FACADAS E NESCAU
E eis q na madrugada de sebunda pra terça-feira última finalmente assisti (sem querer: soube pouco antes) ao tal “Lords Of Chaos”, traduzido para “Senhores do Caos”, na versão dublada q passou no Telecine… Pipoca. 665.
Mais adequado fosse no Telecine Cult, 666? Ahah
Lembro de alguma controvérsia. Baseado em livro. Parece q passou em cinema por aqui. Lembro ainda de resenha no whiplash (reli ontem), dando conta q o filme é legal mas zoou com os protagonistas, caracterizando-os como molecada “leite com pêra”.
Mas a real é q eram molecada leite com pêra. Em vários momentos Euronymous (picareta e mentor intelectual) e Varg (gordinho revoltado e influenciável) falam de pegar dinheiro, carro ou casa emprestada com pai/mãe. Se pareceu caricato, é pq eram/são figuras caricatas. Ainda mais caricato acho nego fazer resenha criticando a ñ-truezice da obra.
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Dirigida por Jonas Åkerlund, q se a obra pouco diz (clipes controversos de Metallica, Rammstein e The Cardigans), por outro lado biografia e currículo mostram diferente. Sujeito foi baterista do Bathory lá no primórdio (gravou as duas faixas na “Scandinavian Metal Attack”) e tem idade para, se ñ ter convivido com o pessoal, ao menos ter sido contemporâneo e conseguido patrocínio pro filme. Q é um filme nada tosco. Achei muito bem feito.
E explícito: tiros, facadas (essas, um tanto exageradas) e incêndios pra lá de realistas. Nada de som no fundo sem imagem. A tal foto do tal Dead q virou capa de ep? Tem lá o Euronymous tirando. Assim como o suicídio do cara, praticamente no começo do filme ainda. Tem cenas de sexo explícito tb, de modo q a tv aberta jamais passará alguma coisa.
E acho q nem teria interesse, uma vez se tratar de trama e personagens específicos, para gente específica.
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Outra coisa, uma quase total falta de didatismo: embora narrado por Euronymous, ñ trata de explicar nomes de todo mundo envolvido. Claro, fala do Mayhem e do Burzum, do Deadlike Silence etc. Quem assiste e conhece as histórias, ñ precisou de explicação; quem nunca ouviu falar desse povo, acaba entendendo tb, ou tomando por ficção. E tudo bem tb.
Ñ vou dar spoiler: só q Euronymous morre no final.
Além disso, curiosidades q me ocorreram:
- nos créditos finais (invertidos), há menção a 2 sons do Sarcófago, “I.N.R.I.” e “Satanic Lust”. Aliás, um dos personagens no início é visto com camiseta deles
- na tal loja Helvete, de Euronymous, se vêem muito bem caracterizados lp’s de Demon, Scorpions (motivo do primeiro impasse entre Euronymous e Varg), Motörhead, Sodom e Slayer. Nenhuma menção ou imagem ao Sepultura
- a Coca-Cola deve ter patrocinado o filme, assim como a Marlboro: cansa o tanto de vezes q a gente vê os tr00 “nacionalistas” fumando a marca e tomando o refri
- o assassinato principal condiz bastante com o relato do próprio Varg, q consta traduzido lá no whiplash
- melhor personagem e interpretação (condizente com o q se diz) achei a do Dead. Incômodo
- a trilha ambiente do filme foi feita pelo Sigur Rós, islandeses, o q achei estranho. Mas o filme é sobre noruegueses, dirigido por sueco, então procede
Filmes assim, a meu ver, acrescentam muito a quem curte metal. Ñ deixa de ser um registro histórico. Apesar de tudo, feito com algum respeito pelas situações e personagens.
Recomendo.
Jessiê
16 de abril de 2020 @ 22:02
Vou ver. Assisti um documentário que esqueci o nome que corrobora muito do que vc fala.
Thiago
17 de abril de 2020 @ 02:05
Assisti ao filme logo que saiu, ano passado.
Acompanho o relator no que diz respeito à (des)construção dos protagonistas como jovens mimados e imaturos, e acrescento que me causou impressão positiva a denúncia (ops!) das inconsistências no pensamento dos mesmos. Minha cena favorita mostra um repórter entrevistando Varg. Lá pelas tantas, o jornalista pergunta algo do tipo: “Mas você não acha incoerente ser nazista, pagão e odinista ao mesmo tempo”? A resposta, sem constrangimento algum, é um não. Humor – involuntário ou não – do mais alto nível.
Destaque também para a encenação do suicídio de Dead, perturbadora.
O livro acaba de sair em edição nacional. Encomendei, a preço razoável, junto com a biografia do Death. Fica a sugestão aos amigos.
Thiago
17 de abril de 2020 @ 15:32
Já que o assunto é Mayhem, venho como uma curiosidade algo nebulosa. Pure Fucking Armageddon (1986), primeira demo da horda, tem como capa “Cristo Torturado”, do escultor mineiro Guido Rocha (1933-2007).
A história da obra e do artista são dignas de nota: Rocha foi preso político, passou 41 dias no Estádio Nacional do Chile, e foi torturado no DOPS. Rocha assim define sua experiência: “Em 1971 fui preso e torturado. Por ironia da sorte, um dos torturadores escondia-se sob o pseudônimo de ‘Jesus Cristo’. Com a sua barba e seus cabelos longos ele interpretava, à perfeição, o papel do Cristo tal qual a sociedade de consumo o havia criado. A partir de então, todos os cristos que fiz apresentam caracteres faciais que são simultaneamente as expressões dos companheiros assassinados ou torturados, assim como dos rostos dos camponeses pobres que conheci”.
A pergunta que fica: como Euronymous teve acesso à escultura? Teria sido por intermédio das trocas de carta que promovia com músicos brasileiros, lenda urbana que envolve de Wagner Antichrist a Carlos Vândalo?
Jessiê
17 de abril de 2020 @ 17:57
Que massa! Desconhecia. Sarcófago foi gigante, tenho amigos europeus que veneram.
Marco Txuca
17 de abril de 2020 @ 19:46
Tremenda observação, Thiago!
Relevante. Tem fala no filme q alude ao “metal extremo na América do Sul”. Eu ñ pensaria duas vezes em especular em troca de cartas com o povo do Sarcófago.
Alguém teria feito alguma entrevista com o Antichrist ou com o Vândalo tratando disso? Ou com gente da Cogumelo… Pq se ouviam, é pq chegava disco até lá.
Camiseta no filme, já acho licença poética. Nem por aqui chegou a ter. E as camisetas todas limpinhas e novinhas no filme: o único defeito q consigo botar. Banger de verdade usa aquelas camisetas q vão desbotando ahah
Thiago
18 de abril de 2020 @ 01:49
Muito obrigado! Sabia que este seria o espaço ideal para compartilhar tamanha curiosidade de antiquário haha
Não me lembro de ter visto ou lido entrevistas de Wagner ou Vândalo sobre a obra especificamente, embora ambos já tenham confirmado, mais de uma vez, a troca de cartas.
Seria inclusive razoável supor que Euronymous, maoista de carteirinha, tivesse algum interesse pela ditadura brasileira, bem como nas obras produzidas durante o período.
Cheguei a rascunhar um e-mail para o Wagner perguntando sobre essa capa, mas faltou alguma audácia para enviá-lo – via formulário Lattes (!)
Tiago Rolim
18 de abril de 2020 @ 09:42
Sepultura ganhou a fama, mas o sarcófago ganhou a áurea no mundo do metal. É impressionante a quantidade de banda de Black Metal que sempre cita Sarcófago como uma influência Zero no som que fazem. O cara do Behemoth por exemplo paga pau monstro p Wagner.
Tiago Rolim
18 de abril de 2020 @ 09:42
Quanto a “Malhação do Black Metal” , nao vi ainda. Mas qq dia assisto.
Jessiê
18 de abril de 2020 @ 19:25
Uma coisa que sempre fiquei pensando foi que comecei a me corresponder com pessoas e bandas em meados de 1989 e foi assim por praticamente 10 anos e neste período nunca ouvi falar de ninguém que correspondeu com o Wagner, principalmente nos primórdios. Talvez no exterior sim, mas ele sempre foi arredio o que lhe rendeu muita lenda urbana e adjetivos como cuzão, playboy, riquinho essas coisas.
Sepultura também nunca foi de escrever.
Já o Vândalo sempre teve uma conexão direta com fazines e fãs, escrevia cartas de duas laudas acima. Eu mesmo tenho uma de 5 folhas com desenhos, versos, mantras e toda a coisa.
Rodrigo
22 de abril de 2020 @ 12:37
Não vi o filme, tô esperando o livro, que acabou de sair no Brasil. Em 2016 fui na Helvete (agora tem outro nome), e até hoje foi o melhor rolê da minha vida. E me arrependo amargamente de não ter visitado o local onde o Varg deu cabo do Euronymous. Vi depois gente tirando foto em frente ao prédio e fiquei puto de não ter tido essa ideia.
PS. em tempo, DIZEM que o Wagner Anticristo é bolsominion.
Jessiê
22 de abril de 2020 @ 16:25
Rodrigo tenho quase certeza pois nos idos a fama era de nazista e racista…
Marco Txuca
22 de abril de 2020 @ 18:04
Sarcófago, Holocausto, Stress, Genocídio, Nervochaos: tudo bolsonóia.
Torture Squad, Sepultura, Claustrofobia: isentões.
Thiago
23 de abril de 2020 @ 01:35
A posição de Wagner Antichrist no espectro político é fascinante. Naquele documentário ‘Ruído das Minas’, em uma foto sem data – mas que parece ser algo entre 89 e 91 -, ele empunha uma bandeira do PCB.
Já na célebre entrevista ao Gastão quando do lançamento do ‘The Worst’, há certo constrangimento quando surge a pergunta sobre a letra de ‘Purification Process’ (“fuck off the browns” e sandices assemelhadas). A resposta é que a canção se referia às misturas do metal com ritmos como rap, pagode e outros, dos quais a horda supostamente se afastaria ao escrever escabrosidades desse jaez.
Por fim, em uma Roadie Crew de 2013, Wagner se declara ‘libertário’, mas elogia o trabalho dos policiais que ‘mandam bandidos para o inferno’.
Rodrigo
23 de abril de 2020 @ 14:56
Seres humanos desprezíveis que produzem (ou produziram) ótima arte são fatos comuns.
Marco Txuca
23 de abril de 2020 @ 15:14
Thiago: o cara é a essência do bolsonarismo. O supra-sumo do reacionarismo q está por cima agora. Essa incoerência e analfabetismo todo. Veja o filme. Wagner é o Varg brasuca.
Só faltou matar o Max ou queimar alguma igreja ali em MG. Motivos e ocasiões ñ faltaram ahah
Vai ver, é só um pouco mais cuzão.
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Rodrigo: perfeito.
André
23 de abril de 2020 @ 20:57
O batera do Genocídio saiu fora ano passado por divergências políticas.
https://hedflow.com/2019/07/31/genocidio-baterista-deixa-a-banda-apos-divergencias-eticas-e-politicas/
Marco Txuca
24 de abril de 2020 @ 17:13
Wanderley Perna, baixista e ex guitarrista (deixou de ser pq perdeu dedos da mão no corrimão da escada rolante da Galeria) preenche um triunvirato bolsonóia escroto, da pior qualidade.
Em q incluo Roosvelt Bala (Stress) e Marcelo Rossi (Exxótica, jurado na Galeria, já contei).
Ñ acho q sair duma banda por causa de bolsonóia seja “divergência política”. Nunca foi “divergência política”, mas questão de CARÁTER.
Terminei unilateralmente a banda cover de Motörhead por isso. Guitarrista minion e namorada bolsonea. O q acho ainda mais repugnante: mulher fã de Bostossauro.