S.U.P.

livro

“Meninos Em Fúria – E o Som Que Mudou a Música Para Sempre”, Marcelo Rubens Paiva & Clemente Tadeu Nascimento, 224 pp., 2016, Alfaguara/Editora Schwarcz

O release da contracapa entrega, sem estragar: “livro que se lê como um romance, mas onde tudo é estritamente real”. Pura verdade.

Embora inicie confuso: é Marcelo Rubens Paiva falando de si, daí Clemente falando de si tb, e tudo se mistura? Mais ou menos. Rubens Paiva é o autor-mor, descreve a si próprio nos anos 80 e tb fez a biografia de Clemente, líder ñ autoritário e icônico do Inocentes, banda punk ainda ativa. E ñ tão incensada como deveria – por q ñ acabaram?

É como uma autobiografia entrecruzada, na medida em q ambos são/foram personagens de situações idênticas. E essa achei a graça do livro, q li numa tacada só. (Comprei quinta à tarde). Inicia com Rubens Paiva espectador de show da banda na PUC-SP em 1981, passa por situações em q participaram, ambos, às vezes sem q um soubesse do outro, o q inclui um xavecar namorada do outro (sem saber) e vivências tantas, sempre de pontos de vista opostos: o de Rubens Paiva, burguês maconheiro trotskista uspiano; o de Clemente, criado na periferia, lapidado em tretas e anarquista.

Tem defeitos? O maior, comum em biografias musicais q tenho lido nos últimos anos: chegando a anos recentes, o detalhismo se perde. Exemplo: as histórias são bem contadas até o início dos 90’s. Dali pra hoje, é menos de um terço do livro. Mas tudo bem.

Achei q faltaram maiores descrições de integrantes da banda, sobretudo Ronaldo, guitarrista comparsa desde os 80’s. Mas é biografia de Clemente, tudo bem. Falando mais dos pais, da criação, dos casamentos e dos filhos. Faltou falar mais da Plebe Rude, onde Clemente atualmente milita (vegeta?), mas beleza. Faltou Rubens Paiva falar de seu tempo como apresentador no “Fanzine”, programa noventista da tv Cultura daqui. Ok.

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Ao mesmo tempo, sobram comentários políticos e posicionamentos ideológicos (esquerdistas), com direito a pessoas até hj presentes na mídia, como Astrid Fontenelle, Regina Casé, Evandro Mesquita, William Bonner (ñ sabia q era uspiano), Alex Atala, Fernando Meirelles, João Gordo (como ñ?), Frejat, Marcelo Nova e editores e colunistas da Bizz e da Folha de S.Paulo (quase todos uspianos trotskistas ou anarquistas), em livro q se complementa ao de Ricardo Alexandre sobre os anos 80 do rock brasileiro, “Dias De Luta”. E q tornam este “Meninos Em Fúria” contra-indicado – ou até, por isso mesmo, INDICADO – àquele amigo coxinha q mistura PT com comunismo ou q brada “Bolsomito 2018” no Facebook.

Periga desagradar mais q agregar, mas a gente faz o q dá…

Maior parte dos capítulos é intitulada com sons/versos do Inocentes. Melhores partes, as q entregam os perrengues duma cena punk equivocada, as várias bandas, as intrigas (curti a zoeira pra cima do Nasi e do Ira!, q pararam de se intitular “banda punk” e viraram “mods“), relacionamentos e episódios já até conhecidos por quem viu documentários como o “Botinada” e “O Fim do Mundo, Enfim” (materiais complementares tanto quanto), o da cena/bar/selo Lira Paulistana e ainda o outro sobre o Napalm, bar lendário de brevíssima existência, onde Clemente trabalhou como segurança (!) e Gordo, no caixa (!!).

Da fração autobiográfica de Rubens Paiva, relatos do sucesso precoce e deslumbramento subseqüente com o primeiro livro, “Feliz Ano Velho”, de uso de drogas adoidado e inexperiência com a mídia e relações públicas. Curioso q ambos, Rubens Paiva e Clemente, 57 e 53 anos em 2016, trabalhem em rádios atualmente, 89fm e Kiss Fm, de estúdios em mesmo prédio da rua Augusta. E q, ainda q vindos de meios sociais opostos, tivessem – e tenham ainda – posicionamentos políticos semelhantes.

No q os relatos de Rubens Paiva sobre a Ditadura Militar – q tem cabedal tremendo pra escrever, já q teve o pai assassinado e desmembrado pelos militares – se mostram precisos e estarrecedores, fazendo mais do q apenas contextualizar as memórias: pois nada daquilo acabou. Poucos morreram: percebem-se os mesmos nomes, tb da política, perambulando até hoje. Dizendo-se solução até hoje. Puta merda.

No fim, pra mim: grande sacada a da biografia entrecruzada. O livro flui e é bem escrito. Entrega mais do q apenas entretenimento. Faltam fotos tb, mas deixa quieto.

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CATA PIOLHO CCLIV – onde estavam os caras do Testament quando o Anthrax lançou “State Of Euphoria”? Provavelmente tocando ou gravando, sem ouvir o álbum dos colegas – e, pelo jeito, nunca o tendo ouvido – caso contrário teriam sacado q roubaram de “Be All, End All” em “For the Glory Of…”

Será por isso q ñ entraram no Big Four? eheh