TEST
22.11.19 – Sesc Belenzinho, São Paulo
Durou por volta dos 40 minutos mais inacreditáveis e insanos dos últimos tempos. Ñ sei dizer de há quanto tempo, nem da última vez.
Mais q as 2h40min de King Crimson, há 2 meses.
O tempo todo, atordoado, 3 perguntas me ocorriam, em loop: “como esses caras conseguem fazer isso?”, “quanto esses caras devem ensaiar pra fazer isso?” e “como é q eles sabem em q parte da música está?”.
As músicas foram passadas uma emendada à outra. Sem “e ae?”, “pnc do Bolsonaro”, “vamos agitar essa porra” ou “beleza? Somos o Test“. Nada. Ñ PRECISA.
2 caras.
João Kombi, vocalista/guitarrista, tocando com uma guitarra aparentemente zoada e fuleira, cheia de silver tape; Thiago Barata, baterista, dotado duma estrutura com (1) bumbo, caixa, (1) tom, surdo, (1) prato rachado + par de chimbau igualmente rachado. Tocando um de frente ao outro.
Entendimento telepático todo mundo já viu ou ouviu falar. Entendimento ali é SIMBIÓTICO. Como só vi acontecer com os irmãos Van Halen, e olhe lá. Domínio da forma E do conteúdo. É metal. É grind. E um troço indizível.
Aparentemente tocaram o disco novo, “O Jogo Humano”, todo. Comprei o disco a 10 contos (o guitarrista me embrulhou a capa q eu desfiz, enquanto eu ridiculamente agradecia, no fim) e ouvindo posteriormente reconheci uns trechos. Ñ achei set-list em site específico e tb ñ precisa. Ñ dá pra cantar junto, ñ dá pra abrir roda, ñ dá pra reagir de modo q ñ seja ficar CHOCADO.
Tanto q enchi o saco duns amigos no Whatsapp, ainda impactado, passando já a madrugada. Ñ consegui ouvir música no caminho de volta. Nem prestar atenção à porcaria da “banda principal”, Deafkids, q em prostesto resenharei no “so let it be written”.
Falava com o Leo: Eloy? Max? Iggor? Aquiles? Amílcar? Fodam-se. Barata é monstro. Toca blast, toca aros, com e sem bumbo, faz ritmos inesperados (complemantares à guitarra), toca chimbau aberto, chimbau fechado, com uma cratividade (nenhum som igual ao outro, mesmo sendo quase tudo blast) e um senso de dinâmica (forte/fraco, rápido/lento) absurdo. O cara tocou blast baixinho!
Tem mais reviravoltas q meia dúzia de discos do Dream Theater junto. Tudo conceitual, vanguardístico e até por vezes afetado; como quando Barata ainda ficou ajeitando surdo depois do 1º som. (Estava tudo arrumado, som perfeito, provavelmente passado mais cedo e etc.). Um pouco por culpa duns hipsters ali presentes, q achavam engraçado quando a dinâmica ia pro “baixinho”, pras passagens em aros de tambores. Ñ estavam fazendo piada.
O momento mais absurdo: num dos sons, João começa uma base meio stoner (ñ sei dizer, o cara tem uma pegada própria) e Barata tira o pedal (duplo) do bumbo pra ajeitar; ajeita, põe de volta e sai fora. Some. Deixa o guitarrista sozinho, q fica lá brisando na base e no vocal.
Quando, minutos depois no mesmo som, vem o som de bateria de trás de nós. Barata estava no meio da platéia (foto acima) tocando outra bateria, com abafador no ouvido, só no som q vinha do palco. Sem UMA nota fora. Foda demais. Nunca vi isso.
O q posso dizer, como mais clichê, é q essa banda TEM Q SER VISTA. N é a mesma coisa nos discos, q tenho três. Fizeram reputação tocando nas portas dos eventos (Funchal, Espaço das Américas, Hangar 110, Carioca Club), têm carreira internacional já (ñ representam “o Brasil lá fora” nem o “metal nacional”), e digo sem risco de nenhum exagero q estão ACIMA de qualquer banda de metal brasileira, passada ou presente. Tvz futura.
Alienígena. Show do ano, e com este foram 20.
Algo q leigos ou hipsters (gente de pouca exigência, vide Deafkids) simplesmente toma como “barulho”. Como “tosqueira”. Zoeira. Nada disso. Os caras sabem tocar – quem sabe tocar de verdade, toca mesmo em instrumento ruim – e têm uma coesão q Ñ É barulheira aleatória. Azar de quem ñ entende.
Eu tb ñ entendo, mas sei q ñ é zoeira. Falava pro Leo e acho q exagerei: “faz o Krisiun parecer Coldplay“. Melhor ñ. Faz Krisiun parecer Blind-182, caricatura emocore.
Faz o “metal nacional” parecer… “metal nacional”. Com ou sem Maria Odete.
Marco Txuca
26 de novembro de 2019 @ 05:07
Alguém disponibilizou 13 minutos do show:
https://www.youtube.com/watch?v=dWR95aSFaNs
Reparem a partir dos 6’30”.
André
26 de novembro de 2019 @ 09:25
Não sei se os digníssimos veículos mídiaticos metálicos (se é que existem por aqui) resenhar Am esse show. Talvez, estivessem preocupados em comentar a grande turnê do Noturnall com Mike Portnoy (o ponto mais baixo da carreira do gajo).
Tenho recordações de ouvir Test há alguns anos, mas, sinceramente, não lembro. Não sou escolado nesse tipo de som. Porém, pela sua resenha, deu vontade de conhecer o som dos manos. Isso é uma resenha. Não aquelas merdas que a gente lê na Roadie Crew ou Rock Brigade.
Outra coisa: não foi essa banda que apanhou e teve o equipamento quebrado por uns “true ” tempos atrás?
märZ
26 de novembro de 2019 @ 10:24
Sou fã. Vi esse ano em Vitória e fiquei igualmente embasbacado. Ninguém agita, fica todo mundo congelado, em estado de choque, assistindo. Cervejas ficam mornas por não serem levadas à boca. Os albuns são bons, mas o show é uma catarse. Comprei camisa e cd novo, falei que o João que eles eram foda, ele sorriu timidamente e agradeceu.
Fizeram por aqui um show curto, somente meia-hora, pois tinham que pegar o avião para Salvador. Quero ver de novo.
Marco Txuca
26 de novembro de 2019 @ 11:29
Agradeço muitíssimo o feedback, André.
Mas de fato, os “grandes veículos” do “metal nacional” parecem mais preocupados com o metal nacional universitário do Noturnall. Q jamais tocará no Obscene Extreme Fest, na República Tcheca. Jamais sairá desse mundinho imbecil e reaça/isentão do “metal nacional”. Se bem q, dando Google, pareceu ter resenha do show no whiplash. Outro pólo da Matrix.
E ñ vou nem ler. Ñ vi gente conhecida dos veículos, nem os fotógrafos de sempre, sempre entrando de graça (será q no Sesc a 30 contos tem gente pedindo “credencial”?). Mas pode ser por eu estar prestando atenção no show.
Outra coisa: Mike Porretnoy é o novo Michael Kiske. Ñ me parece preocupado com reputação, renome. Dinheiro caindo na conta, vai tocar até com funkeiro. Enquanto isso, Aquiles vai tocar Maiden no mesmo esquema universitário (busão de forrozeiros tb) e supura hemorróidas.
Às vezes penso em trocar o mantra do blog pra “pau no cu do metal nacional”. Mas tenho q essa gente e sua mídia de estimação merecem mais a minha indiferença. Vi RDP, Surra, The Mist, Mutilator, Replicantes, Lacerated And Carbonized e agora o Test, tudo no Sesc. Sem apoio nem ninguém desse meio vendo.
Tudo a 30 reais. E no próximo 13 de dezembro terá o Andralls (nem vou) no mesmo lugar. E enquanto isso o Claustrofobia fará turnê capixaba.E o Eskröta tá tocando direto em botecos do interior.
Existe vida, amigos, existe vida.
FC
26 de novembro de 2019 @ 13:26
(será q no Sesc a 30 contos tem gente pedindo “credencial”?)
Sim.
André
26 de novembro de 2019 @ 15:57
Ouvi Andralls há tempos, mas, lembro de não ter achado ruim. Só achei colado demais na rabeira de Slayer. Ao vivo, deve render um caldo.
Sobre o Portnoy: porra, o cara deve estar com a agenda bem aberta pra topar uma parada dessa. Fico pensando quem tá bancando isso tudo? Ou será que os caras estão fazendo dinheiro com isso?
Mas, como os amigos falam. Existe vida fora do metal nacional. O TCH tá virando o meu youtube.
Mais uma coisa: assisti uma entrevista que o Ivan Buzina deu pra dois caras, um deles é o Ricardo Batalha, que vocês devem saber quem é. Num determinado momento, ele fala que desde 1996, não paga pra entrar em show. Sintomático.
Jessiê
26 de novembro de 2019 @ 23:07
Já ouvi falar muito bem, mas não ouvi ainda.
Jessiê
26 de novembro de 2019 @ 23:24
Eu tenho muita identificação com a este tipo de proposta musical antigamente chamada genericamente de “noise” que abrangia diferentes estilos e passagens com grind, doom, blast, dois vocais e principalmente tentando romper com os paradigmas de início, meio e fim de uma música (intro, climax e epílogo). Quase uma anti-musica que na cacofonia e caos formavam uma música.
Tenho muito apreço pelo Napalm, que desde os primórdios de 1982 faz algo assim (muito cru obviamente), Brutal Truth e Meshuggah que em certos aspectos trilham por caminhos parecidos e em outro grau de fritação o Opeth por vezes resvala.
Marco Txuca
27 de novembro de 2019 @ 02:47
Tem um grande cara q eu conheço, Vlad Rocha (ñ vai fazer mal citá-lo), baterista e colaborador por muitos anos na Modern Drummer Brasil, e q é um dos maiores fãs de King Crimson q eu conheço, q eu descobri q ñ foi ao show há 2 meses.
Como descobri? Quando voltava do show já chegando em casa vi post dele no Facebook dizendo q o ventilador do Mikkey Dee no show do Scorpions (q ele via pela tv) era seu novo “sonho de consumo”. Galhofa pura, o cara é um figuraça.
Do q me ocorreu mandar, de pronto: “porra, por q é q VC ñ foi ao King Crimson?”. No q ele me respondeu quase q imediatamente: “depois q eu entrevistei Neil Peart 45 minutos no backstage, ñ paguei mais pra ir em show”.
Assim: acostumou a entrar de graça nos eventos, ñ paga mais nem pra ver banda preferida, q provavelmente jamais voltará. Como ñ ganhou – e teria grana pra pagar – ñ foi.
Pessoas de monte no meio do “metal nacional”, fora ñ ir ao show de outras bandas (mas ficarem indignados de pessoas ñ irem aos seus), realmente ñ pagam pra entrar em nenhum dos poucos q vão. Depois reclamam de “falta de apoio à cena”, ou inventam adesivinho.
Já disse isso aqui uma vez: tivesse eu uma revista ou zine e capacidade de entrevistar bandas à vera, uma das perguntas de sempre q faria seria: “qual a última vez q vc pagou pra ir em show e qual foi?”