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savatage5.

“Edge Of Thorns”, Savatage, 1993, Edel/Concrete

sons: EDGE OF THORNS * / HE CARVES HIS STONE * / LIGHTS OUT / SKRAGGY’S TOMB / LABYRINTHS* / FOLLOW ME / EXIT MUSIC / DEGREES OF SANITY* / CONVERSATION PIECE * / ALL THAT I BLEED / DAMIEN * / MILES AWAY * / SLEEP / acoustic bonus track: BELIEVE

“formação”: Criss Oliva (guitars), Zachary Stevens (vocals), Johnny Lee Middleton (bass), Steve Wacholz (drums)

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E eis q após muito tempo (alguns anos), me vejo às voltas com o Savatage e este “Edge Of Thorns”. E munido da sensação de redescoberta suficiente para afirmar: trata-se do melhor álbum dos floridenses.

Q é algo q digo sem tanto conhecimento de causa: pois apesar de ter um monte de coisas deles  (maioria em fita cassete) – e q surpresa constatar eu ñ ter, dos inéditos, apenas “Power Of the Night”, “Fight For the Rock”, “Dead Winter Dead” e o derradeiro “Poets And Madmen” – a verdade é q eu ponho pra ouvir só este, “Gutter Ballet” e o “Handful Of Rain” com freqüência. Mesmo o “Streets” (q tenho no hd e acho sonolento) e “The Wake Of Magellan”, ouço muito pouco.

Só q afirmo com autoridade de ouvinte e de gosto (discutível, claro. Afinal isto é um blog): “Edge Of Thorns” acho o melhor pq acho o mais EQUILIBRADO. O mais pesado tb, e melhor produzido (apesar do som da bateria meio esquisito aqui e ali). E o q é tb um tanto mais acessível, só q sem q se sinta terem querido “abrir as pernas”. E com baladas, poucas, q ñ enchem o saco: nada melancólicas – o álbum como um todo é bem “pra cima” – ou melosas. E o único q ouço de cabo a rabo sem pular faixa.

Ah, mas os caras já eram pesados (true?) antes de“Gutter Ballet”. Sim. Mas meio mal-gravados e algo sem direção. Nunca decididos, aparentemente, entre fazer hard rock ou heavy metal ou heavy rock ou sei lá o quê. Aí melhoraram no “Hall Of the Mountain King” e suavizaram um tanto no citado “Gutter Ballet” e mais ainda no “Streets”. No “Edge Of Thorns” parece q jogaram pra ganhar e acertaram.

Pois há o Savatage antigo aqui melhor gravado, há o Savatage da mudança (teclados e guitarras limpas), e há sobretudo o Zak Stevens em sua estréia na banda, cujo mérito ñ pode ser omitido, devido à voz mais agressiva e mais em tons médios q a por vezes demasiado estridente do Jon Azeitona, presente meio nas entrelinhas (ñ tem história de q se ele constasse no encarte deste e no do “Handful Of Rain” ele seria processado por ex-empresário ou coisa do tipo?) do encarte, porém onipresente nas composições e teclados, pouco afetados e sempre adequados. Neste aqui, ainda mais.

O irônico é haver sido o último álbum com o irmão Criss Oliva, o maior destaque: riffs densos e agudos (“He Carves His Stone” é vertiginosa e opressiva, no bom sentido!), palhetadas intrépidas, overdubs inspirados, solos alternando shreddices e melodismos (o da faixa-título, memorável em suas 3 partes, me remete – conceitualmente – ao Eddie Van Halen e seus solos ‘contando história’) e até passagens leves (guitarra limpa e de violão) muitíssimo bem dosadas. Pra quem é mais esotérico, pensa-se ter sido este o DISCO DA VIDA dele de fato, pq acabaria morrendo mesmo: a quem ñ o é – e a tanto órfão q ficou – sobra especular infinitamente acerca do patamar comercial e artístico q a banda teria atingido nos álbuns seguintes. Supondo, claro, q ele continuasse no Savatage e q a banda aprimorasse ainda mais a condição sonora alçada aqui, q envolveu guitarras em 1º plano sobretudo.

E fazendo-se a omissão imaginária do fator “péssima administração e management” de q sempre padeceram. Ñ a toa, o tal Trans-Siberian Orchestra – praticamente a mesma banda, com outro nome e viés escancaradamente mais comercial – o Circle II Circle e o projeto solo Jon Oliva’s Pain terem tomado o lugar do q era uma banda só… E q sempre beirou o “lugar ao Sol”, a despeito deste “Edge Of Thorns”.

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Passo aos sons:

“Edge Of Thorns” aprimora “Gutter Ballet”, o som, na mescla muitíssimo bem dosada entre peso e melodia: teclado marcante (o riff principal) e guitarra (o peso essencial). “He Carves His Stone”, o melhor som do álbum – e, pra mim, do Savatage – tem o vocal mais agressivo de Zak, além do único momento falsete, q o mérito é ñ constranger tanto quem ouve, além duma levada baterística, q como a da “Lights Out” seguinte, e em outras várias, equilibra bem as coisas, sendo mais puxada ao hard rock básico, q outros bateristas q ñ o bom Wacholz possivelmente firulariam mais (com pedal duplo e viradas mil) e tvz as poluíssem indevidamente.

“Lights Out” poderia ter tocado no rádio, sei lá: acho o refrão bem propício a q isso se desse; “Skraggy’s Tomb” tem algo no início – meio uma ambiência de guitarra limpa e teclado – q me faria indicá-la, e ao álbum, a fãs de Rhapsody ou bandas épicas do tipo: um som épico sóbrio, se é q isso existe. “Follow Me” (com uma base de solo guitarrístico meio “Stairway to Heaven”. Ñ?) – do outro grande momento vocal de Zak, em partes berradas quase (eu disse “quase”) Mike Patton –  e “Miles Away” me passam tb essa ambiência, q ñ consigo explicar muito. Lembrava de apreciar “Skraggy’s…” e “Degrees Of Sanity” pelo q me pareciam ter de chupim de “Jacob’s Ladder” do Rush, mas é impressão q se desfez em mim. Sem q eu deixasse de curti-las.

“Miles Away” tem algo q me lembra o Rush setentista, mas q tb é um tanto Led Zeppelin (afinal, o trio bebeu muito dessa fonte em seu início), aliando refrão acessibilíssimo e intermitências hard (o pré-refrão, com base + viradas de caixa, é marcante, fora interessante, diverso) no outro som daqui q o potencial comercial ñ se deu. Um Megadeth, Queensrÿche ou Whitesnake (forçando a barra, claro, na viagem improvável) q a registrasse teria perpetrado hit infalível.

Duas são as instrumentais: “Labyrinths”, q se pode afirmar ser continuação aprimorada de “Gutter Ballet” (mais teclado q ñ enjoa, aliado a guitarra bem colocada) e é bem música “de passagem”, curtinha, além de “Exit Music”, maior e mais complexa e tb nada enjoativa. E parecendo material do “Streets”, q colocada em meio aos demais sons daqui ficou mais valorizada.

“All That I Bleed” é o som q mais remete a “Gutter Ballet”, sendo a outra (fora as instrumentais) com maior ênfase do piano. E a única balada de fato, sem deméritos, daquelas pungentes de se vibrar em show. “Degrees Of Sanity” tem veia levemente progressiva – indico-a a fãs de Dream Theater – na guitarra, com passagem algo dissonante q ñ me ocorre encontrar o q se parece. (“Entre Nous”, tb do Rush, me ocorre, mas sei lá). O solo é duma fritação bem colocada: nada exagerada nem demorada, como no todo do álbum. “Sleep”, ao final, é a versão balada com guitarra limpa – ou violão? – predominando, sem bateria. Delicada e bem feitinha: nada de acordes soltos de violão pra encher lingüiça, em som pra ouvir com a namorada tomando vinho. Assim como “Believe”, bônus especial pros fãs mais devotos, e tb acústica, q ñ chega a destoar no material (mesmo sendo do “Streets”), e q tvz sirva pra hora de lavar os copos (de requeijão) juntinho ahah

Porém, outros destaques q faço – além da faixa-título e de “He Carves His  Stone” – são as mais pesadas tais quais “Conversation Piece” e “Damien”, destoantes dos sons mais “acessíveis” citados há 3 e 4 parágrafos pq dotadas de cavalgadas guitarrísticas (mais no sentido “Heaven And Hell” do q do Iron Maiden do termo); a 1ª com refrão pouco óbvio (nada daquilo de se repetir o título só) e pra cantar junto, de riff principal repleto de breques baterísticos conjuntos, algo incomum na banda. A 2ª, auxiliada por teclados mais evidentes, tem riff com mais bend (mais marcante), remetendo a “Jesus Saves” (“Streets”), mas com mais pegada e apelo. E jeitão de música de filme.

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Querem saber? “Edge Of Thorns” ñ é disco de thrash (nem nunca seria. O Savatage nunca foi disso), nem disco comercial (embora pudesse ter sido melhor divulgado pela gravadora. A Atlantic os lançava, mas nunca os promoveu direito. Tal como o Testament), tampouco disco a ser lançado em “melhor mixagem” pra se jogar no Guitar Hero.

E embora nem seja tb o mais obscuro da banda – modus operandi costumeiro em resenhas no Thrash Com H, desta feita escanteado – em minha opinião, é ‘O’ álbum do Savatage a se ter, em caso de se querer um mais abrangente e ñ se apreciar coletâneas e/ou precisar adquirir outro. Para quem, obviamente, ainda tem gosto por ouvir álbuns enquanto seqüência de canções duma mesma formação e época, hábito dos mais obsoletos, quiçá reacionário, mas ainda bastante gratificante, como com ele.

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CATA PIOLHO CLXXVI – eu já devia ter me acostumado, mas ainda rola: quando, no “The Devil You Know”, do Heaven & Hell, começa “Follow the Tears”, fico na dúvida ali nos 15 segundos iniciais, se ñ pus pra tocar por engano o “Sacrifice”, do Motörhead, na “Over Your Shoulder”…