“PEGANDO PESADO”

Salvo engano, foi em dezembro de 1987 ou janeiro de 1988 q li, na finada Bizz, uma iniciativa assim. De juntar figuras ilustres do rock brasileiro (João Gordo incluído) pra discutir os estilos, o potencial comercial, as gravadoras etc.

2012 chegou e acho VEXATÓRIO q nenhuma publicação da “nossa” “imprensa” metálica jamais tenha articulado o q a Modern Drummer Brasil fez na edição de janeiro último (comprada semana passada): juntou 7 bateristas iminentes do metal brasileiro pruma mesa-redonda, geradora de densa matéria de capa de 12 páginas.

Da qual copio aqui alguns momentos, limados os hermetismos mas ñ as pérolas, a meu ver bastante reveladores, pra discussão e deleite.

Satisfação adicional de ver um velho conhecido, Vlad Rocha, colaborador há tempos da revista, entre os articuladores da conversa – o outro é um certo Christiano Rocha. Ñ te pedi autorização, mas tô copiando, Vlad!!

DEBATEDORES REUNIDOS:

  • Aquiles Priester [ex-Franga (q ele ñ gosta de citar, hum?) ex-quase-Dream Theater, Hangar, Vinnie Moore e montes de bandinhas imaginárias]
  • Elóy Casagrande [novo queridinho. Moleque q tocava com André Chatos até outro dia, tocou no Glória no Rock In Rio e deu em nada, agora militando no Sepultura]
  • Fernando Schaefer [ex-Korzus, Rodox e Endrah, Pavilhão 9, The Silence e Treta]
  • Jean Dolabella [ex-Udora e Sepultura, Indireto]
  • Ricardo Confessori [ex-Korzus, ex e atual Franga, ex e atual Shamerda, ex-Shaaamerda]
  • Rodrigo Oliveira [ex-Carrascos, Korzus]
  • Max Kolesne [Krisiun]

I. ÍDOLOS

Vlad perguntou: “A maioria dos grandes nomes da bateria do metal brasileiro está aqui, mas e os gringos? Quem são ‘os caras do metal?

Rodrigo Oliveira: Dave Lombardo.

Dolabella: Dave Lombardo, Vinnie Paul, tem tantos…

Aquiles: Tommy Aldridge.

Max: Pete Sandoval.

Rodrigo: Deen Castronovo.

Max: Derek Roddy, Nicko McBrain – um cara que usa um pedal só de forma extraordinária.

Aquiles: Scott Travis.

(…)

II. METAL ATUAL

Vlad perguntou: “Como anda o metal atualmente?”

Aquiles: Acho que o cenário está bom para as bandas de fora. O dólar baixou e todos vêm tocar aqui. O Rush demorou a vir ao Brasil e teve o maior público deles. Iron Maiden também teve seu maior público em 2009, em um show individual da banda. A cena de metal existe no Brasil, mas infelizmente não para as bandas brasileiras. Falta o brasileiro entender que para a cena ser forte e para que nossa música seja respeitada, é preciso dar mais apoio às bandas que estão aqui.

Dolabella: Isso é um problema sério em tudo. Existe muita diferença no tratamento do povo brasileiro com alguém que é de fora. Só pelo cara ser gringo, nossa… ‘É gringo, então é bom demais’. Enquanto não houver uma virada nesse pensamento, será difícil.

Max: Mas acho que o Brasil tem um público fiel, independente do que está na moda. Tem esse lado também, de as pessoas acompanharem determinada banda em diversos locais. Mas, claro, isso não vale para a grande massa.

Rodrigo: Mas mesmo fora do mainstream. Na Europa você vê bandas que tocam para 100 pessoas e quando vêm ao Brasil, tocam pra 1500. As bandas não são nada lá, mas aqui são endeusadas.

Aquiles: E muitas vezes as bandas vêm com playbacks. Ja vi casos em que a voz já estava rolando e o vocalista nem estava no palco ainda. De um tempo para cá o metal ficu muito pasteurizado. Você ouve um disco e fala: ‘Isso aqui é muito legal, mas preciso ver ao vivo’.

III. MÚSICO BRASILEIRO

Vlad perguntou: “O aeroporto ainda é a melhor saída para o músico brasileiro ou não é bem assim?”

Confessori: No sentido de sair para trabalhar, ganhar em dólar, é uma boa saída. Mas sair e voltar.

Max: Primeiro o cara tem que conhecer bastante o Brasil, fazer um público e depois pensar lá fora. Acho que tem gente que põe a carroça na frente dos bois. Tem banda que fez meia dúzia de shows aqui e já está pensando em tocar no exterior.

Confessori: Trabalhar fora é muito mais organizado. Você tem horário para passar som, para entrar no palco, para acabar. Aqui muitas vezes isso não funciona. Então você gosta do jeito que se trabalha lá e queria que aqui fosse assim. E não funciona. Às vezes você vai tocar em alguns lugares no Brasil e já pensa que ‘ih, lá é crítico, hein?’. A verdade é que a Europa, o Japão e os EUA são lugares que funcionam.

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IV. BARREIRAS (BUROCRÁTICAS) NO EXTERIOR

Vlad perguntou: “Quais são as maiores barreiras para o músico brasileiro se dar bem lá fora?”

Aquiles: Eu me ferrei para conseguir o visto para fazer o teste com o Dream Theater. A banda mandou 3 ou 4 cartas recomendando, mas mesmo assim foi difícil.

Dolabella: Isso porque mandaram uma carta…

Aquiles: Eu tive que sair de São Paulo e ir ao Recife conseguir o visto. Entrei em uma fila de espera enorme. O tempo acabando e eu me preocupando com isso. Em vez de ficar praticando, tinha de resolver isso.

Schaefer: Para conseguir o visto de artista tem um detalhe. Se você fala que é um baterista brasileiro de metal, que pode tomar o lugar de um baterista americano de metal, eles fazem jogo duro. Você precisa dizer que é um baterista brasileiro que vai lá tocar samba e mostrar a sua cultura.

Max: Para o visto de trabalho, tem também o lance da petição. A agência que contrata os shows do Krisiun envia uma petição, informando que a banda ficará por determinado tempo lá. Isso facilita um pouco.

(…)

Dolabella: Para quem não toca em uma banda conhecida e está saindo para tentar a vida lá fora, acho importante falar que quando fui para lá, em 2001, com minha banda e morei 5 anos em Los Angeles, fui com essa idéia de morar em uma van e ter um subemprego. Uma coisa muito perigosa é o lance do consumismo. Ele te engole. (…) Você chega lá e arruma um subemprego. Aí ganha uma grana e compra um computador. Só que aí você já pensa sobre a banda e diz: ‘Ah, vamos ensaiar só na 4ª’, e o tempo vai passando (…) Então você passou do limite, comprou tudo o que quer, mas não consegue fazer nada com a banda. Fica o tempo todo trabalhando e já não tem cabeça para chegar em casa e pensar em fazer um som com a banda. Isso é algo que deve ser levado em consideração para quem está pensando em ir. Não caia nessa. Quando for sair, vá com um objetivo bem definido na cabeça. Porque se a coisa começar a desandar, melhor vir embora antes de cair no limbo.

V. RETORNO/MONITORAMENTO/SE OUVIR, OUVIR A BANDA

Vlad pondera e pergunta: “A idéia desse encontro também é mostrar como funciona o dia a dia de vocês. As pessoas podem pensar muita coisa que não é. E, mudando um pouco de assunto, como vocês fazem o monitoramento?”

Rodrigo: Uso in-ear e monitor, porque se “der pau” no meio do show, o monitor segura. Quem me ensinou isso foi o Aquiles. Ele perguntou se eu era louco de usar só in-ear. Teve um show que fiz no Centro Cultural e, no meio dele, falhou um lado, e na outra música falhou o outro. A casa caiu. Fiz o show lembrando como eram as músicas. Depois disso comecei a usar in-ear e monitor.

Dolabella: Comecei a usar in-ear ano passado e fiz uma turnê de 5 meses seguidos. Usei aquele com o molde do ouvido, que você manda fazer. Gostei muito, mas chegou uma hora em que comecei a ficar meio cismado. O in-ear deixa tudo muito limpo, mas para tocar metal, pelo menos para mim, fica faltando algo. Meu maior problema é que não queria ficar surdo, pois é o que estava acontecendo. Você já toca alto, a banda toca alto e o monitor está alto. Isso em uma seqüência de 20 shows sem parar. Uma hora eu ia ficar surdo. Por isso me forcei a usar o in-ear, mas não consegui me acostumar (…) voltei para o monitor e usei uma proteção auricular, com o mesmo molde do in-ear. É um protetor de ouvido com um filtro de som que diminui as freqüências. Ele só abaixa o volume e não veda tudo.

Aquiles: Uso subgrave, caixa de 3 vias mais o fone. Sempre peço para o técnico me mandar um canal com os 2 bumbos e todos os tons e surdos. Não peço caixa nem over. Meu fone é in-ear, mas não é feito com molde. Então ele vaza um pouquinho.

Christiano Rocha – “Mas no monitor tem baixo, guitarra…”

Aquiles: Não. Só a bateria. Escuto o resto do palco. Não coloco nem voz principal.

Rodrigo: No show peço guitarra e voz, mas baixo não. Ele já sobra no palco. No estúdio só escuto o metrônomo.

Christiano Rocha  – “Você decora a música e grava.”

Rodrigo: Sim.

Schaefer: Mas quando a composição é mais elaborada, tem mudança de andamento, é embaçado tocar sozinho.

Rodrigo: Mas já faço os mapas do metrônomo antes. No estúdio não quero ouvir nada.

Schaefer: Eu uso “monitorzão” mesmo e protetor de ouvido. Procuro alertar os bateras de que usar proteção é primordial.

Elóy: Sempre toco ao vivo com metrônomo. Uso in-ear só com o metrônomo e o resto no monitor.

(…)

Max: Sou old-school. Uso monitor normal, com bastante bumbo, guitarra, voz e um pouco de baixo, dependendo da situação. Uso protetor de ouvido daqueles de farmácia mesmo.

(…)