PUMPKINS UNITED

Por FC

No final de 2016 o Helloween anunciou oficialmente aquilo que se estendia como boato por semanas: Michael Kiske e Kai Hansen estavam de volta à banda para uma série de shows (e quem sabe algo mais) em 2017, ano em que se celebraria o 30º aniversário do primeiro “Keeper Of the Seven Keys”. Para o público brasileiro havia ainda a cereja do bolo, a confirmação de que a turnê teria início por aqui (no final, acabaram rolando uns shows antes na América Central e na Colômbia contrariando a própria banda, segundo declaração na Roadie Crew).

A venda de ingressos começou dias depois do anúncio e confesso que não dei muita bola. Quando resolvi dar uma sondada nos valores, pra minha surpresa eles já estavam esgotados poucas horas depois. E “como quem quer desdenha”, me toquei que eu realmente gostaria de ver a banda tocando, principalmente o repertório de Kai Hansen com ele cantando. Até no You Tube é difícil achar.

Mais surpreendente ainda foram eles anunciarem um show extra, com data e horários programados para a venda de ingressos. Desta vez, me antecipei e já adquiri o meu par rapidamente. Um dos pontos que diferenciava de outros shows a que já fui é que neste, após o recebimento, eu teria exatos 12 meses (!!!) de espera até a data.

 

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Salto no tempo para outubro de 2017, quando a turnê se iniciou. Um cuidado que tomei (e que tenho tomado regularmente) é evitar o “spoiler de setlist“. Sempre achei mais legal descobrir na hora que a banda X ressuscitou um antigo hit, ou a banda Y tocou aquela música que nunca toca ou que a banda Z tirou do repertório “aquele clássico” e deixou todo mundo puto. Mas hoje em dia todos já sabem dias antes quais músicas serão tocadas e, para mim, estraga a surpresa. Inclusive até abandonei por uns dias o blog do chefe Txuca (sorry pela redução de pageviews na semana haha), quando notei que ele havia postado comentários sobre a turnê.

Desta maneira, compareci ao Espaço das Américas com a cabeça completamente limpa, sem fazer idéia do que tocariam, além daquelas certezas (“Eagle Fly Free”, “Future World”, “Dr. Stein”, “I Want Out”, “Power”). Também sequer tinha lido as matérias sobre a doença do Kiske e os playbacks na América Central, então fui com o “desconfiômetro” totalmente desligado. Também não fiquei sabendo dos problemas técnicos do telão na primeira noite em São Paulo e nem sabia qual seria a dinâmica dos vocalistas.

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Comprei os ingressos para o setor “Mezanino Open Bar & Food”, um tremendo upgrade se comparado aos tempos de dogão, sanduíche de calabresa e cerveja quente na porta. Tudo bem que o “food” tratava-se apenas de pipocas e croquetes com gosto de peixe (vide acima), mas o open bar compensou (se bem que ao final era só água, provavelmente para botar os bêbados para fora).

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Bem, vamos ao show. Um dos pontos que mais critico em relação às bandas que regularmente vêm por aqui é a pouca variação de setlist, fato que não me anima muito a sair de casa e pagar uma fortuna em ingressos. Por exemplo: no repertório que o Megadeth apresentou 2 dias depois, nada menos do que 12 das 15 músicas tocadas também estavam no setlist em 2005, última vez que os vi ao vivo.

E, felizmente, o Helloween foi generoso. Poucas vezes vi um repertório tão equilibrado, a ponto de não sentir falta de nenhuma música, nem achar que alguma outra sobrou.

A apresentação teve início com um cara da produção (o tecladista daquele Noturnall) saudando o público e avisando para quem não sabia: seria gravado um DVD. Pediu para filmar alguns aplausos e gritos e disse para que, durante “I Want Out”, o público soltasse bexigas laranjas.

O set começou com “Helloween”, com vocais alternando entre Kiske e Andi Deris. Em seguida vieram “Dr. Stein”, “I’m Alive”, “If I Could Fly”, “Are You Metal?” e primeira surpresa, “Rise And Fall” (acredito que, literalmente por décadas, não era tocada), seguida por “Waiting For the Thunder”. Os cantores se revezavam no palco em momentos solo ou em duetos e estavam numa vibe bem legal, brincando um com o outro. Inclusive no final de “Why?”, Deris mudou o finalzinho dizendo “you are perfect!” pro Kiske.

Uma animação com umas abóboras engraçadas meio que anunciava as músicas no telão, fato que fiquei sabendo que não rolou no dia anterior. Foi aí que veio ao mesmo tempo o melhor momento e o balde d’água fria: Kai Hansen assume os vocais para dar início a “Starlight” e no meio da música o P.A. vai pro saco. Só se ouvia uma bateria não microfonada e um baixo sem distorção, quase inaudível. Mas o curioso é que a banda não percebeu e continuou tocando e público cantava como se nada tivesse acontecido (até agora não sei se isso é bom ou ruim). E ainda emendaram “Ride the Sky” sem som até que alguém do staff entrou no palco e avisou que o áudio estava cortado.

Passaram-se uns 10 minutos até a banda voltar e o Kai explicar o que tinha acontecido. Ele anuncia que começariam tudo de novo e mandaram “Starlight” mais uma vez. Na metade, o P.A. não aguenta e o problema volta, desta vez com a banda abandonando o palco bem puta da vida.

Mais 15 minutos até que retornam, com tudo funcionando. E segue o medley com “Starlight”, “Ride the Sky”, “Judas”, “Heavy Metal (Is the Law)”. Em seguida, Deris e Kiske dividem os vocais nas baladas “Forever And One (Neverland)” e “A Tale That Wasn’t Right”. “I Can” foi a única de “Better Than Raw” e antecipou o solo de bateria de Dani Loeble, “o cara que mais está trabalhando nesta turnê”, como brincou Deris. No solo, um dueto com Ingo Schwichtenberg no telão deu até certa emoção para o momento.

[youtube]https://www.youtube.com/watch?v=k8llpnr_Mu4[/youtube]

Mais uma surpresa boa em seguida: “Livin’ Ain’t No Crime”, um ótimo lado B, emendado com “A Little Time”. Veio então uma trinca da ‘fase Deris‘: “Why?”, “Sole Survior” e “Power”, antecipando a última do “Walls Of Jericho”, “How Many Tears”, com os três dividindo o vocal.

A banda deixa o palco e, para o primeiro bis, mandam a intro “Invitation” e “Eagle Fly Free”. É duro, mas é verdade: demorou 24 anos pra essa música voltar a ser bem cantada. Emendam com os mais de 13 minutos de “Keeper Of the Seven Keys”, que termina com um coro do público enquanto o grupo se retira do palco, um por um.

Passados alguns minutos, Kai Hansen faz um pequeno solo e inicia o riff de “Future World”, encerrando o show com “I Want Out”.

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Saldo extremamente positivo. Se essa formação dará futuro, ninguém sabe. A julgar pela música inédita que compuseram [postada por aqui em 27 de Outubro último], não achei nada demais. No palco, a sintonia entre os vocalistas foi bem legal, mas não dá para saber o que se passa com Michael Weikath, já que demonstrar qualquer emoção nunca foi lá seu ponto forte. Mas presumo que tudo isso vai ser definido até o instante em que Kai Hansen não ficar de saco cheio e voltar para seu Gamma Ray, onde provavelmente vive em paz.