originalmente em 3 de Julho de 2005.

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DE-SERVIÇO DE UTILIDADE PÚBLICA THRASH COM H

ratm.

“Rage Against the Machine”, Rage Against the Machine, 1992, Epic/Sony

sons: BOMBTRACK / KILLING IN THE NAME / TAKE THE POWER BACK / SETTLE FOR NOTHING / BULLET IN THE HEAD / KNOW YOUR ENEMY / WAKE UP / FISTFUL OF STEEL / TOWNSHIP REBELLION / FREEDOM

“guilty parties”: Zack De La Rocha (vocals), Timmy C. (bass), Brad Wilk (drums), Tom Morello (guitars)
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“Rage Against the Machine”, a obra, nem me passa consideradar tanto assim um álbum: é mais um PRODUTO. E tal como o Rage Against the Machine, banda, ñ foi dirigida a um público, mas sim a um PÚBLICO-ALVO.

Q público-alvo?

Aquele da molecada púbere, necessitada de extravasar a turbulência hormonal característica dos entre 12 e 17 anos, e q considera Creed (ou um xinfrim brasuca, Skank) “rock”, Charlie Bronson Jr. (ou algum xinfrim gringo… Stone Temple Pilots, vá lá) “d+”, e new merda e Evaneshit som pesado.

Pouco me importa o www.allmusic.com, onde fui buscar mais informações e capinha, relatar q “fulano tocava antes na banda x, ou sicrano tocou com o zé-ruela na banda y por anos”, o fato é q o Fake Against the Machine (como os chamarei doravante), tanto como abruptamente encerrou atividades, surgiu do nada! Nisso q fica minha única dúvida com relação a esses caras:

teriam sido uma banda armada, ou apenas uns malacos sortudos:  banda certa na hora certa no lugar certo?

Ainda ñ sei responder. Corroborando a tese de “armação”, tb inexiste histórico de ralação underground deles em botecos, tampouco de demos anteriores a esta estréia…

Acredito ñ forçar nenhuma barra em especular q o Fake Against the Machine pode ter sido um projeto-piloto e ensaio praquilo q a mesma indústria fonográfica norte-americana, hegemônica no mundo ocidental (como bem apontou o Rammstein em “Amerika”), forjaria algum tempo depois sob o epíteto new metal: barulho de guitarra misturado a rap, pronto pra consumo, com rebeldia dirigida à molecada auto-afirmativa em suas calças largadas, gorros e gírias de morro (rapper), tá ligado, motherfucker?

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Paremos um pouco com a ingenuidade de acreditar numa banda “anti-sistema” cujo 1º álbum sai logo pela Sony Music (a maior multinacional de entretenimento mundial)!… De integrantes utilizando camiseta com efígie do Che Guevara (q já ñ andava pouco desgastada – ñ serviu até pra propaganda da Levi’s?) em plenos EUA!… Uau! E com o press-release de banda revolucionária, contestadora e contundente, sem concessões, prestes a revolucionar música, costumes, leis, mercado (se bem q o mercado…).

Afinal, o movimento hippie mudou o mundo? Se sim, muito pouco: assimilado pela “máquina”, o q hoje existe são estampas na moda pret-à-porter e tiozinhos maconheiros cantarolando “Janis” enquanto vendem artesanato na Pça da República… O movimento punk, então? João Gordo é líder de audiência na mtv brasileira, Sex Pistols e outras bandas 77 voltaram ultimamente pra garantir aposentadoria so$$egada, fora a criação (involuntária, é verdade) do filho bastardo enviadado emocore… Apenas o rap ñ foi de todo assimilado AINDA, embora ñ penso tardar a hora em q a molecada terá opção entre uma boina da Zoomp ou da Forum, ou até mesmo da C&A – no caso dos menos abastados. Abuse e use!

E o som do produto, é tão lixo assim? Tirando: 1) os sons com excesso de rap (“Settle For Nothing” e “Fistful Of Steel”), 2) o procedimento adaptado do grunge, de falsos fins seguidos de gritaria catártica estudada e deliberada (só uns 2 sons ñ adotam a fórmula), e 3) todo um exagero bajulatório pro lado do falso guitar-hero Morello (q nos melhores momentos é até bom – e sobretudo criativo – guitarrista, mas nos piores, acho o Ace Frehley do ano 2000), tem coisa legal aqui sim. Depende da tua idade (pouca) ou abertura mental (razoável pra muita).

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Certos riffs são interessantes, ainda q demasiado repetitivos/mornos: “Take the Power Back” contém timbragens idênticas às dum Black Sabbath setentista, ficando naquele limiar entre oportunismo pra auferir credibilidade dos mais velhos e desprendida demonstração de bom gosto, o q é tb o caso de “Wake Up”, cujo riff chupinha “Kashmir”, do Led Zeppelin, na cara dura. “Bullet In the Head” e “Know Your Enemy” são as mais pesadas e de melhor assimilação pra headbangers: contêm riffs. Mas certos “contras” pesam mais.

O caso mais gritante é o da música de trabalho, “Killing In the Name”, clássico em qualquer boteco de playboy metido a revoltado, a pior do produto disparada. Ñ apenas por ser um som sub-sub Devo (pelo uso sem critério e irritante dos cowbells), mas tb pela letra, repetitiva de vomitar, e nem um pouco ultrajante, como se poderia supor.

Pois a mesma ñ consta do encarte! Se eram tão revolucionários, por q isto? Concessão à gravadora? Medo? Censura? Certeza do ridículo? Tvz fosse, uma vez q qualquer letra mal feita dum Body Count (q misturou rap com peso de modo, pra mim, mais interessante, mas tvz ñ tenha vingado tanto – muitos negões na banda numa nação de conservadora pra reacionária), dum Garotos Podres ou dum Cólera com cólica é melhor q esse monte de clichê. A outra possibilidade, bastante plausível: puro marketing. Ó só:

Killing In the Name

Some of those that were forces are the same that burn crosses (4x)

Huh!

Killing in the name of (2x)

And now you do what they told ya (11 times)
But now you do what they told ya
Well now you do what they told ya
Those who died are justified, for wearing the badge, they’re the chosen whites
You justify those that died by wearing the badge, they’re the chosen whites (repete duas vezes a estrofe)

Some of those that were forces are the same that bore crosses (4x)

Uggh!

Killing in the name of (2x)

And now you do what they told ya (4 times)
And now you do what they told ya, now you’re under control (7 times)
And now you do what they told ya!
Those who died are justified, for wearing the badge, they’re the chosen whites
You justify those that died by wearing the badge, they’re the chosen whites (repete duas vezes a estrofe)

Come on!

(Guitar solo)

Fuck you, I won’t do what you tell me (16 times)

Motherfucker!

Ugh!

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“Ugh!”, digo eu. Ah, era pra falar de religião? Qualquer Tom Araya dormindo faz melhor q isto. E se os norte-americanos desconhecem black metal escandinavo, é problema deles, ñ nosso…

Outro dado estapafúrdio do encarte é a seguinte menção: “no samples, keyboards or synthesizers used in the making of this recording”. Isto significa “Tom Morello ñ sabe tocar sem usar menos q 2 pedais de efeito”, além de  artifício pra lá de desgastado: o Queen se valeu dele em todos os 70’s (causando estupefação), o Pestilence, no “Spheres” (S.U.P. em jan.04/reprisado em mar.09) e zilhões de outras bandas de thrash, black, death metal ou hardcore já fizeram este tipo de menção, pra angariar respeito e parecerem íntegros, técnicos ou apenas fodões. Vai te catar!

Ainda falando dos músicos envolvidos: percebe-se q ñ são (eram) tão zé ruelas como uma “Killing In the Name” (q no mais, tem um dos piores videoclipes – intencional e pavorosamente tosco – produzidos) faria supor. O trampo da cozinha Timmy C. e Brad Wilk ñ acho nada assombroso, mas é bem pertinente: onde vai um, o outro vai atrás todo o tempo nas músicas. Há muito pouco slap – e pra mim isso é favorável – o q tornaria o FATM um sub-Red Hot Chili Peppers, e nenhuma quebrada do Wilk é assim pavorosa, como certas resenhas de Modern Drummer e Batera & Percussão em certas épocas forçavam crer: tvz pros gringos, pra quem molejo baterístico é jazz, soe fantástico, mas muitas das partes soam como bateria eletrônica (de rap) tocada por humano. Nada assim de revolucionário.

Como “Rage Against the Machine”, q é até um bom disco (ops, produto!) quando considerado o contexto dos sub-Pearl Jam’s q invadiam as rádios e aquele brit pop indolente cheirando a Smiths povoando as paradas de sucesso e as “rádios rock”.

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Supondo a possibilidade de terem sido “caras certos na hora e no lugar certo” (o q nem invalida tanto assim a outra possibilidade), tvz a MÁQUINA os tenha espremido até o caroço quando, após o 3º disco, o tal De La Rocha (vocalistazinho pavoroso, q perde prum Tom Araya com laringite) resolveu “sair fora” sem maiores explicações, pra ir fazer rap. Ao q me consta, já saiu o trampo do cara, e ñ foi pela Sony, q resolveu continuar  rodando a máquina e as cifras na criação do grunge AOR (RATM + grunge + hard arena) Audioslave, q fica aí embalando os revoltados q nasceram ontem – ou há 12 anos – com baladas nem um pouco engajadas em qualquer “rádio rock” da vida.

É pra ouvir som revoltado, ou rap misturado a peso? Melhor ir atrás do Body Count citado, ou do Biohazard. Se for pra ouvir no rádio algo similar sem maiores compromissos, melhor deixar o System Of A Down quando estiver tocando ou ligar pedindo “Scratch the Surface” do Sick Of It All (já q sonhar – ainda – ñ paga imposto)…