LEITURA SUGERIDA
“A Autobiografia”, Pete Townshend, 2012, 490p., Ed. Globo
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À guisa duma resenha, 2 trechos do livro:
1 (p. 158-9) quando lançavam “Tommy”
“Dois dias depois, em 5 de julho de 1969, o Who se apresentou no Royal Albert Hall, no primeiro Pop Proms. Estávamos no programa com Chuck Berry. Tinha havido certo impasse com Chuck sobre quem deveria encabeçar o cartaz, por isso concordamos que ele fecharia o show das 17h30, e nós o das 20h30. Peguei meu irmão, Simon, então com oito anos de idade, e deixei-o aos cuidados de David Bowie. Do outro lado da rua, no Hyde Park, os Stones tinham feito seu primeiro show sem Brian Jones, com Mick Taylor na guitarra. Eles tocaram à tarde, e com isso um bom número de seu público cativo foi assistir também ao nosso show tardio, todos já um tanto alterados.
(…) Depois do show, resgatei Simon dos cuidados de Bowie. Ambos disseram a mesma coisa: ‘Eu vou fazer isso’. David queria dizer que criaria discos conceituais baseados em personagens imaginários. Simon queria dizer que seria músico de rock“.
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2 (p. 343) relato de palestra por Townshend proferida em 1987 para alunos da Royal College Of Art:
“Assim que as conduzi ao estado de ânimo correto, passei ao meu tema: quando os sons, convertidos em dados digitais, pudessem ser suficientemente comprimidos para passar por uma linha telefônica, a música como a conhecemos chegaria ao fim. Sentiríamos como se estivéssemos no controle, mas não passaríamos de passageiros desamparados. Os compositores e músicos pensariam ter uma linha direta com seus ouvintes, mas também abririam as portas a todo tipo de poluição mental e espiritual. Era a visão de Lifehouse tornada real.
Os discos de vinil, já ameaçados, desapareceriam, tal como a fita analógica. O cd seria desnecessário. Utilizaríamos computadores, alguns do tamanho de um relógio, escutaríamos e compartilharíamos música e seríamos esmagados pelo volume de sons a que estaríamos expostos. Incapazes de distinguir entre bom e ruim, em matéria de música seríamos – em termos metafóricos – sufocados, roubados, estuprados e assassinados.
(…) Talvez eu tenha dramatizado demais. Talvez fosse apenas besteira. Mas uma coisa eu conseguia ver claramente: no momento em que cheguei à moral da história, a maioria da platéia tinha saído”.
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Sou néofito em The Who; tanto q ñ sei ainda se curto o som mesmo. Venho conhecendo e curtindo a banda por meios indiretos: documentários, making ofs e livro, como este citado, q contém 2 eixos q me chamaram bastante atenção.
Um, o de entregar – sem pedantismo – o pioneirismo da banda no rock nos seguintes aspectos: 1) tiveram o primeiro baterista a usar 2 bumbos ostensivamente (Ginger Baker tentou antes de Keith Moon), 2) foram a primeira banda a detonar instrumentos no fim de show (Hendrix inventou QUEIMAR a guitarra), 3) gravaram o primeiro álbum conceitual, à época ainda denominado “ópera-rock” (Pete Townshend, aliás, vive BEM até hoje de “Tommy” e “Quadrophenia”). Ñ há discussão.
Autobiografia q achei muito bem escrita e envolvente. Sem ghost-writter, ao q consta. E q a tradução ñ sabotou. Ñ tanto como a média brasuca. E, ainda q mais pro final fique muito voltada a seus casos extraconjugais – em detrimento, p.ex., de maiores detalhes de convivência com o líder Roger Daltrey, John Entwistle e Keith Moon – o saldo achei positivo.
Townshend é um dos grandes, e seu trânsito (sem trapaças ou rivalidades) e amizade para com figuras como David Gilmour, George Harrison, Paul McCartney, Mick Jagger, Ray Davies e Johnny Rotten apenas o comprova. Assim como seu apreço por tecnologia, estúdios e inovações, o outro eixo do livro q me agradou mais. Paguei 12 reais por ele num sebo, mas vale bem mais. Recomendo.
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CATA PIOLHO CCLVIII – nunca imaginei denunciar chupim cometido pelo Rush. Tanto q ñ ouso acusá-los ostensivamente. Jamais. Vai q foi apenas uma breve semelhança ou lembrança. Um padrão aleatório coincidente. Bobear, nenhum dos 3 jamais teve disco do Deep Purple em casa. Vai saber.
Todo modo, procurem por “The Cut Runs Deep” (do “Slaves & Masters”, de 1990) e comparem-na a “The Main Monkey Business” (do “Snakes & Arrows”, de 2007). Links, nos comentários.
(Pra ñ poluir o post)
Jessiê
26 de maio de 2017 @ 01:02
O livro em si parece bem interessante até pelo livre acesso a figuras notórias e lendárias que o biografado dispunha.
Mas pra falar a verdade comecei bem novinho por Pink Floyd, depois busquei coisas mais pesadas quando fui apresentado ao Sabbath, primeiramente, depois Led, Purple, sempre buscando coisas mais agressivas descobri o thrash que se iniciava principalmente no Slayer e depois mais radical ainda com as bandas de Death metal. Foi uma pirâmide musical com certa idade fiz o caminho inverso ouvindo sons menos agressivos.
Mas creio que passei da idade de ouvir muita coisa que é endeusado por quase todo mundo, acho que não ouvi na idade certa. Tentei ouvir Bowie não consegui. Conheço nada de Dylan, nada de Velvet underground, nada de Morrisey e nada de The who, além de uma dezena de artistas primordiais que deveria, em tese, ter discos e conhecer algo. O que conheço são os, quando existem, hits e mesmo assim quando ao final o locutor da rádio anuncia “acabamos de tocar…”.
Parece que a tecnologia me roubou a aptidão de pegar uma discografia inteira e escutar em ordem cronológica dando a devida atenção aos pormenores, pois não se trata de fácil assimilação. Ou chatura da idade mesmo, vai saber.
Marco Txuca
26 de maio de 2017 @ 02:13
Acho q te entendo, amigo. Sobretudo pelo fator idade: parece haver bandas q a gente “perdeu o dia de aula” de curtir. E q só faria sentido se conhecêssemos mais novos mesmo.
Pq, depois de mais velhos já conhecemos devidamente as bandas por aquelas influenciadas, ou por alguma maturidade, q a idade nos propicia. No sentido de ñ perdermos tempo a toa, sei lá.
Bowie, até curto alguma coisa, mas a esta altura ñ vou correr atrás da obra. Velvet Underground acho chato pra caralho, deixei. Lou Reed, igualmente.
E no metal, bandas como Venom, Saxon e Candlemass. Ou velharias roqueiras como Eagles e carreiras solo de ex-Beatles.
Nesse sentido, acho q tecnologia nos ajuda: der vontade de conhecer, só puxar no You Tube ou baixar tudo e ir pegando amostras. Ou ainda curtir os tantos documentários e livros à disposição. Pessoalmente, me agradam muito alguns “personagens”, mais q os sons.
Marco Txuca
26 de maio de 2017 @ 02:16
Quanto aos links:
“The Cut Runs Deep” – https://www.youtube.com/watch?v=7L-I2yYWFa4
“The Main Monkey Business” – https://www.youtube.com/watch?v=1ajfuf9W6B0
Colli
26 de maio de 2017 @ 08:28
Acho que isso é um “mal” da idade, também estou na mesma fase. Eu ainda dou uma empolgada quando leio alguma biografia e/ou vejo algum documentário.
Eu ainda costumo quando leio algum livro ficar ouvindo a discografia da banda, mas é mais para acompanhamento da leitura que propriamente está conhecendo a som.
EU assisti recentemente um show do The Who e fiquei de cara com a performance ao vivo. Não lembro o nome DVD mas é um bem famoso, acho que foi o último show deles em alguma casa da Inglaterra. Nesse dia eu ouvi o Quadrophenia, não ficou nada. A única coisa que ficou no The Who foi a música de abertura do CSI!! hehe
Devo comprar esse livro. Parece ser bem legal!
Jessiê
26 de maio de 2017 @ 17:52
Putz se fossem uma banda menor era chupim certeza. Fiquei impressionado com a semelhança. Acho duro algum dos três terem ouvido especificamente este do Deep Purple, longe de seus melhores tempos.
Marco Txuca
27 de maio de 2017 @ 01:49
É o q eu quero acreditar tb ahahah
Vai q o Purple cometeu um “cover pretérito”…