OITENTA E QUATRO
Em 15 de Abril último – no post “Napster Of Puppets” – o amigo Jessiê discorreu sobre os 20 anos do Napster e a treta do Metallica com os caras. De modo q há 20 anos eu comecei a ouvir:
“por q vc ainda compra cd se dá pra baixar de graça na internet?”
Ápice da situação: fui “enquadrado” do mesmíssimo modo por um desconhecido no metrô ainda este ano, voltando da Galeria e abrindo os q havia comprado. Murmurei q ainda gosto de comprar cd, e se ele ñ me entendeu, q se foda.
Passa o tempo, as contradições (pagar pelo q era de graça, pq agrega valor) assumem o lugar no momento tese – antítese – síntese da vez, e há uns 3 anos o q mais tenho ouvido é:
“como vc ainda ñ tem Spotify?”
A real é q eu ainda compro cd. Em rotina e quantidade q já me preocupou (vide os 450 adquiridos em 2018), a ponto de eu ter procurado tratamento pra compulsão. Sério.
Mas os últimos 3 anos aqui em São Paulo têm sido avassaladores. Bazares e sebos com cd’s a 1 real, 1 a 3 /2 por 5, 5 reais e etc. A real é q eu compro cd, agora ainda mais, pq está BARATO. Mais q caixinha de fósforo, q na padaria aqui perto já tá 1,50.
E ñ é q eu compro qualquer tranqueira por impulso, só pq está barato. Exemplo: continuo virgem de discos do Skank. Pra mim, nem pra descanso de copo serve. Pra conhecer e acabar curtindo? Putz. E se eventualmente eu pegar, vai ser pela caixinha.
Por sinal, caixinhas andam difíceis de se encontrar. Caixinha de cd duplo, muito mais.
Pois ontem, em momento singular da vida no qual uma paciente havia pedido pra remarcar a sessão para hoje à tarde (o habitual é q eu faça bem a ela, ñ o contrário), resolvi ir ao bazar fuleiro em q estou sempre passando. Às terças-feiras.
Resultado final: 84 cd’s a 160 reais. Assustador até pra mim, fiquei atordoado. De lotes q haviam chegado ontem mesmo. Compartilhei com amigos, junto do rumor: q era de loja da Galeria q tinha falido e doou. Porra nenhuma, nenhum lacrado. Exemplares de coleção, sobretudo os de punk/hardcore.
Certamente, como o märZ me soprou, de alguém q faleceu e a família doou. Por luto (tipo se livrar das lembranças o quanto antes) ou por preguiça/incapacidade de vender isso on-line. Nego q vira crente ñ doa cd: queima ou joga no lixo. Tem coisa ali q se eu vendesse 2 (como “Sandinista!” + “Trout Mask Replica”) já me voltariam os R$160.
Mas ñ pretendo vender. Ñ, por ora. E se o fizer, especificamente alguns, já prometi prioridade. Mais de um amigo me pediu prioridade em venda – e são cd’s diferentes – então os amigos aqui q o fizeram (fica o sigilo), fiquem tranqüilos.
Compromisso firmado no fio do bigode ahah
Contando o ocorrido no grupo dos colecionadores acumuladores no Facebook, tb me chocou o tanto de empatia (gente me parabenizando pelo feito, sabendo do q se trata), ao mesmo tempo em q recomendei o local. Ao qual 3 colegas por ali foram ainda hoje mesmo.
“Nuvem de gafanhotos” é uma imagem q me ocorreu.
Do q me agradeceram e absorveram outros 170 cd’s (100 de um, 52 dum outro, 18 dum outro lá), no q me ocorre a ajuda ao bazar TB, oras.
E se muito desse material já foi mesmo da esmerada coleção de alguém, tenho q cuidarei bem do espólio. Agora, literalmente como se fosse meu.
E é claro q o espaço vai ficando complicado pra guardar tudo. (De q espaço estaríamos falando?). E é claro q o hábito é anacrônico e tende à extinção. E é claro q isso tudo ñ vai pro meu caixão (até pq serei cremado). E é óbvio q isso é um tanto compulsivo e me tomará muito tempo pra absorver. E é claro q meu recorde anterior era de 42 cd’s duma vez, em Londres/2017. (Dobrei a meta). E é claro q a música ñ é o cd… como ñ era o lp, nem a fita cassete, ou o pendrive, nem o compartilhamento e tampouco a assinatura de música.
Música é música. E vice-versa. Imaterial e ñ ocupa lugar no espaço. Mas ocupa.
Rodrigo
7 de outubro de 2020 @ 07:35
Tamo junto, também sou compulsivo com isso, e sou um “analog man” como diria o Accept pra esses assuntos. Netflix, Spotify, Deezer, etc, pra mim é tudo palavrão, nem sei mexer com isso. Não consigo parar de comprar discos e o “pior”, com o tempo vou ficando mais eclético e então sempre tem muita coisa pra adquirir.
Tenho duas preocupações principais com esse vício: a primeira é a citada aí por você, espaço. Eu faço malabarismo pra caber tudo e como sou metódico, organizo tudo direitinho, ordem alfabética e tals, não consigo deixar bagunçado. E segunda preocupação, que só me veio ano passado quando tiver que comprar um aparelho de som: tá ficando difícil achar tocadores de cd´s. Não estão produzindo mais, ficará difícil adquirir essa porra quando os nossos estragarem.
Marco Txuca
7 de outubro de 2020 @ 10:58
Estendo a preocupação em duas bifurcações, camarada:
1) ñ estão fazendo mais tocadores de cd e tb tocadores de dvd. Pra piorar mais ainda, notebooks recentes têm sido feitos sem drives de cd
2) isso provavelmente gerará uma menor e mais cara oferta de assistências técnicas. Aconteceu esse processo com os toca-fitas de carro
Solução é procurar algum tocador de cd usado e em bom estado pra comprar antes de inflacionar tb.
FC
7 de outubro de 2020 @ 11:15
Já tive discussões sérias com um ex-amigo (bolsonarista, claro) porque não tinha quem conseguisse convencer o sujeito de que o pen drive dele não era igual à minha coleção.
O cara quase teve um colapso (sério!) quando comprei uma terceira versão diferente do Seventh Son. “Cara, essas músicas você pode ouvir pela internet!”, era o que dizia, sem jamais sequer cogitar a possibilidade de que qualquer mané consegue baixar, não apenas ele.
Uma das últimas vezes em que falei com ele foi quando me ligou pra avisar que o Book of Souls já estava no Mural do Classic Rock para baixar. Só respondi “Tá”.
Sobre o tema do post, atualmente eu só compro coisas das bandas que coleciono (Iron, Queensryche e Helloween) ou quando encontro alguma promoção como a citada. Isso, basicamente por dois fatores:
O Spotify, pra mim, tem sido sim uma ferramenta pra lá de útil, tanto pra conhecer sons novos, como pra ouvir coisas antigas pela primeira vez. Essa semana, por exemplo, mergulhei nas discografias da Madonna e do Jesus & Mary Chain. Não faria sentido eu comprar os CD’s só com essa finalidade.
O outro fator é o espaço mesmo. Tanto que os meus CD’s hoje estão alojados num case (os encartes, separados numa caixa) porque não tenho lugar pra guardar. Dói em mim eles estarem armazenados desse jeito, mas acredito que isso tenha contribuído um pouco no desapego, fazendo com que eu parasse de comprar aleatoriamente.
märZ
7 de outubro de 2020 @ 11:17
Já te disse que isso que ocorreu com vc seria o equivalente a ganhar na mega sozinho ou tropeçar numa pepita de ouro de 15kg, pelo menos no nosso mundo. You lucky bastard.
Também padeço da falta de espaço, ou como costumo dizer: falta de paredes, pois todas já viraram escora de prateleiras de livros e cds.
Que também não levarei pro caixão, ficarão provavelmente com um dos meus sobrinhos, o único rocker entre 9.
Aliás, já procurou saber sobre a imensa burocracia para ser cremado? Praticamente tem que fazer um testamento, registrar tudo em cartório, distribuir cópias pra família, e já deixar contrato assinado com a funerária e conta (altíssima) paga. Tudo junto não sai por menos que 10 paus.
Jessiê
8 de outubro de 2020 @ 19:55
E o pior que CDs estão tomando o caminho de valores sem noção do vinil. Tem pencas usados acima de 100 reais no ML.
Marco Txuca
8 de outubro de 2020 @ 22:34
É por essas, Jessiê, q agradeço diuturnamete a Crom por morar em SP. Cd a 1 real. Ñ entro nessas de ML: muita picaretagem, muito ágio e, às vezes, muita mercadoria errada.
Acabei voltando ao bazar quarta e peguei mais 8 cd’s, mais pra jazz e o tal Mission Of Burma. E hoje há pouco (à tarde) passei num outro sebo aqui do bairro (ñ ia desde março) e peguei outros 10 cd’s. 45 contos.
Whitesnake, Enigma, Beatles (pra vender), David Bowie, Satriani, Smiths e a coletânea “Hollywood o Sucesso”!
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FC: esse povo adepto das novidades nunca acha rumo. Sendo bolsonóia, ainda pior.
E ñ entendem a questão do “remasterizado”. Pra eles é só a banda lançando algo repetido pra fazer fã de trouxa. Ñ dá nem pra começar uma conversa.
Faz arminha e sai andando.
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märZ: ao q me consta o serviço funerário por aqui é municipal e gratuito. Crematório aqui é único e público. Ao q me consta, a cremação da minha mãe ñ envolveu tanta grana e burocracia, posso estar errado.
Rodrigo
9 de outubro de 2020 @ 07:44
Quando eu fiz minhas eurotrips (bons tempos) foi uma maravilha, era mais barato comprar um CD do que tomar um copo de café! Voltava com as malas cheias. Acho que como fãs de heavy metal a gente tá num tempo bom pra comprar CD´s, pois muita coisa tem sido lançada aqui no Brasil, até bandas “Série D” que nunca eram licenciadas aqui. Já artistas mainstream não têm sido lançados aqui, vai entender.
märZ
9 de outubro de 2020 @ 09:31
Rodrigo, sobre os lançamentos de cds por aqui: conversava dia desses com os cabeças de dois selos nacionais, Hellion e Voice, e me diziam que é muito mais fácil lançar cds de bandas desconhecidas do segundo e terceiro escalão do que do primeiro.
Primeiro porque os direitos e copyrights são bem mais baratos, e segundo porque se tiver qualquer mão de gravadora major no meio, a coisa tende a melar. Não lançam nem deixam lançar, e se abrem para licenciamento, pedem uma fortuna.
Aparentemente Noise e SPV alemãs são complicadas pra isso, visto que lá fora jé se encontra há anos versões remaster caprichadas da discografia inicial de Kreator, Sodom, Celtic Frost, Destruction, Helloween, etc. E por aqui, só pagando 140 paus (ou mais) num importado.
Rodrigo
9 de outubro de 2020 @ 11:30
Com certeza é muito mais simples lançar bandas pequenas, mas estão lançando coisas que nunca foram lançadas aqui, nem nos tempos áureos do cd. E muita coisa em edição caprichada, com poster, slipcase, etc.
Marco Txuca
9 de outubro de 2020 @ 21:24
Sobre esse ponto, isso trouxe desconfiança até pra lojistas. Um dos sócios lá da SoWhat uma vez veio com esse papo: “mas será q estão pedindo autorização pra lançar?” Pq está saindo muita coisa antiga, sim, q nunca nem tinha saído em lp aqui.
Mas às vezes com capas parecendo xerocadas, meio na má vontade. Ou em versões q ñ remasterizadas, bastante na má vontade.
Exemplo: comprei “Thrash Zone” (D.R.I.) dessa leva q a Hellion anda relançando. Disco ótimo, mas ñ remasterizado, como já saiu lá fora comemorativo.
Tem q peneirar. Tem um pouco de “gato por lebre” nessa história. E tb aquilo de peneirar, como ponderou o FC, aquilo q é essencial: o on-line ajuda a gente a conferir se vale mesmo a aquisição.
Fiz isso com o Acid e passou no teste. Comprei os três.
Marco Txuca
9 de outubro de 2020 @ 21:26
Ao mesmo tempo em q a Cogumelo tem caprichado. Relançamentos digipack duplos de Holocausto, Witchhammer e Overdose. Às vezes a qualidade do dvd bônus é questionável, mas ñ o valor histórico.
A serem apreciados enquanto se assiste a algumas das lives clássicas do Jessiê no @bangersbrasil