THRASH COM H CLASSICS
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formação: Tommy Vetterli (guitar), Ron Broder (bass, vocals), Markus Edelmann (drums)
Ñ me soa justo colocar o Coroner no balaio das bandas injustiçadas, mesmo pq eles (ainda) têm um seleto grupo de fãs. No entanto, colocá-la no rol das bandas “incompreendidas”, isso é certo. E triste.
Como tb considero insuficiente o fato de serem mais conhecidos como banda de “ex-roadies do Celtic Frost” do q como um trio thrasher excepcionalmente talentoso e inventivo. Folclore vil…
Até mesmo pq só Tommy Vetterli e Markus Edelmann foram os roadies. E numa única turnê, a ‘Tragic Serenades Tour‘. Para além disso, os vínculos com o Celtic Frost , fora salutares influências (citadas abaixo), residiram tão mais em Tom Warrior gravar participação vocal na demo “Death Cult” e cunhar a letra de “Spiral Dream”, do álbum inicial, “R.I.P.”.
(Q foi disco de estréia, e ñ de encerramento de atividades, como muitos poderiam acabar supondo. Se bem q acho q só eu me equivoquei por um tempo nisso…)
Outra comparação menos conhecida é a q os dava com um “Rush thrash“. Baseada no fato de terem sido trio, com vocalista/baixista e em o – ótimo, porém discreto – baterista Edelmann haver sido o letrista oficial por ali (como o é o baterista dos canadenses…). Ñ apenas a endosso como a estendo, por conta do VIRTUOSISMO SÓBRIO exibido por ambas formações; e a canadense, sobretudo a partir de “Signals” (1981) até hoje. Bandas formadas por gente acima da média tecnicamente, mas q canalizam/canalizaram esforços, modos e escalas em prol das composições e arranjos, e ñ de esterilidade exibicionista. E q o único elemento contrário, voltando aos suíços, eram os vocais bem Destrúcho (rasgados) de Broder, q resguardavam o Coroner de tornar-se totalmente polido.
Os comparo ainda a outra banda, tb subestimada mas mais influente: Voivod [S.U.P. dez/04]. Principalmente na ostentação e manipulação de dissonâncias e ambiências futurísticas, q o trio sempre dosou melhor. Pq tb tocavam melhor. E como se, em vez de movidos por marijuana e/ou ácido – como esses canadenses outros (ou será q ñ?) – fossem estimulados mais por anfetaminas ahah
Algo ainda fantástico a se reparar nesses caras é a lucidez de proposta exibida, desde “Death Cult” até este “Coroner” final e mezzo póstumo: o Coroner foi das raríssimas bandas – e ñ lembro agora outras pra listar – q teve a MESMA ASSINATURA sempre, sem q isso tivesse implicado em acomodação (‘fórmulas’) e em auto-indulgência caricata (aquilo do Iron Maiden, p.ex., ñ sair das músicas parecidas para ñ se comprometerem ou venderem menos), q acabaria resultando em músicas por “análise combinatória”. Lógico q a demo, “R.I.P.” e o “Punishment For Decadence” iniciais pecam na produção suja e meio tosca, mas o ‘jeito Coroner de compor’ sempre esteve ali (a tão sonhada ‘química’ entre integrantes), tendo ocorrido um burilar deste até o auge em “Mental Vortex” e “Grin”, q teria sido o derradeiro por conta da frustração em ñ se verem reconhecidos, o q lhes ocasionou a separação.
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=b6i4VwcH2ps[/youtube]
Só q, por conta de deverem ainda um álbum pra Noise Records, 1 ano depois “Coroner” foi cometido – por isso o “mezzo póstumo” acima. Sendo álbum ¼ ‘greatest hits‘, um pouco ao vivo (“Reborn Through Hate”), com metade de inéditas, e q ainda conta com remixes.
O ‘samba do crioulo doido’ vindo dos Alpes, afinal. Com o perrengue grave de ñ haver contado com Edelmann em 3 dos sons novos (um certo Peter Haas foi o baterista em “The Favorite Game”, “Shifter” e em “Golden Cashmere Sleeper I”, o q só se percebe indo atrás da informação) nem com Broder em “Golden Cashmere Sleeper II”, substituído por um certo Chris Vetterli (irmão de Tommy certamente). Mas q no cômputo final, ao contrário do q possa parecer, soa mesmo assim coeso e instigante. Algo tão provável quanto a Suíça produzir os melhores chocolates do mundo sem nem plantarem um pé de cacau…
Falando das inéditas, coerentes como seriam sons novos com a banda ainda ativa: à exceção das “Golden Cashmere Sleeper”, um tanto experimentais, embora densas e apreciáveis, e nas quais a 2ª parte soa mais desenvolvida (a 1ª parece a introdução pra 2ª, q é instrumental), são todas excelentes. Embora “Shifter” ñ sendo tanto do meu agrado (por questão de gosto, e de me parecer, minimamente, coisa já composta pela banda anteriormente). “Benways World” e “The Favorite Game”, a 1ª introdução à subseqüente,praticamente valem o álbum; o belíssimo solo de guitarra nela é coisa pra convencer o true mais refratário.
“Gliding Above While Being Below” tb é praticamente instrumental (certamente refletindo a separação dos sujeitos) e tem algo de Annihilator – vai ver Vetterli (o mais ostensivamente virtuoso deles) e Jeff Waters estudaram idênticas vídeo-aulas ahah – e fosse o mundo menos injusto, seria pro Coroner aquele tipo de música de antigamente rotulada como ‘música pra propaganda de cigarro’. Digna e decentemente; com espaços nada exagerados para cada um dos 3 se mostrar: coisa fina. “Der Mussolini”, por sua vez, sendo versão de banda q sinceramente desconheço, estendeu aquilo q me soa a influência Celtic Frost mais patente no som dos caras, q a partir de “No More Color”, em “Last Entertainment” – aqui revisitada (e mais distorcida, tendo ficado melhor q a original) – tal como com “Serpent Moves” (do “Grin”, aqui repetida idêntica) foi parindo sons experimentais na linha de os vocais serem locuções longínquas e distorcidas. Muito boas.
Tal “influência Celtic Frost“, notadamente das maluquices perpetradas em “Into the Pandemonium” tb embasaram, por certo, os remixes aqui presentes. A versão de “Purple Haze” do “Punishment For Decadence” era algo mais óbvia: tipo molecada repleta de hormônio e idiossincrasia revisitando clássico do rock visando adulterá-lo, corrompê-lo um tanto, chamar atenção. A q está aqui virou um reggae cibernético, repleto da dicotomia tão cara a eles ao longo da trajetória, de EQUILIBRAREM som e silêncio, como poucos no metal até hoje fizeram. “I Want You”, q ñ conheço, tampouco faço questão de conhecer a versão original, é a mesma do “Mental Vortex”, com os destaques sendo a conjugação limpidez + peso guitarrística e as brechas pra Broder se mostrar um pouco no baixo (era o menos ‘aparecido’ dos 3). Além do refrão q fica na cabeça por horas.
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Já o remix de “Grin” é coisa grave. Pra deixar fã revoltado. E de q lanço mão de interpretose assim: do jeito deturpado q ficou, é coisa pra agredir a quem ñ os reconheceu quando ativos, ou tb incomodar os mais radicais, com o q corrobora haver ficado com mais de 8 minutos repletos de bips e batidas eletrônicas (bem poperô) atrozes. Ñ supera mesmo a original, e a destaco ainda assim por conta da produção haver conciliado heroicamente elementos às vezes díspares dum modo q mesmo bandas recentes voltadas aos remixes – como Prong e Fear Factory – mal conseguem/conseguiram.
Os sons outros, conhecidos, dividem-se entre os antigos e mais repletos de notas (auspícios punheteiros bem – pra banda – domesticados), como “Reborn Through Hate” – q a rifferama inicial me remete a Randy Rhoads. Viagem? – e o hit “Masked Jackal” (do único videoclipe q a mtv sempre passou da banda) – q tb faz a comparação ao Rush voltar: mesmo ñ sendo um Geddy Lee, vê-se a tremenda dificuldade técnica em se cantar e tocar junto os baixos – e os então recentes “Divine Step (Conspectu Mortis)” e “Serpent Moves”, talhados em palhetadas enxutas e de timbragens futurísticas únicas, porém jamais meia boca. E todos, mais concisos ou menos, repletos da naturalidade em utilização de compassos ímpares (coisa q só tirando pra tentar tocar se percebe. “Last Entertainment” é duma sutileza atroz nisso) e da dinâmica som-silêncio citada há 2 parágrafos. Como tivessem trocado notas por notas E PAUSAS, no q a ênfase em climas e ambiências tornou-se ainda melhor e marcante. E marca esta q tvz pudéssemos acusar até como influência para Helmet e Prong noventistas, caso estes os tivessem conhecido, o q acintosamente duvido.
O q se sabe e soube dos caras após o Coroner é q Edelmann teria tomado parte no Apollyon Sun, projeto de Tom Warrior pós-Celtic Frost poser e de banda formada (Clockwork – alguém conhece?) brevemente por Vetterli anteriormente à sua passagem pelo Kreator [S.U.P. nov/03], onde participou de “Outcast” e “Endorama”, ñ por acaso os álbuns mais experimentais e góticos dos alemães do frontman corcunda. E merecedores do corriqueiro comentário de ñ terem sido adequados pra Vetterli mostrar sequer metade do q fazia no Coroner, com o q eu concordo até certo ponto: pq as ambiências, dissonâncias sutis e climas contidos nesses 2 álbuns nada mais me parecem q a marca registrada por ele imprimida à banda. Imagino q o cara tenha saído, ou sido chutado, quando do tentar compor algo em 5/4 q Mille Petrozza ñ conseguiu tocar e por isso o demitiu ahah
Outra notícia alvissareira q se teve foi há uns 2 anos, de se ter uma VOLTA deles, q acabou ñ ocorrendo (por isso o ‘alvissareira’), com comunicado de alguém ali (sei lá se foi Vetterli ou Edelmann quem soltou nota) dizendo haverem chegado, após conversas e/ou breves ensaios (ñ lembro), ao consenso de ‘melhor ñ voltar’. Lucidez, sobriedade e equilíbrio – 3 das palavras com q se pode descrever o Coroner, afinal – prevalecendo tb em seu postmortem.
Penso, afinal, q “Coroner”, presta-se a extremos: sendo respeitável testamento da banda, ao mesmo tempo em q estupendo cartão de visitas a quem ainda ñ os conhece. Pra um 1º contato com o Coroner, é coisa excelente, por ñ oferecer em nenhum momento (a despeito das gambiarras de instrumentistas avulsos) qualquer mínimo desvio do q foram em sua trajetória austera e coerente, q insucesso comercial e o término súbito ñ conseguiram macular.
bonna, generval v.
23 de junho de 2012 @ 14:54
Sério que não conhece a original de “I Want You”. Faça um favor a si mesmo:
http://www.youtube.com/watch?v=mW6G3nh5S3I
bonna, generval v.
23 de junho de 2012 @ 14:55
faltou uma interrogação aí, mas acho que deu para entender a mensagem.
doggma
25 de junho de 2012 @ 18:13
É… mais uma excelente e minuciosa resenha do señor Txuca. À altura dos convivas da vez. Meus 2 cents: “Coroner” fotografa um banda que transcendeu o thrash metal sem necessariamente virar as costas para ele.
heh… curioso como você achava que R.I.P. era o álbum de despedida. Pensando bem, pra uma banda com o nome “Legista”, nada mais adequado pra iniciar os trabalhos discográficos com o título “Descanse em Paz”, hehe
Tiago Rolim
26 de junho de 2012 @ 16:06
Meio OFF mas dentro “da banda”; ja ouviu ou viu por ai na net um disco de raridades, bônus, musiacs ao vivo e remixes do Coroner lançado este ano chamado
The Unknown. Rare And Unreleased [1985-1995] (2012)
Se não, o recomendo fortemente pois se trata da melhor raspa de tacho da história recente do Metal!! E sem contar que, em tempos de downloads desenfreados, é um ótimo regalo da turnê que vc se referiu.
Marco Txuca
27 de junho de 2012 @ 02:22
Sem pudores desnecessários, cara: é ON topic o lembrete!
E fico pensando: raspa de tacho do Coroner deve ser muito melhor q muito disco de muita banda recentemente incensada – nomes aos bois: In Flames, Hammerfall, Nervosa (q nem tem demo ainda), e por aí vai.
Alguém, no mais, viu o vídeo q linkei por aqui: é coisa da turnê recente, da volta. Reparem na fuça dos caras: Ron Broder é outro cara!!!