O MESSIAS LEPROSO
Ñ é do meu feitio repetir pautas assim tão próximas, mas é uma ainda sobre a Bizz.
Uma entrevista feita com Lars Ulrich antes da passagem de som deles aqui em São Paulo, em 1989, cometida por Celso Pucci, com “colaborações” de Leopoldo Rey e Marcos Campolim, os colunistas metal da revista, q devem ter feito o trabalho duro de inteirar o entrevistador sobre a banda.
Ñ foi a primeira vez do Metallica na revista; em janeiro de 1988 (edição anterior à da Marina – ainda ñ Marina Lima – postada ontem), já tinha rolado uma entrevista telefônica com Lars por ocasião do lançamento do “Garage Days”, na qual ao final ele adiantava q estavam compondo “fazia três semanas” o q viria a ser o “… And Justice For All”. Haviam sido citados tb nalguma matéria em 1987 q citava um “novo metal americano”, q citava Metallica, Slayer, Anthrax e Vixen.
A revista os poria na capa em meados de 1991, por ocasião do iminente lançamento de “Metallica”, e tvz o tenham feito mais vezes à frente, ñ me recordo agora, teria q contabilizar isso.
Por ora, da matéria/entrevista de 4 páginas “Repulsa Ao Thrash”, resolvi copiar por aqui a introdução da entrevista e um trecho com Lars, falando sobre o thrash metal e sobre a sonoridade do Metallica.
32 anos atrás.
intro: “Olhando de perto para Lars Ulrich é difícil acreditar que aquele cara baixinho e de constituição quase franzina seja a estrela rítmica do grupo mais aclamado do novo metal americano, o responsável pelo verdadeiro bate-estaca em que transforma sua bateria empunhando suas baquetas superpesadas. Mais surpreendentes ainda revelam-se sua vivacidade e coerência ao ser entrevistado, com pontos de vista muito bem definidos a respeito das influências e dos rumos musicais do Metallica, além de opiniões pouco ortodoxas em relação aos estereótipos metaleiros (não poupando farpas nem mesmo ao Slayer e ao Anthrax). Sem nenhum dos cacoetes do estrelato, recentemente adquirido pela banda, Lars exala simplicidade. Ele e os outros integrantes do grupo – os guitarristas James Hetfield e Kirk Hammett e o baixista Jason Newsted – por pouco não poderiam ser confundidos com seus próprios roadies (assim como eles, todos de cabelos compridos e roupas pretas).
Foi assim que, em meio à agitação do camarim, pouco antes da última apresentação do grupo no Brasil, Lars concedeu esta entrevista exclusiva para BIZZ. A banda acabava e passar o som às pressas, enquanto as hordas metaleiras já começavam a invadir as dependências do ginásio do Ibirapuera“.
***
trecho:
“E o que você acha do Metallica ser considerado o ‘melhor grupo de thrash metal’ da atualidade?
Thrash?… (com uma expressão de repulsa). Não acho que seja nada disso. Penso que, basicamente, as pessoas estão começando a notar que o Metallica tem muito mais a oferecer musicalmente do que ser apenas uma banda de thrash metal, que afinal é só mais um rótulo colocado por algumas pessoas. Não acho que tenhamos muito a ver com essa coisa de thrash metal. Isso está mais para o Slayer ou o Anthrax; tem a ver com uma mentalidade mais estreita, mais parcial. O Metallica faz um monte de coisas diferentes. É rápido, mas também, às vezes, é suave e melódico, com algumas baladas. Então, tentamos arriscar em vários campos musicais, e penso que conseguimos ser bem-sucedidos. É… sei que você pode dizer que nosso primeiro álbum – Kill’Em All – é composto por este tipo de música, mas acho que, desde então, progredimos muito e nos diversificamos. Quanto a mim, prefiro me afastar destes primeiros tempos. Penso que o som que tínhamos a oferecer ainda era muito limitado.
Como você classificaria a música atual do Metallica?
Hard rock… heavy metal… Metallica music… eu não sei (risos). Olha, eu não gosto de nenhuma dessas categorias porque acho que ninguém realmente sabe o que significam exatamente. Seria estúpido nos enquadrar em algumas delas. Nós temos uma banda que se chama Metallica, as pessoas reúnem-se em bandas para tocar e dão nomes a elas para que o público possa distingui-las. Acho que é suficiente, não são necessárias mais classificações”.
marZ
15 de abril de 2021 @ 08:51
Na bio do Metallica publicada no Brasil (esqueci o autor) ha trechos de entrevistas antigas da banda, mais notadamente dos donos da empresa (James & Lars) e o discurso sempre foi esse: nao queremos nos limitar ao gueto thrash, temos ambicoes maiores.
E assim foi feito. Por mais que a gente que eh fan das antigas se recinta disso, o fato eh que eles acertaram na maioria de suas decisoes artisticas e empresariais. Pelo menos no que diz respeito ao sucesso popular e financeiro da banda e seus managers.
André
15 de abril de 2021 @ 10:43
Arrogantes pra kralho. Cuspindo no prato que comeram. Não à toa eles praticamente cortaram qualquer relação com a cena metal desde então. Do ponto de vista empresarial, foram espertos. Tanto que são o que são. Mas, musicalmente, nada do que eles fizeram ao que eles fizeram nos 4 primeiros discos.
FC
15 de abril de 2021 @ 15:30
Sei lá, acho que eu também cuspiria. Eles sabiam que a empresa Metallica ficaria estagnada se ainda pertencesse ao grupo restrito de fãs de heavy metal, como aconteceu como boa parte dos contemporâneos deles.
Já vi várias entrevistas antigas do Lars se referindo ao Metallica como “hard rock” (claro que o termo aqui é associado a Poison, Motley Crue), numa sacada certeira diante das pretensões empresariais.
Ser chamado de “metal” os deixaria pra sempre ao lado de Slayer, Megadeth e Anthrax, coisa que eles sempre quiseram evitar. Ser chamado de apenas rock ou hard rock os colocariam no balaio de Queen, U2, Led Zeppellin, Nirvana, Pearl Jam, The Who, Rolling Stones. O que em termos financeiro e de longevidade é muito mais negócio.
No mais, que belezinha a Bjork.
André
15 de abril de 2021 @ 16:28
Não critico a ambição. Critico o discurso. “Não somos parte daquilo”. Hoje, é o contrário. Voltaram a ser thrash metal, por mais que eles neguem. Retornaram ao nicho do qual faziam parte. Musicalmente, pois, ainda são mainstream. Mas, percebo uma vontade desde sempre de ser hip, de fazer parte da turminha que você citou (U2 e cia). E, é engraçado a postura reverencial do Lars à essas bandas. Como se o Metallica não estivesse à altura ou não tivesse o mesmo prestígio. Por mais que tenham tentado, não conseguiram se reinventar . Os discos antigos ainda são as principais referências. Guardadas às devidas proporções, não tiveram um Brave New World. Por outro lado, a obra demonstra uma longevidade incrível. Ainda continua atraindo público jovem. St. Anger ficou só como curiosidade antropólogica.
Marco Txuca
15 de abril de 2021 @ 21:07
A postura sempre foi ambivalente assim: relatos de serem “caras normais” e sem estrelismos, ao mesmo tempo em q pra lá de “auto-suficientes”. Até o “Shit Anger”, carregavam esse discurso do “fazemos o q queremos, estamos nem aí”.
Estavam, sim. O tempo todo.
[e no “Shit Anger” tentaram fazer o q estava na moda. Ficou uma merda, mas ñ fechou a lojinha, como quase rolou com o “Maiden Blaze”. Se atualizaram e ganharam a 3ª geração de fãs. Q voltou e revisitou o patrimônio dos 4, 5 primeiros. É “commodities” q chama?]
Uma carreira em grande parte erigida em polêmicas, em declarações sinceras (até hoje: tocaram o black album inteiro, mas ao contrário, pq segundo Lars a galera iria embora logo depois de “Enter Sandman” ahahah), mas sempre muito lúcidas. Cuzões pra caralho, mas quem levou a fama foi o Mustaine.
Q é cuzão pra caralho, mas ñ teve tanta VISÃO. Q acho uma parte da coisa; a visão européia do Lars, pouco dada a imediatismos. Eles galgaram a carreira até o black album sem olhar pra trás. Em “Load” e “Reload” se viram num Olimpo, olhando pros lados. Inspiração em U2 e admiração pelo Oasis.
Vendo num lado favorável, é o lado “líder, ñ seguidor” q os deixou sozinhos. Aí tentaram recuperar alguma credibilidade – claro, no leste europeu – há 10 anos, fazendo o Big Four, com as outras 3 hordas – mas principalmente o Anthrax – aceitando qualquer água de fogo e espelhinho em troca de pau brasil.
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A parte empresarial, já comentei outra vez, ñ falha: Cliff Burnstein, tb dos RCHP desde “Blood Sugar Sex Magic”, do mesmo 1991 de “Metallica”. Q, ao contrário de James e Lars, ralam a bunda a cada biênio, com discos meticulosa e previamente projetados em relação a públicos-alvos. Como o Metallica tb o faz.
Entraram pro seleto time do “irrelevante lançar coisa nova”, mas geram polêmica, reacendem algum sebastianismo e vivem de fazer show com material até “Metallica”.
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Quanto a esse material da Bizz, minha idéia em compartilhar é ver a “visão de fora”, ñ metal, q a revista tinha. E q ñ era elitista em relação ao estilo, muito pelo contrário. A partir dos 90’s, quando Miranda, Barcinski e Forastieri começaram a dar as cartas, o metal começou a aparecer bem mais, mas tb bem mais o preconceito, a parcialidade e algum elitismo por parte dos 3 citados.
Vou achar aqui: na resenha do “Rust In Peace”, o Miranda (quase certeza q foi ele) disse q a banda tinha perdido a graça pq Dave Mustaine tinha parado de usar droga.
“Rust In Peace”, caralho.
Resenha do “Coma Of Souls” (essa, acho q pelo Barcinski) foi na mesma toada. E as oitentistas, de Leopoldo Rey, acho uns primores de síntese. Falando bem ou falando mal, dirigido a quem entendia do assunto, em pouco mais de um parágrafo.
FC – é provavelmente a única foto sexy da Björk
FC
16 de abril de 2021 @ 10:50
Na mesma resenha do Fear of the Dark que citei no outro post, o Barcinski reclama que (licença poética minha) as boas letras sob demônios e sobrenatural agora ficaram chatas porque estão sérias e falando sobre guerra, política etc.
André, quanto à longevidade, também é fruto da estratégia. Não tem pré-adolescente nos shows do Slayer, é sempre a mesma galera das antigas, mas tem no Metallica. A carreira deles é muito mais fácil de passar de geração pra geração. Como U2 e Rolling Stones hehe.
Marco Txuca
16 de abril de 2021 @ 13:56
Esse foco das resenhas parece interessante, FC: Barcinski e Miranda, principalmente, parece q “miravam” aqueles q entendiam como o fã “tradicional” ou “radical” pra fazer a resenha.
Teve fã radical q torceu o nariz pra “Fear Of the Dark”? Até teve, mas ñ tanto assim. A resenha do “Dehumanizer” (Black Sabbath), acho q pelo Miranda, foi numa mesma linha. De tentar descaracterizar, e afirmar q a banda estava tentando fazer grunge.
Putz.
E aí, erravam. Pq ñ expunham a própria opinião sobre o disco e mostravam-se parciais ou ñ conhecedores tanto das bandas.
As resenhas oitentistas eram de quem conhecia o heavy metal e até objetava aspectos de discos ou bandas, mas saíam mais… verdadeiras.
Tiago Rolim
17 de abril de 2021 @ 09:00
Quanto a se vender ou mudar para ganhar mais fãs, a mesma coisa no fim, quem melhor definiu isso foi Lars. Sempre ele. Quando confrontado com as opiniões dos caras do Slayer sobre as mudanças ele disse que pra ele, uma forma de se vender, é justamente NÃO mudar. Ficar sempre no seu mundo( cercadinho do gado lá em Brasília é uma boa imagem p referência), agradando sempre os mesmos para não perder oque já tem.
E tendo a concordar. São formas diferentes se se vender. Uma dita “autenticidade” tamvem é uma boa “commodite” no mercado.
E na boa, o último álbum do Metallica em que eles foram o Metallica mesmo, foi O Load/Reload. Depois foi tentativas é mais tentativas de agradar a gregos e troianos. Tudo bem pensado e quase sempre errando no alvo. Mas, quem liga em dias que vendas não significam mais porra nenhuma?
André
17 de abril de 2021 @ 09:28
Obviamente, o Lars vai defender o cercadinho dele. Mas, o som do Metallica tomou caminhos muito mais palatáveis ao gosto do público médio que o Slayer. Os resultados estão aí pra todo mundo ver.
E, o Slayer mudou, sim. Dentro do espectro sonora pesado, mas, mudou. Os últimos discos denotam uma acomodação musical que, ao meu ver, é mais fruto da “preguiça” dos caras que outra coisa.
O Load/Reload é o exemplo máximo de como o Metallica se moldou ao mainstream do rock tanto no som quanto na imagem. Nada como o discurso de “quebrar barreiras musicais” e “expandir os horizontes” pra justificar uma guinada comercial.
FC
20 de abril de 2021 @ 10:22
Uma dica e uma coincidência, o podcast Discoteca Básica, do Ricardo Alexandre (ex-Bizz), traz nessa semana a história do Black Album.
Ele discute várias coisas que abordamos aqui, o programa está bem legal.
Marco Txuca
20 de abril de 2021 @ 13:27
É daí pra baixo: podcasts trazendo “achados” e “polêmicas” do “black album”, do “Nevermind”, dos “Illusions”. Pessoal tá acordando pros 30 anos desses discos.
André: sim, o Slayer mudou de som, chegando a ficar meio Machine Head no “Diabolous” e flertar com o new metal no “God Hates Us All”.
Mas o Mercado não se interessou, de modo q a mudança ficou restrita ao cânone do thrash metal mesmo. Assim como as tantas mudanças noventistas do Kreator.
Me parece q só o Megadeth conseguiu tirar proveito do estouro de Metallica, e Sepultura um pouco. Várias outras bandas q tentaram (Exodus, Death Angel, Forbidden, Anthrax) ruíram de vez ou demoraram muito pra se refazerem.