SERVIÇO DE UTILIDADE PÚBLICA THRASH COM H

“Carnaval”, Barão Vermelho, 1988, WEA

sons

  1. LENTE (Frejat/Arnaldo Antunes) *
  2. PENSE E DANCE (Frejat/Dé/Guto Goffi) *
  3. NÃO ME ACABO (Paulo Miklos/Arnaldo Antunes) *
  4. ¿O QUE VOCÊ FAZ À NOITE? (Dé/Humberto Gessinger) *
  5. NUNCA EXISTIU PECADO (Frejat/Guto Goffi) *
  6. COMO UM FURACÃO (Frejat/Guto Goffi/Dé/Sergio Serra)
  7. QUEM ME ESCUTA? (Frejat/Guto Goffi)
  8. SELVAGEM (Frejat/Guto Goffi)
  9. CARNAVAL (Peninha/Frejat/Chacal/Rachel)
  10. ROCK DA DESCEREBRAÇÃO (Frejat/Cazuza) *

formação: Roberto Frejat (voz, guitarra, violão e vocais), (baixo e vocais), Guto Goffi (bateria e vocais). Participações mais que especiais em todas as faixas: Fernando Magalhães (guitarra) e Peninha (percussão e vocal em “Não Me Acabo”)

participações outras: Iuri (teclados em “Pense e Dance”); Maurílio (trumpete em “Carnaval”); Cezinha (conga-base em “Carnaval”); Hugo Fattoruso (piano em “Carnaval”); Jorjão Barreto (piano elétrico e órgão em “¿O Que Você Faz À Noite?” e piano em “Como Um Furacão”); Jurema, Jussara, Zé Roberto e Ronaldo Barcelos (vocais em “Selvagem”, “Pense e Dance” e “Como Um Furacão”); Ronaldo Barcelos (vocal em “¿O Que Você Faz À Noite?”); Don Harris, Bidinho, Serginho, Léo Gandelman, Zé Carlos, André Gomes (metais em “Como Um Furacão”); André Gomes (cítara em “Nunca Existiu Pecado”)

Estamos no 3º dia de 2012, afinal. Finalmente essa porra de Carnaval já se foi… ao menos até daqui 15 dias, quando começam as “micaretas”. Ou até daqui uns 3 meses, quando começarão os preparativos para o PRÓXIMO. Pff!…

Por outro lado, acho uma merda q “Carnaval” – pra mim, o insuperável melhor álbum cometido pelo Barão Vermelho – tb tenha passado. Disco pesado, visceral e muitíssimo bem produzido q ñ gerou descendência paudurescente na carreira dos cariocas.

Pelo menos ñ nas 6 melhores faixas, asteriscadas acima – lado a todo + a última do b, no vinil – uma vez q as faixas q considero menores e bastante genéricas por aqui (a trinca “Como Um Furacão”, “Quem Me Escuta?” e “Selvagem”), se ouviu demais nos álbuns seguintes deles: aquele monte de roquinhos light, com letras em análise combinatória (sempre contendo “felicidade”, “desejo”, “prazer” ou versos de pára-choque de caminhão tipo “viver é uma viagem”), tipo as levas anuais de sambas-enredos (q até há alguns anos pareciam sempre conter “miscigenação”, “negritude” ou “navegador”). Adicional ruim é o riff em “Selvagem” roubando descaradamente “Jumpin’ Jack Flash”.

A faixa-título, q acho legalzinha (a despeito da letra besta), gerou tb descendência: curiosamente poderia constar do álbum de estúdio seguinte, “Na Calada Da Noite”, em meio à mixórdia (felizmente abortada) de latinidades, mpbzices, violões e maus experimentalismos dele q, ainda q muitíssimo melhor sucedido comercialmente, acho o pior dos caras.

**

Tenho uma teoria sobre “Carnaval”: a de ter sido um álbum de FODA-SE O MUNDO dos caras.

Os 2 álbuns anteriores, “Declare Guerra” (1986) e “Rock’n’Geral” (1987), ficaram no vácuo, devido à saída do Agenor “mamãe vive da minha morte” Cazuza. Ninguém lhes deu muita bola, q tinham lá suas cançõezinhas passáveis, mas montes de co-autores (Renato Russo, Arnaldo Antunes, Julio Barroso, Antonio Cícero) letrísticos em momentos pouquíssimo inspirados. Sofríveis até: parecendo ter dado à banda o refugo de seus cadernos de rascunhos.

Frejat, Guto Goffi e companhia parecem ter resolvido então tocar o puteiro.

Botaram um PESO inédito nuns sons (“Lente”, mesmo lembrando de leve “Chega Mais”, de Rita Lee, assusta!), órgãos hammond numa pá de outros (“Pense e Dance”, “¿O Que Você Faz À Noite?”), metais (“Como Um Furacão” caberia no “Carne Crua” adiante), backing vocals (vide acima, nos copiosos créditos) adoidados, guitarras dobradas ou harmonizadas, repletas de riffs e SOLOS e o escambau. Mas fizeram tb o primordial: estavam inspirados, como tb as parcerias.

Descontados, reitero, os sons “genéricos” listados. “Não Me Acabo”, única despojada de percussão e enfeites, nunca ficaria boa caso gravada pelos Titãs; “¿O Que Você Faz À Noite?”, de letra (ótima) de boteco q aprimora “Por Que A Gente É Assim?”, igualmente em se tratando do Engenheiros Do Hawaii; “Pense e Dance”, radiofônica (pena q a única) e constando em trilha de novela global, consegue ser acessível, pesada (q bases são aquelas?) e produzida com esmero, como raríssimas vezes se conseguiu no rock brasileiro.

Como tudo isso ñ bastasse, recorro às resenhas do heavy metal q tanto consagram as duplas guitarrísticas – Dave Murray & Adrian Smith, Jeff Hanneman & Kerry King, K.K. Downing & Glenn Tipton – pra cometer a heresia aproximadora do maior destaque instrumental aqui: nunca num álbum bateria e percussão soaram tão sincrônicas, integradas e simbióticas. O trabalho de Peninha na maior parte dos sons – e com evidentes pirações em overdubs, mas foda-se – é simplesmente ASSOMBROSO: “Rock Da Descerebração” é praticamente heavy metal ainda antes q as guitarras PESADAS entrem, pra somar ao estrago e pouco deixar pra rescaldo.

Igualmente os casos de “Pense e Dance” e “¿O Que Você Faz À Noite?”. Congas com cãimbra, tumbadoras from hell, afoxés epiléticos, bongôs blasfemos. Lembro do falecido Chico Science ter citado “Carnaval” como inspiração pra Nação Zumbi. Ñ chegaram nem perto, mas tem a ver.

Frejat tb me é destaque cantando: pareceu conseguir soltar a voz comedida de sempre. Soltou a franga. Ainda q tenha emulado o Cazuza de sempre em “Rock Da Descerebração”, ñ torna o resultado menor ou chupim. “Nunca Existiu Pecado”, q nem penso ser a melhor balada dos caras, é ao menos ousada e tem vocal pungente. Montes de sons têm gritos e vocalizes (ouçam “Não Me Acabo”), q jamais voltaria a repetir.

**

Houve um álbum ao vivo seguinte a “Carnaval”, “Barão Ao Vivo”, q apesar de ótimo, ofereceu à banda uma bifurcação ingrata: contendo deste apenas “Lente” e “Pense e Dance”, dedicou-se a registrar repertório da época do filhinho do papai dono da Som Livre na voz de Frejat. E daí se seguiram álbuns medianos – “Supermercados Da Vida” e “Carne Crua” – com a porção de duas ou 3 músicas realmente legais e encheção de lingüiça acompanhando, esquisitos (“Na Calada Da Noite”), anêmico (“Barão Vermelho” – aquele recente, com a pífia “Cuidado” mal chupinhada de Raul Seixas) ou ainda os realmente ruins (“@lbum” e “Puro Êxtase”) e os ‘ao vivo’ e unplugged redundantes.

Peninha e Fernando Magalhães, efetivados tempos depois, parecem ter botado os paletós nas cadeiras, como os típicos funcionários públicos estáveis. Apesar de momentos legais, ali e acolá.

“Carnaval” morreu nalguma 4ª feira de Cinzas na trajetória do Barão Vermelho. Menos mal q o deixaram gravando!

****

CATA PIOLHO CCII – inspiração sabbáthica, o Ministry nunca negou. Q o diga o projeto paralelo, 1000 Homo Djs e sua participação ‘supernáutica’ em “Nativity In Black”, bastante conhecida. Porém, dentre as faixas do famigerado “Psalm 69”, “Scarecrow” parece “homenagear” um pouco demais “Zero the Hero”, né ñ?