SERVIÇO DE UTILIDADE PÚBLICA THRASH COM H

“Origin”, Borknagar, 2006, Century Media/Encore Records

sons: EARTH IMAGERY * / GRAINS / OCEANS RISE * / SIGNS / WHITE * / CYNOSURE * / THE HUMAN NATURE / ACCLIMATION * / THE SPIRIT OF NATURE

formação: Vintersorg (vocal, choirs and chants), Øystein G. Brun (acoustic, classic and highstring guitars), Lars A Nedland (piano, keyboards, organs and backing vocals), Asgeir Mickelson (drums)

guest musicians: Erik Tiwaz (a.k.a. Tyr: 6 string fretless bass), Steinar Ofsdal (bamboo flute and recorders), Thomas Nilsson (cello), Sareeta (violin)

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Sei lá se é por obra do marketing ou das coincidências (tvz ambos), mas o fato é q ao pensar em Borknagar automaticamente penso em Vintersorg. E vice-versa.

E a inquietação com a qual iniciaria este S.U.P. – “puta q pariu, por q ñ viram uma banda só duma vez?!”, haja visto serem filiais sueca e norueguesa do mesmo cartel q, à exceção do Steve DiGiorgio (músico contratado na filial sueca algum tempo atrás), simplesmente conta com alguns mesmos músicos lá e cá, e gravam nos mesmíssemos estúdios – me foi parcialmente respondida quando recentemente adquiri “Empiricism” (Borknagar safra 2001), cujo release (minha cópia é aquela versão feita pra jornalistas e rádios, de caixinha de papelão e release – pra copiarem nas resenhas – atrás) assim diz:

“após serem amigos por anos, Øystein e Vintersorg perceberam q têm praticamente a mesma atitude, motivação e visões para suas músicas. Por isso, depois de ICS Vortex sair da banda para se concentrar no Dimmu Borgir, foi apenas natural aos amigos trabalharem juntos”

Quer dizer, se a junção ñ se dá por conta de Vintersorg e Brun terem APENAS gravadoras diferentes, ou pelo fator logística (suposições minhas), só posso chegar à conclusão de q os caras são realmente true ahahah Pois pra piorar, ainda li recentemente q ambos juntam forças numa OUTRA banda/projeto de “metal progressivo” – deles 2 apenas e de 2 álbuns já – chamado Cronian.

E eu achava q Jon Oliva era hiperativo e esquizofrênico… ahah

Vai entender essa misantropia nórdica. Por outro lado, por ñ serem assim bandas – nem uma, nem outra – e bem mais projetos de estúdio, q diferença afinal faz tudo isso?

Descobri Vintersorg, a banda, primeiro, mas recentemente venho me inteirando mais do Borknagar, de q ñ tenho ainda tanto: apenas “Quintessence” (2000), “Empiricism” e este “Origin”, ainda o álbum novo. E é interessante sacar uma proposta sonora evolutiva, q mantém alguma crueza black metal (no q são aí semelhantes ao Dimmu Borgir), só q incorporando elementos folk e progressivos ao longo do caminho – alguns sons em “Empircism” contêm órgãos Hammond e sintetizadores etéreos muitíssimo bem amalgamados à barulheira guitarrística e aos blast beats de baciada – fundando, a meu ver, um outro sentido para o termo prog metal.

Pois ñ me parece justo q apenas Fates Warning, Dream Theater, Symphony X e imitações rasteiras destes devam ser considerados prog. Lógico q o nível técnico dos estadunidenses é imensamente superior, e assumidamente calcado de Genesis, Rush, Zappa e outros baluartes das intrincações, mas deixo por aqui a sugestão, pra quem se instigar o suficiente, de se analisar o Borknagar (e tb Vintersorg, uma vez q as propostas coincidem a todo o tempo) sob o foco de uma proposta claramente PROGRESSIVA – ou rock e/ou metal progressivo seriam apenas nicho de mercado e âncora de estagnação? – q jamais regride e vai se recriando/aprimorando álbum após álbum. Pra ñ se ter q incorrer em cunhar mais um rótulo no metal, tipo black metal progressivo… (ugh!).

“Origin”, para começar a (finalmente) falar do álbum, é trabalho altamente paradoxal, além disso. Pois é álbum completamente ACÚSTICO. Dando o q questionar acerca de tanta evolução/progressão assim; pq é fato q 99,9% das bandas q lançam trampos assim na verdade vão se mostrando covardes, estagnadas, redundantes. Só q se trata do Borknagar, cacete, q ñ tem hits a “revisitar” ou contrato milionário a cumprir; à exceção de “Oceans Rise”, única releitura, todo o material aqui registrado é INÉDITO.

O outro paradoxo, e motivo para prováveis execrações, é ser “Origin” um álbum acústico duma banda de black metal norueguês. Desconsiderando-se a “coincidência” do álbum recente de Vintersorg, “Solens Rötter” (2007), ser tb acústico, temos aqui uma proposta OUSADA e verdadeiramente radical. Pq foge do black metal “convencional” de guitarras-abelha e gritaria claustrofóbica (coisa, aliás, de q o Borknagar já vinha se distanciando desde a efetivação do Vintersorg vocalista…) compulsórias e compulsivas, como tb, por outro lado, da recente onda folk viking metal, de bandas pesadas e algo desencanadas – como Finntroll, Turisas e Korpiklaani – q se meteram a enfiar violões folk, violinos e acordeões engraçados nos sons, e côros bêbados em refrãos. O resultado por aqui é orgânico, sóbrio e DENSO.

Inclusive no q tange às LETRAS, todas bem cabeça e esotéricas. Com reflexões a respeito das inter-relações entre o homem e os elementos, sobre o vento, sobre a terra, as causalidades da Natureza etc. (Q parece ser temática q vêm por aí chamando de “pagã”). E q, ao contrário das músicas, praticamente todas compostas por Brun (exceção a “White”, de Nedland), foram divididas entre os integrantes todos: há, inclusive, feitas por Mickelson (“The Human Nature”) – q ainda acumula o trampo de capista da banda – e por Vintersorg (duas: “Acclimation” e “Cynosure”, esta última, ñ por acaso, a mais viajante e científica. O cara é professor de Física na Suécia, ñ é isso?); por isso esqueçam papos sobre elfos, duendes, demônios ou Satã querendo fornicar o Nazareno ahah

Os sons me soam, desde a 1ª audição, bastante coesos e coerentes entre si, fluentes, ñ dando aquela impressão de álbum feito às pressas (por ser mais despojado), e algum destaque q eu venha a fazer, o faço no lado negativo: “The Human Nature” tem lá uma melodia descendente q se repete (e sei lá se feita por teclado ou por flauta) q enche o saco – parece música de fundo de peça teatral. Ainda q “White”, por ser do Nedland, a mim tb se destaque – junto às faixas asteriscadas acima – embora positivamente: músicas por ele compostas em discos anteriores sempre têm algo diferenciado, q ñ entendi ainda bem o q. “Earth Imagery” em seu início, tem clima bucólico q os chapas do Thyrfing ou do Summoning – pra citar ainda outra vertente viking metal vigente – amaldiçoariam Odin pra fazer.

A surpresa mais positiva, musicalmente falando, foi constatar os vocais limpos de Vintersorg bastante INTEGRADOS ao contexto. Nada forçados, até mesmo quando dobrados. Pq me incomoda nos sons porradas, nas filiais norueguesa e sueca, o tipo de vocal sub Matthew Barlow (por sua vez, um sub Paul Stanley) do sujeito, q parece sempre brigar com os sons, estragando a meu ver apreciações melhores, q ocorreria caso a voz rasgasse ou guturalizasse mais. Ñ q esteja adequado o tempo todo, mas bem mais do q o habitual.

“Origin”, enfim, é daqueles raros discos em q o paradoxal instiga, pois é ao mesmo tempo despojado e épico (teclados e cordas muitíssimo bem encaixados, ñ constando por aqui apenas como decoração), fora CORAJOSO: demonstrador de q Brun está pouco se lixando pra rótulos ou patrulhamento de fãs radicais; parece importar o q ele quis fazer – ser true ñ é isso, afinal? Tvz as impressões por aqui listadas ñ coincidam com o GOSTO de quem mais ouvi-lo (e o barato do Thrash Com H é eu Ñ SER o dono da verdade), mas ñ é álbum q se deva desmerecer sem razões para tal: desgostar sem ouvir é babaquice. Um álbum elegante, de heavy metal sim, e indicado a cabeças suficientemente abertas. Para os radicais, a discografia anterior tvz baste, fora torcerem para ñ virar o estilo definitivo dos caras isto aqui ahah

No mais, lembro-me duma outra polêmica, a meu ver EQUIVOCADA, por ele suscitada: quando resenhado no www.novometal.com, site q eu curto, o redator em questão desdenhava deste ser um disco CURTO – “Origin” tem pouco mais q 35 minutos – levantando para isso argumentos como custo/benefício duvidoso (ñ valer a pena comprar algo tão breve) ou suposta preguiça da banda em fazerem mais músicas… Como se alguns dos melhores álbuns de Slayer, Frank Zappa, Rush, Ramones e Motörhead ñ tivessem pouco menos de 40 minutos – cacete, o “Reign In Blood” ñ chega a 30 cravados e é a Bíblia do thrash! – e como se para fazer música foderosa se precisasse utilizar todos os 80 minutos duma mídia… fosse assim, Dream Theater seria a maior banda do mundo. E ñ é. Em suma:

Discão!

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CATA PIOLHO CLXVIII – ñ é mesmo caso de plágio (pq acho improvável os holandeses terem ouvido os brasileiros), mas ñ deixa de chamar atenção q o riff principal – tocado no início e no fim – em “Leaves” (The Gathering) seja idêntico ao dedilhado final de “Caso Sério”, do Golpe De Estado.