SERVIÇO DE UTILIDADE PÚBLICA THRASH COM H

“Shovel Headed Tour Machine”, Exodus, 2010, Nuclear Blast/Laser Company

sons do dvd 1 e cd: BONDED BY BLOOD / ICONOCLASM / FUNERAL HYMN / A LESSON IN VIOLENCE / CHILDREN OF A WORTHLESS GOD / PIRANHA / DEATHAMPHETAMINE / BLACKLIST / WAR IS MY SHEPHERD / STRIKE OF THE BEAST / SHOVEL HEADED KILL MACHINE

dvd 2 contém documentário “Assorted Atrocities” e montes de extras, q incluem fotos, videoclipes (“Riot Act”, “Now Thy Death Day Come” e “Problems”), entrevista pra rádio em 1985, cenas q sobraram do documentário, dublagem de “Metalocalypse” e variados sons ao vivo, registrados em shows avulsos

formação: Gary Holt (guitarra, backing vocals), Tom Hunting (bateria), Rob Dukes (vocais), Jack Gibson (baixo, backing vocals), Lee Altus (guitarra)

Isto aqui é um colosso. É um petardo. Um arregaço. Um material em q “sangue nos olhos” e “vontade de matar” há de sobra. E ñ sobra pra ninguém: meses atrás, resenhando o show do Exodus por aqui, opinava da INJUSTIÇA de ñ os terem incluído no Big Four. Em vez do Anthrax. Razões mercadológicas à parte, cheguei à seguinte conclusão: o Exodus ñ entrou pro circo ñ por medo do Kirk Hammett ver q o Metallica lhes roubou o guitarrista errado, ou pq o Exodus sempre foi mau vendedor de discos. O Exodus ñ entrou pro Big Four pq simplesmente arregaçaria todas as bandas ali. Sem a menor piedade.

Ñ teria pra show de golfinho em Miami, q é o show do Metallica atual. E por mais q me doa professar uma heresia dessas em relação ao Slayer.

Infelizmente, a embalagem do produto “Shovel Headed Tour Machine” na versão nacional é algo q quase põe a perder a imensidão e truculência aqui contidas. Pois embora o filé – no dvd 1 e no cd do mesmo – seja o show deles no Wacken em 2008 (na turnê do “The Atrocity Exhibition – Exhibit A”, e ñ na do “Shovel Headed Kill Machine”, o q é confusão outra, provavelmente da banda em ñ querer perder o bom trocadilho), há muito mais por aqui.

Vc vai a uma loja atrás disto. Encontrará 2 cd’s embalados num papel qualquer (a capa tb é simplória demais) à guisa de capa, com textos em contracapa falando dum documentário meio como fosse um reles extra da bagaça. Será econômico lançar o kit dvd duplo + cd desse modo tacanho? Contando com encartes risíveis e reduntantes, além disso? E com a 1ª caixinha contendo discos 1 e 3 (dvd’s), e a 2ª contendo o disco 2 (cd)?… Piada de português é a mãe.

embalagem gringa

O documentário é muito foda. Quase DUAS HORAS de material relevante, co-produzido por Rob Dukes e sua handcam, com histórico apurado (mas ñ naftalínico, nem a maior ênfase), entrevistas, tirações de sarro a granel (Gary Holt flagrado usando creme anti-rugas é uma delas), picuinhas sudoríparas, bigodes pornô, pacto de sangue, referências a ex integrantes (impagáveis os referentes ao “mito” Paul Baloff, devidamente – ops! – dissecado), violinista japonesa fritando com eles em show (!!) e revelações genuínas acerca do relacionamento entre eles: impressão dum bando de xaropes (vide trote em Nick Barker) q se divertem pacas em turnê, ao invés de perfis simpáticos/adestrados montados por assessoria de imprensa ou gravadora. Exemplo: o “russo” – na verdade, ucraniano – Lee Altus, mais contido nas apresentações, é um dos mais engraçados.

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Ñ bastasse tudo isso (e pareceu bem mais interessante q o documentário à tôa do Hypocrisy – recado ao amigo Jairo), em meio aos “extras” desse 2º dvd ainda existem 20 minutos de cenas q ñ entraram na edição final. Outro menu inclui dezena de sons ñ constantes do show principal, filmados pela Ásia, Austrália e EUA em condições precárias de imagem. Mas ñ de áudio. “The Toxic Waltz”, “No Love”, “Brain Dead”, “I Am Abomination”, “Fabulous Disaster”, “Seeds Of Hate”, “Scar Spangled Banner”, “Raze”, “Altered Boy” e “Guitar Boy”, um improvável duelo shredder entre Holt, Altus e um finlandês fritador de nome estranho; com direito ainda a fritações de Rob Dukes e Jack Gibson, tirando sarro. Impagável.

Ah, e todos os sons em toda parte entoados pelo pitbull Rob Dukes. Nada de saudosismo de Baloff ou de Steve Souza. Dukes q me é o destaque em geral: o vocalista certo pra banda. Perfeito mesmo. Saudosismos de Baloff ou Souza à parte. À parte algumas falas redneck yankee – fora a bermudinha Axl Rose – ao longo do show principal (condenadas por Gary Holt no documentário, quando ao mesmo tempo admite q ficar podando o sujeito o faria ser menos ‘ele mesmo’). À parte o tanto q assoou o nariz – nem um pouco disfarçado pela edição – ao longo do mesmo ahah

Ñ dá, afinal, pra condenar um cara q agita sociopaticamente o show inteiro e ainda orquestra a roda em “Strike Of the Beast”, provavelmente um dos momentos mais memoráveis no heavy metal, mesmo admitindo ter roubado a idéia do Lamb Of God (foda-se! Quem é Lamb Of God??). Ou ir contra sujeito q alia (falsa) tosqueira e carisma com versatilidade a toda prova: berra pra caralho, e quando tem q cantar melodicamente – vide “Children Of A Worthless God” – manda com total propriedade. E q consta ter sido antes de entrar pra banda apenas mais um roadie de relativa circulação.

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=6bJWbtB8-Co[/youtube]

O instrumental e a mixagem (Andy Sneap!) são covardia. Rick Hunolt? Passado. Lee Altus forma dupla insana com Gary Holt, o insano-mor. Percebam atentamente “Children Of A Worthless God”. Bateria a cargo de Tom Hunting chega às raias da humilhação: outro dia, em post sobre “Force Of Habit”, se discutia dos piores álbuns do Exodus… cheguei à conclusão óbvia/evidente de q os piores da banda são os q ñ o incluem, q toca como estando num mundo à parte. Merecedor de comentário reverente de Paul Bostaph nalguma parte do documentário. E q gera, como Dave Lombardo no Slayer, aquela impressão do resto da banda ñ precisar olhar pra trás. Ninguém olha pra trás. Atrás tem CHÃO.

Visível ainda é o quanto os caras ganharam o público no decorrer da apresentação: claro q já de início há muito xarope abrindo roda e se descabelando, mas ao longo se vê a platéia hipnotizada, bradando o nome dos caras em uníssono e até mesmo umas garotas se arriscando no tal crowd surfing… nada mal prum gênero q jamais primou pela mulherada curtindo.

Os sons antigos, intercalados cirurgicamente em meio aos recentes, prefiro nas versões ensandecidas do “Another Lesson In Violence”, pra mim o maior álbum ao vivo de thrash metal registrado, mas ñ estão menores ou executados de qualquer jeito. Muito pelo contrário.

Os sons novos (sobretudo “Iconoclasm”, “Funeral Hymn” e “Deathamphetamine”), me cansam um pouco às vezes. Longos um pouco além da conta – 7 minutos, 8 minutos – e por vezes emendados um no outro, ainda q soem coerentes na evolução da banda (já constavam timidamente em “Pleasures Of the Flesh” e no “Force Of Habit”). Demandam atenção e cuidado em ouvir. Ñ dá pra curtir fazendo outra coisa, como os sons antigos, já conhecidos e manjados.

E têm q constar do set: o Exodus ñ é saudosista, é das raras bandas q perpetua a identidade sonora, sem quererem “estourar” ou “reinventar” o thrash metal. Co-inventaram a bagaça e continuam coerentemente metamorfoseando o paradigma, ponto.

E justamente por essa condição de protagonismo no thrash metal q me soa inacreditável algo como “Shovel Headed Tour Machine” ter saído só em 2010, com tudo o q ele inclui e representa: os sons, os extras e o documentário – curiosamente capitaneado por um novato – simplesmente inventariam tudo o q o Exodus foi e continua sendo na história do heavy metal, o q a parca e precária videografia deles (vide “Live At the DNA”, filmado com uma so câmera, ou o necrófilo “Double Live Dynamo!”) ñ fazia jus até hoje. Putz.

Em suma: comprem esta porra. É muito foda.

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CATA PIOLHO CCX – similitude capística improvável:

“Forçando A Barra”, Golpe de Estado (1988)

“Cowboys From Hell”, Pantera (1990)