DAVE LOMBARDO FALA E EU COMPRO A REVISTA

Depois de muito tempo, encontrei motivação pra comprar a Modern Drummer Brasil deste mês. Edição 144.

MDR

Matéria de quase 10 páginas inteiras com a lenda (meu ídolo maior na bateria de heavy metal), aproveitando sua turnê brasuca de workshops recentes, q em São Paulo ñ me permitiu ir. Afinal, quarta-feira à noite é dose pra leão… Ainda mais no Manifesto, bar minúsculo. De qualquer modo, conhecido meu (Vlad Rocha) conduziu entrevista bastante abrangente – e infelizmente ñ dada a especificidades com Slayer, Grip Inc., Fantômas ou Testament – da qual compartilho pinço uns trechos aqui.

1) início/infância

Sou o mais novo de três irmãos, e quando tinha uns 5 ou 6 anos de idade, meu irmão mais velho estava ligado em rock’n’roll, e meu irmão do meio estava mais ligado em R&B e funk. Meus pais também eram ligados em música cubana, que foi de onde eles vieram. Então cresci ouvindo três gêneros diferentes. A esposa do meu irmão mais velho, Danny, era alemã e gostava muito de Elvis Presley, e eu amava ir visitá-los e ouvir todos esses discos.

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Minha exposição à música latina também foi importante. Meus pais costumavam ir a bailes e festas junto a outras famílias cubanas, e nessas festas havia bandas de música latina. Eu ficava atrás do palco, assistindo a esses percussionistas fantásticos, e ficava admirado.

Mais tarde, já na adolescência, acabei desenvolvendo meu próprio gosto musical, que no início incluía Led Zeppelin, Jimi Hendrix, Kiss, Black Sabbath com Bill Ward. Minha paixão acabou se direcionando para a música pesada. Comecei a ficar atraído por esse estilo e passei a pesquisá-lo. Quando descobrir o ‘Killers’, do Iron Maiden, fiquei estupefato“.

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2) sobre os 2 bumbos e dominância

Minha história com os 2 bumbos demorou para acontecer. Só comecei a usá-los aos 19, 20 anos de idade. Essa mudança veio através da inspiração do disco do Motorhead, ‘No Sleep ‘Till Hammersmith’. [Dave cantarola Overkill, música deste álbum]. Quando ouvi aquilo, fiquei embasbacado. Também pirava no Clive Burr (Iron Maiden). Ele tinha uma batida especial, em 12 por 8, em que o chimbal com o pé era tocado junto com os toques de caixa (como pode ser ouvido em músicas como Phantom Of the Opera). Isso era quase como uma levada de dois bumbos. Então o que fiz foi trocar o que era feito no chimbal com o pé por um segundo bumbo. É algo natural, se você mentaliza antes de tocar na bateria. É importante fazer isto: antever, em sua mente, os movimentos que vai fazer e o som que vai tirar, antes mesmo de ir para o instrumento. Isso facilita muito“.

MD – Em uma entrevista para a MD americana, você disse que sempre inicia suas levadas de dois bumbos com o pé esquerdo. Qual é o motivo de fazer isso?

Eu sou canhoto! Escrevo com a esquerda, arremesso com a esquerda, chuto com a esquerda, mas faço outras coisas com a direita, então acho que sou um canhoto um pouco ambidestro (risos). Assim, é natural que, apesar de tocar como destro, eu faça as levadas de dois bumbos começando com o pé esquerdo“.

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3) metal recente, bateristicamente menos orgânico

Veja, não quero soar como um cara velho que gosta do estilo antigo e não aceita novidades. Adoro os bateristas e bandas mais novos. Tem muitos estilos novos de que eu gosto… O problema é quando vejo uma banda e o baterista soa poderosamente no disco, mas ao vivo soa estranho. Muitas vezes ele está tocando em uma bateria pequena e mal encosta no instrumento, fazendo movimentos curtíssimos e rápidos. E eu pergunto: ‘Que porcaria é essa? Eu pensava que essa banda era poderosa!’. Este é meu problema com muitos bateristas e bandas hoje. Não me entendam mal: amo thrash metal moderno, amo esse estilo de tocar bateria, e já gravei tocando nesse formato técnico, usando tecnologia etc. Mas é necessário poder tocar isso também ao vivo, e soar igual, ou parecido, ao disco. Você tem que ser capaz de reproduzir o som do disco ao vivo. De outra maneira, estará trapaceando.

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Esses bateristas acabam soando como os programas que usam. Que tal usar o seu próprio ‘programa’, o seu próprio estilo e som? É isso que tornou os bateristas dos anos 1960, 1970 e parte dos 1980 tão especiais“.

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4) reconhecimento

MD – Muitos bateristas importantes, como Richard Christy, Paul Mazurkiewicz, Raymond Herrera, Pete Sandoval, Iggor Cavalera, Adrian Erlandsson, Daniel Erlandsson, George Kollias, Joey Jordison, Derek Roddy, Mike Portnoy, James Sullivan, Max Kolesne e Jason Bittner dizem ter sido influenciados por você. Como se sente em relação a esse reconhecimento?

Eu adoro esses caras… Sou amigo de Portnoy, adoro o Joey… Me diverti muito com o George Kollias. Adoro o Iggor, o Pete, o Raymond. Alguns dos outros que você citou não conheço tão bem. Sabe, sou feliz por ter surgido numa época em que pude influenciar esses bateristas maravilhosos. Eu me sinto honrado por ter sido mencionado por colegas tão talentosos como influência. Todos eles têm feito um trabalho assombroso. Sou muito agradecido a eles“.