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Sabbath Martin

“Live Headless In Russia”, Black Sabbath, 2010, Sony DADC Brasil/VZ Multimídia

sons: HEADLESS CROSS / NEON KNIGHTS / CHILDREN OF THE SEA / IRON MAN / CHILDREN OF THE GRAVE / MC / WHEN DEATH CALLS / WAR PIGS / TONY IOMMI SOLO (+ DIE YOUNG, ñ creditada) /TONY IOMMI INTRODUCTION BLACK SABBATH / HEAVEN AND HELL / PARANOID

formação: Tony Martin (voz), Tony Iommi (guitarra), Neil Murray (baixo), Cozy Powell (bateria), Geoff Nicholls (teclados e backing vocals)

Sim, é um bootleg. Um daqueles muitos dvd´s piratas oficiais, lançados de vídeos de internet ou gravações vhs, o q os “selos” acima comprovam. Vendidos em lojas, ñ em camelôs. E com irrestrita e descarada má-fé na apresentação, tendo capa e contracapa com fotos da formação original Iommi, Osbourne, Geezer e Ward, assim como apresentação interna de cada som – exceto as sem crédito “MC” e “Tony Iommi Solo” – de autorias atribuídas a “T.G.Butler, T.Iommi, O.Osbourne, B.Ward”. O tipo de produto destinado a trouxas/desavisados de 1ª viagem em Black Sabbath ou a interessados excêntricos, como eu.

Minha história com esse show, ocorrido em Moscou em 1988 na turnê “Headless Cross”, remonta a um bar em Jundiaí, Toca do Rei, onde toco com o Motörhead Cover uma ou duas vezes por ano. Na única em q lá tocamos em 2013, o dono deixou esse vídeo rolando numa tvzona e, embora pouco desse pra ouvir (rolavam as bandas no palco próximo), consegui reconhecer e me interessar, sobretudo, por ser a formação com Cozy Powell, q nunca teve – e creio q jamais terá – qualquer lançamento oficial.

Fiquei muito a fim de comprar e tentei ir atrás, sem sucesso, apenas encontrando-o no You Tube. Onde, diante das dificuldades de velocidade de minha internet, jamais consegui passar da “War Pigs”. Voltamos a tocar nesse mesmo bar mês passado, e eis ver o “produto” à venda no balcão. Prontamente adquirido, eis a lembrança original da qual ñ me lembrava: havia visto esse “dvd” à venda, sim, numa Livraria Saraiva muitos anos atrás e, ante a provável mixaria de imagem e som – fora o dolo da formação equivocada citada e visível – simplesmente havia desdenhado e deixado pra lá.

De qualquer modo, o mais bizarro deste produto “Live Headless In Russia” é q video e áudio estão melhores no You Tube mesmo. Curiosamente, só a guitarra e o vocal ñ estão abafados. Menos mal ter custado 15 contos.

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Ñ discuto ou questiono a praticamente unanimidade negativa sobre a “fase Tony Martin sabbáthica: apenas relevo o material de estúdio lançado em “Eternal Idol” e “Cross Purposes”. Tb me solidarizo à conhecida queixa de Martin de se sentir “apagado” da História da banda. Por pior q tenha sido, fez parte da banda e tocou com a mesma em momento pra lá de desacreditado, em confins do mundo onde jamais tinham tocado, com Ozzy, com Dio ou com Gillan.

O lugar onde se deu este show parece um teatro ou ginásio pra lá de distante do auge de arenas e estádios onde a banda tocou: fica meio constrangedor ali pro final, quando umas tomadas de câmera mostram o quão acanhado era o lugar. Assim como parcela do público, nada a ver com headbangers. O q ñ importou, certamente, já q a apresentação é bastante profissional, ñ obstante o zero carisma de Martin.

A outra grande coisa bizarra deste produto: Iommi em 1988 parecia BEM MAIS VELHO q agora em 2013. Linfoma à parte, deve ter enxugado muito do goró e reduzido muito do pó de lá pra cá.

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Pra quem resolver encarar, uma constatação: Martin cantava muito bem os sons de Dio (“Neon Knights”, “Children Of the Sea” e o início de “Heaven And Hell” ficaram muito boas), e muito mal os de Ozzy. Como Dio, aliás. Igualmente parecendo entoá-los como se tivesse uma batata quente na boca. Nas duas de sua “fase”, contou com auxílio no backing – vide “Headless Cross”, em q miguela o refrão – o q até ñ compromete. O carisma zero em alguns momentos fica até divertido: tentou entreter a galera, acena o tempo todo, aponta pra pessoas no fundo e chega a agradecer aos soviéticos com um tradutor presente (é a “faixa” “MC”). Sujeito tentava.

Por outro lado, Iommi andava em má fase: ñ q comprometa execuções de quaisquer sons, mas o faz nos improvisos e solos livres, como os momentos já manjados pré-“Die Young” e “Black Sabbath” (acho pra lá de anti-climáticos), nos solos em “War Pigs” e “Paranoid” (nenhum igual às versões em estúdio) e nos improvisos da desnecessariamente gigantesca (gigantosca?) “Heaven And Hell”: bisonhos e nada a ver. Neil Murray era um baixista de recursos (só vendo entendi q o início em “When Death Calls” é um tapping de baixo), mas requintado demais pro time; além disso, a edição do material pouco permite vermo-lo. Bizarrice é Geoff Nicholls quase aparecer mais q ele.

Cozy Powell, por sua vez, é mostrado relativamente bem, ainda q o áudio de sua bateria esteja bem abafado. Usa e abusa de viradas e rimshots (como sentava a mão!), pira nalguns momentos espancando o gongo, enfiou levada de 2 bumbos blasfema em “Heaven And Hell” e me deixou lamentando apenas, fora o ñ registro oficial de shows em q tocou, o quanto o Sabbath fase Dio (exceto em “Dehumanizer”) perdeu sem tê-lo nas artimanhas percussivas. O cara certo, sempre na hora errada. Vinny Appice – o Jason Newsted da bateria – é o caralho.

Ñ acho q ofende a ninguém gastar 15 contos nisso. Ou perder uma horinha de download. Ñ é pior q o decadente oficial “Cross Purposes Live”, lançado mais adiante. Ñ agradará fãs de 1ª viagem, mas tvz desmistifique um tanto a tão propalada ruindade da era Tony Martin. Era – e o show no Monsters Of Rock em 1994, ainda me é de lembranças horrendas (ñ só por ele) – mas teve potencial e tvz tivesse rendido melhores momentos, ñ fossem os momentos mercadológicos infelizes e de baixa inspiração, o repertório obrigatoriamente revisitando Ozzy e Dio, os posteriores entra-e-sai do anão e a volta magnânima em “13”.

Glenn Hughes tem mais lobby favorável (e, claro, mais voz, mais carisma e mais talento), e cometeu um álbum horrível q nem Black Sabbath era. Pô.

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CATA PIOLHO CCXXXV – Jogo dos 7 Erros Capístico:

"Statovarius", Chatovarius (2005)
“Statovarius”, Chatovarius (2005)
"Symmetry In Black", Crowbar (2014)
“Symmetry In Black”, Crowbar (2014)