METAL MIRANDA

Prosseguindo “Metal 90”, o post anterior nesta pauta, pincei da Bizz outras duas resenhas de C.E.M., o Miranda – aquele, véi – q fora escrever bem (disso eu lembrava), tb entendia consideravelmente de heavy metal. Ou mais ou menos.

Duas resenhas dele hoje.

Uma, da edição #70, de julho/1991 (capa polêmica; choveram “roqueiros” na sessão de cartas seguinte xingando Soup Dragons como “música de bicha”) mistureba pra Slayer (“Seasons In the Abyss”) e Anthrax (“Persistence Of Time”); a outra, sobre “Coma Of Souls” (Kreator) na edição seguinte, cuja capa era um Jim Morrison rosa pra ornar com uma foto idem da Madonna

[“música de bicha” de fato?]

Enfim.

“Persistence Of Time” Anthrax (PolyGram)/“Seasons In the Abyss”Slayer (Def American/PolyGram)

O Slayer sempre foi a minha banda favorita de metal. Qual não foi a minha surpresa ao tentar ouvir Seasons In the Abyss logo depois deste novo Anthrax e descobrir que isso não seria possível. Meu cérebro estava completamente satisfeito após a audição de Persistence Of Time. Este disco é tão bom que a comparação com qualquer outro no gênero seria injusta.

Misturando de leve e mantendo distância das aventuras rap (coisa que já fizeram de pura gozação em ‘I’m the Man’), tendência generalizada entre os novos grupos, o Anthrax descolou um som sutilmente original. É curioso que mesmo quando fazem cover de Joe Jackson (‘Got the Time’), conseguem ser muito parecidos com a versão original e se manter absolutamente Anthrax.

Em outro terreno pantanoso que é o dos instrumentais lentos e cheios de dedilhados sebosos, a ‘Belladonna Gang’ não erra as pisadas e evita com maestria os dejetos, onde quase todo mundo se afoga. ‘Intro to the Beast’ é uma valsinha que chega até perto daquelas do Brian Eno, na época de Taking Tiger Mountain, e prepara o terreno para as bases firmes de ‘Belly Of the Beast’. Uma paulada e tanto.

Mas não é só a violência sônica que faz de Persistence Of Time uma obra-prima. As letras evitam com sabedoria as besteiras satanistas e discursam em tom existencialista até um pouco ingênuo, mas absolutamente honesto e cheio de verdades. Não falta nem um dedo na moleira do Public Enemy em ‘Keep It In the Family’.

Já o Slayer voltou à boa forma em Seasons In the Abyss. Recuperaram o poder e a força de Reign In Blood (87) sem perder o lado mais melódico de South Of Heaven (88). Ainda estão lá o satanismo obtuso para assustar criancinhas e a tradicional foto dos vagabundos se enchendo de cerveja. Ou seja, o Slayer ainda é o mesmo. Bumbos supersônicos, vocal cavernoso, guitarras afiadas e a produção impecável do diabão Rick Rubin; o que falta é o gosto de novidade, a surpresa. O Slayer não perde seu posto na linha de frente da pancadaria, mas o Anthrax subiu muitos degraus em direção ao céu“.

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“Coma Of Souls”Kreator (Epic/Sony)

Foram-se os tempos em que o Kreator tinha peso e certa credibilidade. Este LP é tão ameno que dá para tocá-lo enquanto se tira uma soneca. Sabe-se lá se a rapaziada amansou com a idade ou é por estar agora numa grande gravadora. A promessa de barbárie da capa e do vinil original americano (prensado em asquerosa cor roxa) não se cumpre nem no som, nem nas letras com os costumeiros temas apocalípticos e sonhos mórbidos. Se você quer violência, procure outras bandas. Esta não serve mais“.