SERVIÇO DE UTILIDADE PÚBLICA THRASH COM H

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“Seqüência Animalesca de Bicudas e Giratórias”, D.F.C., 2014, Läjä Rekords

sons: VENOM / NÃO SÃO CASOS ISOLADOS / CONVERSA PRA BOY DORMIR / BOLETIM DE OCORRÊNCIA /    A BOSTA HUMANA / PUTA QUE PARIU / O PÃO QUE O DIABO VOMITOU / NASCE UM MONSTRO / DIRTY SANCHEZ / A SETE PALMOS DO CHÃO / DIA DE FÚRIA CANDANGO / O ALIENISTA / IGNORANTE / PESADELO ANAL / PORRADA DE RUA / ALMOÇANDO ABUTRES / SUNDAY BLOODY MORNING / CAOS NA CAPITAL / CIDADE DE MERDA / FILHO DA PUTA / SKATE INFERNO / TODOS ELES TE ODEIAM

formação: Tulio (vocais), Miguel (guitarras), Leonardo (baixo), Fabricio (bateria)

Resenha diferente desta vez. No clima do disco e de seus 22 sons em 23 minutos. O título do post já entrega q acho o disco foda. Harcore crossover absurdo. Inominável. Pesado. Daí postar minhas letras preferidas no momento; dentre as todas excelentes. Dizem por si muito mais do q eu ousaria tentar.

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Não São Casos Isolados (1’00”) – “O assalto na esquina / O político ladrão / O marido espanca a mãe / Apreensão de cocaína / Na igreja exploração / Na estrada acidente / Mentira na televisão / O governo conivente – não! // Não são casos isolados! // O estupro da menina / Compra voto na eleição / Morte em fila de hospital / A polícia é propina / O empregado humilhado / O mendigo suicida / O fiscal vai extorquindo / Outra bomba explodindo – não! // Não são casos isolados!”

Conversa Pra Boy Dormir (1’09”) – “Esse seriado é uma maravilha / Tudo é bonito com essa família / Um conto de fadas onde tudo é legal / Bem diferente do meu mundo real / Minha vida é chata e cheia de ódio / Por isso eu não perco nenhum episódio / Só loiros canastrões de nariz arrebitado / E eu aqui babando igual a um retardado / Porque o meu cabelo é duro / Estou desempregado e não tenho futuro / E o meu nariz é torto / E eu não tenho onde cair morto / O meu cabelo é duro / O meu nariz é torto (repete 8 primeiros versos)”

A Bosta Humana (1’03”) – “Eu durmo em qualquer banco imundo da praça / O dia inteiro eu encho o cu de cachaça / Eu vivo fedido e todo rasgado / Só como lixo podre e estragado // O meu cabelo é imundo de dreadlock / Mas eu não curto nada de reggae nem rock / Eu tô pouco me fudendo / Não vale nada e quem encher o saco eu desço a porrada // Eu sou um excremento nas ruas da cidade, eu fui defecado pela sociedade // Você e seus amigos me acham muito escroto / Tenho menos direitos que os bichos do esgoto /  Morrerei como indigente / Sem flores e nem terno / Mas pode ter certeza / Te encontro no inferno / Eu sou a bosta humana / No chão da cidade / Eu estou grudado / No pé da cidade”

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Puta Que Pariu (1’27”) – “Eu cheguei em casa cansado pra caralho / Mais um dia escroto na merda do trabalho / Olho na geladeira, só tem uma Super Bonder e na televisão só novela e Big Brother / Não sei se eu vou dormir, não sei se eu vou cagar / Chegou mais uma conta / Não consigo nem pensar / Eu não suporto mais essa vida sem sentido / Talvez se eu for ao médico eu ganhe um comprimido // Quero desaparecer, quero desaparecer / Eu vou sumir do mapa e mandar tudo se fuder (2x) // Ei! Você! Vai pra puta que pariu!”

Dirty Sanchez (0’42”) – “Tributos, impostos e taxas abusivas / Direitos faraônicos para os ratos do congresso / Roubam, exploram e humilham sua face / Empurram a sujeira garganta abaixo / Esse governo come o seu cu / E esfrega o pau sujo na sua cara”

Sunday Bloody Morning (1’23”) – “A família feliz vai passear no domingão / Mas papai bebeu demais e está na direção / Avança o sinal e atropela a bicicleta / Deixa um rastro de sangue / Pintado em linha reta (repete estrofe) // Tomar 51 foi uma péssima idéia / O carro parou num muro esmagando uma velha / A cabeça explodiu / Miolo pra todo lado / No enterro com certeza vai ser caixão fechado (repete estrofe) // A filha disse adeus a sua curta vida / Num cenário todo feito de carne moída / As tripas espalhadas de dona Elizabete / Fazem muito sucesso em um site na internet / O corpo esquartejado e cheio de marcas / É a capa perfeita dum disco do Carcass”

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Os vocais de Tulio são furiosos, desesperados. E inteligíveis. Ñ recomendo ouvir dirigindo: risco de ficar pilhado. A gravação é impecável e os sons têm dinâmica, quase sempre em tempo de terem introdução, estrofes – às vezes até refrões – desenvolvimento e entrosamento. Domínio da forma e do conteúdo, nada feito nas coxas.

Alguns contêm locuções e/ou gravações de políticos, pastores, nóias, UFC, hino de Brasília, o q torna tudo ainda mais inacreditável. Tudo em muito pouco tempo. Aflito. Urgente. Sem embromação. Conciso, coeso, preciso e cáustico. Tecnicamente, o melhor do D.F.C.; pra mim só ñ o melhor, por causa de meu apreço afetivo pela estréia da banda em “Tchan Nan Nan Nan”, de 1994.

E desce ainda melhor se ouvido junto de “Século Sinistro” (2015), do Ratos de Porão e de “Tamo Na Merda” (2016), do Surra.

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CATA PIOLHO CCLIX – brincar de “jogo dos 7 erros capístico” seria forçar um pouco. Mas existirem algumas semelhanças entre as mesmas, como ñ dizer?

"Sabbath Bloody Sabbath", Black Sabbath (1973)
“Sabbath Bloody Sabbath”, Black Sabbath (1973)
"Leave Scars", Dark Angel (1989)
“Leave Scars”, Dark Angel (1989)