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Edição especialmente tercerizada, por Jessiê Machado

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“Don’t Break the Oath”, Mercyful Fate, 1984, Roadrunner/Combat

sons: A DANGEROUS MEETING / NIGHTMARE / DESECRATIONS OF SOULS / NIGHT OF THE UNBORN / THE OATH / GYPSY / WELCOME PRINCESS OF HELL / TO ONE FAR AWAY / COME TO THE SABBATH

formação: King Diamond (vocals), Hank Shermann and Michael Denner (guitars), Timi G. Hansen (bass), Kim Ruzz (drums)

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Era quase metade da década de 80, ainda não existia “Rock in Rio” e, conseqüentemente quase nada a nível de metal nacional, nada de internet, nem de informação na televisão, muito menos de mp3. Heavy metal ainda era uma terminologia pouco difundida em terras tupiniquins e pouco se sabia acerca do estilo, sendo que roqueiro era quem gostava de Blitz.

No cenário internacional, Metallica lançava “Ride the Lightning”, o Iron cometia “Powerslave”, Slayer era apenas uma banda com um bom álbum de estréia, e surgia uma banda nova chamada Celtic Frost, das cinzas de outra intitulada Hellhammer, que lançava um álbum obscuro, “Morbid Tales”.  O Death Metal ainda engatinhava, e o que se tinha de mais agressivo, fora bandas obscuras, eram o Venom com seu “Black Metal” (por enquanto apenas um nome de disco) e o Possessed.

Essa era a cena metálica mundial, e foi assim que o metal dinamarquês, até então sem nenhuma história no contexto musical pesado, surpreendeu o mundo com o 2º álbum da então desconhecida banda Mercyful Fate. Um nome poderoso. Uma das capas mais impactantes e fortes até hoje. Sendo durante muitos anos uma das camisetas mais disputadas entre bangers do mundo todo.

Rosto pintado não era de todo novidade, pois Alice Cooper fazia isso há décadas, e o Kiss idem: todavia, em ambos casos, era mais pra teatralidade e encenação, enquanto que no caso do vocalista aqui, um certo “King Diamond”, era diferente:  tinha uma conotação de medo, de filme de terror, até mesmo de magia negra e ocultimso. Isso chamava muito a atenção: ninguém sabia seu (real) nome, nem visto seu rosto sem maquiagem. Dizia-se que morava em um castelo, que tinha cicatrizes, que cantava com o microfone envolto nos ossos de sua ex-mulher… Uau, não tinha adolescente que não vibrava com tanto mistério.

Embora o que mais chamava atenção não era isso, e sim, a sonoridade única da banda, que foi chamada inicialmente de heavy metal clássico, ou só de heavy metal mesmo.

O disco abre com um clássico de cara, “A Dangerous Meeting”, de uma introdução magnífica (que com o tempo mostrou-se ser a marca da banda), muito trabalhada, riffs fortes e muita variação nas guitarras. Shermann e Denner eram guitarristas muito bons e com uma capacidade criativa invejável. “Quem será o primeiro a cair no transe?”, pergunta King já no início. E, de fato, é difícil não cair no transe que tal reunião perigosa causa. Simplesmente sensacional.

A próxima conta com um trabalho de baixo sensacional: “Nightmare” é uma canção sinistra (como os pesadelos podem ser) e tem uma modificação de ritmo em seu final que a torna ainda mais macabra e tenebrosa. O álbum segue com “Desecrations Of Souls” e “Night Of the Unborn”, na mesma linha de guitarras trabalhadas, muita técnica e uma variação de ritmo sensacional.

“The Oath” tem dois minutos de introdução arrepiante e assustadora, seguidas de um heavy metal muito bom, com os característicos vocais de King Diamond e as guitarras matadoras da dupla Shermann e Denner. Grande música, instrumental sensacional. As guitarras gritam!

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“Gypsy” é uma das músicas com maior variação entre o vocal, digamos, normal… e seu falsete, uma das preferidas de muitos fãs. Novamente com um sensacional trabalho de guitarras.

“Welcome Princess Of Hell”. Uma de minhas favoritas, com destaque para a evolução do baixo, principalmente no refrão. O trabalho de King também é fabuloso, que canta de uma forma diferente, meio rasgada.

“To One Far Away” é uma singela e pequena instrumental, a 1ª da banda, com um leve acompanhamento de King. Serve de introdução e plano de entrada para a próxima, um dos maiores hits da banda.

“Venha, venha para o Sabbath, sob a ponte em ruínas. Bruxas e demônios estão vindo”, “Mais tarde o Mestre irá se juntar a nós chamando pelo coração do inferno”. “Come to the Sabbath”, um clássico da banda, sempre presente em coletâneas e shows. Excelente canção, com muito uso de teclados (até então pouco difundido em som tão pesado).

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No fim das contas, fica aqui um marco do Metal mundial. Algo incomparável: um som pesado e tenebroso, com uma grande e inspiradíssima dupla de guitarristas, um baixista criativo e um bom baterista. Fora, é claro, o inconfundível vocal de King Diamond em sua plenitude. Alguns hoje chamam o Mercyful Fate de black metal, por causa das letras de cunho satanista e até mesmo pela aura em torno de King, mas “Don´t Break the Oath” nunca se resumiu a apenas isso, se tornou discoteca básica de qualquer banger, desbravadores dentro do estilo onde fizeram escola, e nunca existiu nada como King Diamond desde então, gostando-se ou não de seu estilo vocálico.

Mas o que chama a atenção no álbum, além do peso e da atmosfera assustadora e pesada, são as construções das músicas com introduções inspiradíssimas, riffs poderosos, solos bem arquitetados e duelos de guitarras possantes. Um grande álbum, uma grande banda que sempre foi mais do que a banda de King Diamond. O Mercyful Fate tem/teve identidade própria e vida eterna, mesmo que no inferno!

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CATA PIOLHO CLXXXVIII – em tempos de metal brasileiro falindo e imaginário, segue uma imaginação minha (mesmo ñ sabendo se tratar do mesmo designer gráfico) acerca de duas capas tão parecidas de lançamentos über alles recentes.

Pois ninguém haverá de negar a semelhança de propostas entre estas aqui, hum?

"Origins", Shaman (2010)
“Origins”, Shaman (2010)

e

"Aqua", Angra (2010)
“Aqua”, Angra (2010)

E fico imaginando a conversa das bandas com o artista responsável:

(bandas, num chat) – Então, cara, entendemos q vc resolveu botar o velhinho numa das capas meio de lado, pra ñ ficar tão igual, certo? Mas tvz tenha q haver mais uns detalhes pra ñ ficar tão na cara!…

(artista) – É assim: mudei a pose do velhinho pra ñ queimar MEU FILME nessa história, fora ter botado barba apenas num, já q estou fazendo tudo a preço de custo, ok? Por conta daquela minha promoção: mesmo baterista, dou desconto. E cheque pra 10 dias. O q mais vcs querem?

(bandas) – Tem como botar os olhos duma capa meio com luz?

(artista) – Acho q já fiz isso: vcs ñ viram os desenhos direito? Abram eles no Firefox, ao invés de abrir no Word.

e, ao fim de 5 longos minutos, com a internet discada dos pobretões demorando a fazer o serviço…

(bandas) – Ah, vimos sim. Legal a sacada. As cores: do Shammerda tudo azul e as do Franga, mais pra vermelho, serão mantidas, né?

(artista) – Sim. Tá no preço. Pintar uma toda de azul ñ encarece nada. Mas o q mais vcs faziam questão, hein?

(bandas) – Tem como botar a tatuagem dum dos velhos na testa e na do “de lado” na bochecha? Pq senão ñ vai dar pra ver!