CRÍTICA TARDIA

por märZ

O Viper ocupou durante um tempo o posto de segunda banda de metal mais bem sucedida do Brasil, em um cenário onde o que não faltavam eram candidatos. E isso se manteve após a saída de André Matos, com o bom “Evolution”, de 1992.

Com André, se foram as tendências neo-clássicas da banda e Pit Pasarel passa a ser o principal compositor, imprimindo uma pegada mais crua, mas ainda com ótimos ganchos e refrãos. Com a incapacidade de reproduzir as partes vocais de seu cantor original, a banda basicamente muda de estilo, concentra-se no novo material e vira outra coisa. Que funciona muito bem dessa maneira. Excursionam pelo mundo todo, fazem o protocolar “sucesso no Japão” e firmam seu espaço.

E aí vem a hora do segundo álbum dessa “nova banda”. Nesse ponto, confesso que parei, nem lembro o motivo. Mas o fato é que nunca cheguei a comprar ou ouvir “Coma Rage”, só o fazendo por conta do lançamento remasterizado recente. Terminei a audição há pouco e já abri o laptop pra escrever isto, antes que o impacto desapareça.

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Não tenho como saber o que passava na cabeça desses então jovens na casa de seus vinte e poucos anos, mas julgando somente pelo que gravaram, acho que se cansaram de uma vez por todas daquele estilo de metal com que eram rotulados, o famigerado power metal/metal melódico.

Era 1994, Sepultura e Pantera estavam estourados. O grunge era ainda muito popular por aqui. Danzig, Prong, Ministry, Paradise Lost, Helmet, Fight, também. Continuassem na linha do “Evolution”, teriam seu espaço garantido. Mas não foi o que optaram fazer.

Se a produção do álbum anterior tinha ficado a cargo de Charlie Bauerfeind, famoso por ter a mão boa com bandas com DNA ‘helloweenístico’, o produtor escolhido para o novo álbum deixava claro a direção escolhida: Bill Metoyer, o homem por trás da mesa de som de quase todo mundo na Metal Blade Records. Alguns de seus clientes mais famosos: Slayer, Sadus, Morbid Angel, C.O.C., Dark Angel, Sacred Reich, Flotsam & Jetsam, Trouble e muitos mais (a lista com produções suas no Wikipedia é assustadora).

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“Coma Rage” é rápido, pesado, agressivo às vezes, e pouco ou nada tem que lembre remotamente o Viper original. É, realmente, outra banda. Mas uma banda que, se havia achado um espaço confortável e funcional em “Evolution”, nesse atolou na lama. A produção de Metoyer deixou tudo grosso, pastoso, direto e sem muito espaço pra melodias e ganchos, algo que Pit sabia compor tão bem.

E o curioso nessa edição em CD é a presença das demos que haviam gravado e autoproduzido, a fim de apresentar a idéia ao produtor gringo: são basicamente idênticas ao produto final.

Ou seja, a mudança foi consciente e não fruto da concepção de Bill Metoyer. Fica a impressão que tentaram ser o que não era nem nunca conseguiriam ser. Não agradou e foram perdendo popularidade aqui e lá fora. Ao ponto de, em um ato de aparente desespero, mudarem ainda mais no álbum seguinte, causando o harakiri definitivo da banda.

“Coma Rage” não é ruim, mas empalidece frente ao catálogo anterior do Viper. Vale a aquisição para engordar a coleção e discografia da banda, mas não tenho muita pretensão de ouvir mais do que uma vez a cada 18 meses ou algo assim.