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“Jupiter”, Atheist, 2010, Season Of Mist/EMI/Sony

sons: SECOND TO SUN / FICTITIOUS GLIDE / FRAUDULENT CLOTH / LIVE AND LIVE AGAIN / FAUX KING CHRIST / TORTOISE THE TITAN / WHEN THE BEAST / THIRD PERSON

formação: Kelly Shaefer (vocals), Steve Flynn (drums), Chris Baker (guitar), Jonathan Thompson (guitar and bass)

– participações especiais: Jason Suecof (lead guitar on “Fictitious Glide”, “Faux King Christ” and “When the Beast”); Timmy St. John (cello on “Live And Live Again”)

Cogitei introduzir a resenha tabulando, dentre as inúmeras bandas q voltaram à ativa – incluídas as q o fizeram ao menos uma vez, ou só pra turnês – as q voltaram pior ou igual provavelmente predominando, uma vez q tenho vagas lembranças de bandas q voltaram MELHORES.

[Provável escopo esse a se tornar objeto de listas em sebundas-feiras vindouras. Sei lá]

Fora o Artillery, no “B.A.C.K.”, ou o Celtic Frost, no “Monotheist” (certamente melhor q as porcarias lançadas antes do fim), só me vêm à mente afirmar q apenas o Atheist voltou melhor. MUITO MELHOR.

E em parte por “Jupiter” oferecer a constatação de finalmente a melhoria na tecnologia de gravação tê-los alcançado. Há muito aqui q os caras já fizeram em “Piece Of Time” (1988) e em “Unquestionable Presence” (1991) – e tvz tb em “Elements”, o único q ainda ñ conheço, sequer ouvi – e isso se chama identidade numa banda. Mas há mais: o êxtase adicional de a bateria finalmente ter sido decentemente registrada, sem aquele reverb xexelento oitentista na caixa.

Mas ainda além disso tudo, há a sensação de evolução técnica e composicional a toda prova. Há Kelly Shaefer tornado apenas vocalista (ñ pode mais tocar guitarra por conta duma l.e.r. em nível incapacitante) finalmente focado em ñ apenas vociferar as letras, e sim fazê-las de modos mais versáteis (ñ soa tão o Chuck Schuldiner genérico de outrora). Há um trampo de guitarras primoroso e soberbo (clichê verdadeiro: arsenal de riffs, bases, solos e harmonias inveteradas e vertiginosamente executados). Há um caleidoscópio auditivo nesta bagaça, provável e positivamente ilustrando (“audiostrando”?) o tal conceito de POLIRRITMIA.

A banda ñ precisa ser prog hermética pra fazê-lo. CHUPA DREAM THEATER. Ñ precisa ser chatonilda (e opinei, no Facebook, quando adquiri este petardo, algo como “joguem fora os discos do Torture Squat. Ainda o acho. E tb os do Pain Of Salvation). Muito menos dada a auto-indulgências ou a músicas às vezes desnecessariamente prolixas – CHUPA MESHUGGAH – ou repletas de rococós: “Jupiter” consegue ser obra-prima em 32’34”.

Pode e consegue ser paudurescente e relevante ao paroxismo. Pode gerar – ao menos em mim, gerou – a vontade salivante de querer ver a banda ao vivo pra, mão no queixo coçando, outra no bolso, ver se conseguem reproduzir os 8 sons daqui. Ñ soa banda ajeitada em Pro Tools. Macetes jazzísticos e progressivos existem, mas são ACESSÓRIOS, realces, em meio ao death/thrash metal enfaticamente praticado com gana. Metal com prog, ñ o contrário.

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Tive uma colega na faculdade q disse ter trocado as pilhas do walkman da 1ª vez em q ouviu Frank Zappa: “Second to Sun” em seu início absurdo e cacofônico me remeteu a isso – pensei q o cd player estivesse dando pau ou o cd estivesse riscado (ahah). “Fraudulent Cloth” (sobre padres pedófilos), por sua vez, tem momentos esquizofônicos insólitos, de parecer q cada instrumento está num andamento e num lugar diferente. É legal isso, no bom sentido.

Nem todos os sons são a mil por hora (blats beats quase nada), nem as guitarras soam sempre iguais (outra grande virtude), tampouco todos os momentos dentro dos sons ficam só na velocidade irresponsável e hormonal doutros tempos: a banda soube dosar partes e dinâmicas (quebradeiras mormente nas bases de solos) q ñ saturam a quem ouve e se deixa impactar (e a vontade salivante de desejar vê-los ao vivo voltou, e reitero).

Claro q o maior destaque – particular, meu, uma vez em q TUDO é destaque – eu atribuo ao Steve Flynn, baterista ainda mais monstro q nos 80’s, e q ñ deve nada a Gene Hoglan (vide a seguir) ou a Richard Christy – CHUPA ICED EARTH – inclusive no sentido de costurar toda a piração. Mas tb pela humildade de dedicar o q fez por aqui a Neil Peart, do Rush, assim devoto no encarte:

“Though he may never know it, Neil Peart deserves the most credit for my playing. It was Rush that inspired me to play in the first place, and any credit or praise I receive should be forwarded to Neil. I simply took what he did and put it to death metal – mixed with a headlthy dose of Gene Hoglan, who taught me how to use the double bass musically!”

Sei lá se concordo com alguma inspiração assim explícita (cacoetes idênticos ainda ñ percebi) no trampo do homem, mas ñ vou discutir Religião com o cara…

O fato é q temos músicos maiúsculos mandando na bagaça. E ñ apenas com vontade de mostrar q sabem tocar, mas sobretudo dedicados a compartilhar um esporro do caralho. Meu desejo por aqui era esmiuçar melhor cada som em suas nuances, particularidades e singularidades, tb em suas letras (repletas de terminologias inusuais/obscuras, várias tratando de mitologia grega – o título do álbum ñ caiu de pára-quedas aqui – astronomia primitiva e, obviamente, ateísmo), mas ainda Ñ CONSIGO. Por ñ conseguir ainda ter uma visão imparcial da coisa, tanto por achar q encontrá-la demorará um tanto.

Além das faixas – chamar de “faixas” parece vão… – q citei, posso dizer ter entre as preferidas ainda “Faux King Christ” (q riff inicial!) e “Tortoise the Titan” (sobre tartaruga mitológica). As outras são só “menos preferidas”. Embasbacante é pouco.

Bem, e mesmo q eu ñ consiga convencer ninguém da magnificência deste álbum, fica ao menos a sugestão pra q se o adquira pela CAPA. Q nalguma versão em vinil só deve ser ainda mais estupenda.

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CATA PIOLHO CCV – ñ lembro bem quando, provavelmente nalgum “Cata Piolho” de antanho, de conversarmos sobre influências megadéthicas indiscutíveis no trampo do Arch Enemy. E em q pese terem tentado disfarçar (com timbragem e palhetadas ñ tão idênticas), quem se atreveria por aqui a discordar q “Shadows And Dust” ñ veio de “A Secret Place”??