ANTIBIOTICS IN MY INNER SELF
por märZ
Eu já tinha dado esse show como perdido, apesar de ser aqui no meu Estado. Como trabalho por escala e havia embarcado na quarta-feira, dois dias antes do evento, só voltaria à terra firma 14 dias depois. Mas a sorte (azar?) sorriu seus dentes amarelados para esse velho marinheiro. Uma tendinite fez minha mão direita inchar e ficar do tamanho de uma raquete de pingue-pongue, então a junta médica do navio onde trabalho decidiu que seria melhor me desembarcar no dia seguinte mesmo. Com isso, cheguei em Vila Velha no meio da tarde e já me planejei para ver os Cavalera Brothers à noite.
Minha primeira vez no novo Correria, local do evento. Pequeno e meio tosco, mas dá conta do recado. Ônibus da tour parado em frente, meia dúzia de vendedores ambulantes e, me pareceu, pouca gente do lado de fora. Tomando antibióticos, me contentei em comprar uma água mineral e esperar. Entrei quando o paulista Endrah começou seu set. Gosto da banda e tenho seu primeiro álbum. Um hardcore lento, distorcido e gritado, com breakdowns bem colocados, algo meio Converge, mas com uma influência de thrash nas palhetadas. Os músicos são excelentes, com destaque para o atual baterista. Comprei o segundo cd na lojinha.
***
Tudo pronto para os Cavalera broda. Intro de “Beneath the Remains” e a própria, em seguida. As cerca de 500 pessoas presentes (minha estimativa, posso estar errado) ficam a princípio meio paradas, reverentes, só apreciando de longe, exceto pelo povo colado no minúsculo palco. Quando começa “Inner Self”, todo mundo perde a pose e o local vira um pandemônio. A roda se abre, eu aproveito e consigo chegar à grade.
Na seqüência vêm “Stronger Than Hate”, “Mass Hypnosis”, “Slaves Of Pain” e “Primitive Future”. O jogo tá ganho. Max é um demônio, o carisma em pessoa. Tem todos na palma da mão (de fogo). Sorri de orelha a orelha, derrama água em si próprio e na galera, aperta a mão de todos a seu alcance, finge que toca sua guitarra, segura o microfone no meio do povo para que tenhamos nossos 5 segundos de glória. Seus pedidos são ordem, está totalmente no comando do show, tanto no palco quanto na audiência.
Começa a seqüência seguinte, com “Arise”, “Dead Embryonic Cells”, “Desperate Cry” – mais alongada no final – “Altered State” e “Infected Voice”.
Tudo flui fácil. Igggggggor manda bem lá atrás, completamente compenetrado no que faz, sem nunca olhar pra frente ou pros lados. Mark Rizzo segue carregando pianos, e muito bem. E o baixista da vez se revelou um achado: Mark Leon, antes com os thrashers do Havok, é excelente. Toca muito, tem presença de palco thrash old school – performance e visual – e ainda faz backing vocals. Comeu as linhas de baixo de Andreas com farinha. Mandaram ainda 2 covers do Motörhead, a esperada “Orgasmatron” e uma “Ace Of Spades” acelerada, que ficou parecendo English Dogs. Também no set “Troops Of Doom”, “Refuse/Resist” e uma “Roots Bloody Roots” meio descuidada, um tanto desleixada.
Fecharam com um bis confuso: um medley de “Beneath” + “Arise”, onde Max cantava a parte de uma em cima do instrumental da outra e vice-versa. Ficou confuso: ninguém entendeu nada e perderam a chance de tocar “Territory”, que estava sendo pedida aos berros pelos presentes.
Ao final, sensação de catarse. Foi um puta show, daqueles com um clima punk, todo mundo apertado, gritando e se socando. A banda expremida – ou espremida? (ahah) – no palco, interagindo 100% com o público, carisma, entrega, suor, gritos, sorrisos. Impossível não comparar com vocês-sabem-quem. É o que falta do lado de lá: CARISMA. Max é um monstro, na minha opinião o maior performer de metal extremo de todos os tempos. Araya? Mille? Nergal? Schmier? Nem chegam aos pés. Mas confesso que fica aquela vontade de ver o Andreas ali do lado, no lugar do Mark Rizzo.
Caindo no lugar comum: o que seria uma tour com essa formação, hein? Mas nunca vai acontecer.
FC
7 de novembro de 2018 @ 16:25
Excelente resenha! märZ, dá pra fazer uma amostragem da idade dos presentes?
Porque, respondendo à sua pergunta, hoje acho que a tal reunião utópica interessaria somente a uma galera dos 30/40, como os frequentadores daqui do blog.
Não sei se atualmente a molecada que não viu a formação clássica já teria tanto interesse, como há 10 anos.
märZ
7 de novembro de 2018 @ 19:05
Olha, tinha gente de todas as idades. É claro que haviam os contemporâneos, mas tinha muita molecada também. Sepultura é daquelas bandas atemporais, mérito da música deles, que é ótima. Aliás, a gente aqui não se dá conta disso, mas toda vez que viajo pro exterior constato que o status do Sep clássico lá fora é do nível do Slayer, Megadeth. Só perde pro Metallica.
FC
8 de novembro de 2018 @ 17:02
Me arrisco a dizer que de julho/95 a julho/96 eles eram a maior banda de metal do mundo.
Tiago Rolim
8 de novembro de 2018 @ 21:58
Eram mesmo. E se não fosse a diáspora, teriam sido por mais uns bons 3 anos. Aí da acho que a obra prima das caras seria o seguinte ao Roots!
Jessiê
8 de novembro de 2018 @ 22:48
Já gostei muito, demais (na macumbada e mudança de afinações comecei a desgostar). Beneath é obra-prima cantava todas as músicas e sabia todos os riffs. Hoje parece que não me comunico tanto com a obra…
Mas o Conspiracy não existe mais? Ou é isso que eles fazem mesmo?
Marco Txuca
9 de novembro de 2018 @ 02:07
Fica meio confuso mesmo, Jessiê: Max é o “operário padrão” (gíria velha!) do metal. Toca o Soulfly… pra nos shows ficar tocando Sepultura; toca tb o Cavalera Conspiracy, já q o Sepultura ñ volta, com 4 discos na trajetória… pra nos shows ficar tocando Sepultura tb.
Aposto q Andreas Kisser e Paulo Xisto Pinto Jr. ñ rejeitam os chequinhos caindo em conta eheh
E o q fica mais confuso, mas ñ, nessa turnê retrô, é ñ estarem fazendo nem como Cavalera Conspiracy. Apenas “Max & Iggor Cavalera”… tocando Sepultura. E só Sepultura.
E com formação do Soulfly, a ñ ser pelo baterista, q é um outro Cavalera.
E num timing absurdo: semana q vem fará 1 ano do CC recente (“Psychosis”) e tem uns 15 dias q o Soulfly novo (“Ritual”) foi desovado… Pra saírem em turnê… tocando Sepultura.
Faz sentido tudo isso? ahahah
märZ
9 de novembro de 2018 @ 14:46
Acho que fica óbvio o que realmente atrai ouvintes e pagantes, impressiona críticos, vende cds e LPs, coloca o pão na mesa: o Sepultura clássico. Ficam ambos os lados com meia tigela cheia e comendo como podem, já que não são maduros o suficiente pra deixar essa birra pra trás, se divertirem e ganharem uma grana juntos.
Tiago Rolim
9 de novembro de 2018 @ 19:29
Nas turnês do Soulfly ele mal toca sepultura mais. Até pq arrumou o irmão p brincar de Sepultura antigo por ai. Tem uns 3 ou 4 discos que do Soulfly que as turnês são exclusivas do Soulfly. Fora um som ou outro. Tipo de 17, 15 são do Soulfly.
Marco Txuca
10 de novembro de 2018 @ 03:27
märZiano: tenho impressão q a operação envolvida ñ é divisão, mas MULTIPLICAÇÃO. Por 2. Duas bandas, todo mundo ganha em dobro.
Fica a dúvida do pq o Derrick Fumaça continuaria nessa barca furada.
Tiago: até onde sei, só se do “Archengel” em diante começou a predominar Soulfly. Tocar com o irmão pra brincar de Sepultura parece ter resolvido as coisas.
Mas cansei de ver comentários, às vezes gringos, em vídeos do Soulfly reclamando de ir em show da banda e ter Sepultura demais. E na turnê Soulfly ano passado, Max ressuscitou o Nailbomb.
Ñ sei se o genro ainda é genro ou ex-genro, mas rendeu grana pro sujeito tb. E acho má assessoria: Soulfly tem repertório pra já ser revisitado.
Parece q Max parece fazê-lo nas músicas novas. Ouviste a faixa título do “Ritual”? “Rattamahatta” com “Prophecy”.
märZ
10 de novembro de 2018 @ 07:40
Eu não dou conta de ouvir e processar tudo que Max desova, já falei isso aqui antes. É muita coisa. Nem dei conta de “Archangel” e já chegou “Ritual”. E a verdade é que as canções nem têm tanta variação assim, há um limite para o que se consegue construir com 3 ou 4 acordes, independente do talento de Mark Rizzo e do produtor da vez.
Um exemplo claro disso pra mim foi o album “Savages”, que veio quase colado no anterior e é um pastiche de ideias recicladas, sem criatividade alguma. Todos os albuns têm lá seus bons momentos, mas não se firmam como um todo. Se for analisar a fundo mesmo, mais da metade das canções é colagem de coisas anteriores que Max já fez.
Nesse sentido, o Sepultura atual é mais honesto. Procuram não se repetir tanto e demoram mais tempo entre albuns.
Tiago Rolim
10 de novembro de 2018 @ 09:09
Ouvi o ritual. Não achei tão bom assim em um primeiro momento. Mas, precisa depurar mais um pouco. Tô com märZ nessa. Max tem limite. E faz tempo que ele chegou nele e não sai. Quem sabe não é a hora dele fazer o disco de dub que ele tanto fala que quer fazer.
Marco Txuca
10 de novembro de 2018 @ 13:17
Eu vejo o Max tão entranhando no trabalho dele, e em ter q render – cada semestre uma novidade (praticamente o Marvel Studios do metal) – q vai faltando é um olhar de fora pra ajudá-lo.
Em “Psychosis” (salvo engano) e “Ritual” vejo um produtor de fora se encarregando. Capas melhores e etc. O cara tá precisando de atrito. Dum Peter Tagtren, dum Andy Sneap. Duma renovada.
E em “Ritual” já vejo o som com mais cara de banda. Um baixista melhor (e mais novinho) e Zyon aprendendo a tocar. Isso ajuda a oxigenar.
André
17 de novembro de 2018 @ 16:48
Já li que o Sepultura foi o que foi por que tinha o Andreas pra barrar
certas loucuras do Max. Baseado na produção do Max pós-Roots, essa
afirmação tem um fundo de verdade. O Sepultura foi banda até o Chaos
A.D. O Roots, me parece, é Max e mais três. E o Ross Robinson. Parece,
pelo menos.
O Max deve ter jogado quase tudo no Roots. Sem contar as mudanças de
formação do Soulfly. Até o Prophecy, foi uma banda diferente pra cada
disco. Depois deu uma estabilizada.
O Max virou o mendigão do metal. Relaxou em tudo. Apesar do vocal e do carisma continuarem fodas. Mas, fica a impressão que os caras fazem
algumas músicas, ensaiam um pouco e “bora gravar”. Daí, fica esse monte
de disco meia sola.
“Fica a dúvida do pq o Derrick Fumaça continuaria nessa barca furada.”
Por que não tem mais o que fazer.