ANTIBIOTICS IN MY INNER SELF

por märZ

Eu já tinha dado esse show como perdido, apesar de ser aqui no meu Estado. Como trabalho por escala e havia embarcado na quarta-feira, dois dias antes do evento, só voltaria à terra firma 14 dias depois. Mas a sorte (azar?) sorriu seus dentes amarelados para esse velho marinheiro. Uma tendinite fez minha mão direita inchar e ficar do tamanho de uma raquete de pingue-pongue, então a junta médica do navio onde trabalho decidiu que seria melhor me desembarcar no dia seguinte mesmo. Com isso, cheguei em Vila Velha no meio da tarde e já me planejei para ver os Cavalera Brothers à noite.

Minha primeira vez no novo Correria, local do evento. Pequeno e meio tosco, mas dá conta do recado. Ônibus da tour parado em frente, meia dúzia de vendedores ambulantes e, me pareceu, pouca gente do lado de fora. Tomando antibióticos, me contentei em comprar uma água mineral e esperar. Entrei quando o paulista Endrah começou seu set. Gosto da banda e tenho seu primeiro álbum. Um hardcore lento, distorcido e gritado, com breakdowns bem colocados, algo meio Converge, mas com uma influência de thrash nas palhetadas. Os músicos são excelentes, com destaque para o atual baterista. Comprei o segundo cd na lojinha.

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Tudo pronto para os Cavalera broda. Intro de “Beneath the Remains” e a própria, em seguida. As cerca de 500 pessoas presentes (minha estimativa, posso estar errado) ficam a princípio meio paradas, reverentes, só apreciando de longe, exceto pelo povo colado no minúsculo palco. Quando começa “Inner Self”, todo mundo perde a pose e o local vira um pandemônio. A roda se abre, eu aproveito e consigo chegar à grade.

Na seqüência vêm “Stronger Than Hate”, “Mass Hypnosis”, “Slaves Of Pain” e “Primitive Future”. O jogo tá ganho. Max é um demônio, o carisma em pessoa. Tem todos na palma da mão (de fogo). Sorri de orelha a orelha, derrama água em si próprio e na galera, aperta a mão de todos a seu alcance, finge que toca sua guitarra, segura o microfone no meio do povo para que tenhamos nossos 5 segundos de glória. Seus pedidos são ordem, está totalmente no comando do show, tanto no palco quanto na audiência.

Começa a seqüência seguinte, com “Arise”, “Dead Embryonic Cells”, “Desperate Cry” – mais alongada no final – “Altered State” e “Infected Voice”.

Tudo flui fácil. Igggggggor manda bem lá atrás, completamente compenetrado no que faz, sem nunca olhar pra frente ou pros lados. Mark Rizzo segue carregando pianos, e muito bem. E o baixista da vez se revelou um achado: Mark Leon, antes com os thrashers do Havok, é excelente. Toca muito, tem presença de palco thrash old school – performance e visual – e ainda faz backing vocals. Comeu as linhas de baixo de Andreas com farinha. Mandaram ainda 2 covers do Motörhead, a esperada “Orgasmatron” e uma “Ace Of Spades” acelerada, que ficou parecendo English Dogs. Também no set “Troops Of Doom”, “Refuse/Resist” e uma “Roots Bloody Roots” meio descuidada, um tanto desleixada.

Fecharam com um bis confuso: um medley de “Beneath” + “Arise”, onde Max cantava a parte de uma em cima do instrumental da outra e vice-versa. Ficou confuso: ninguém entendeu nada e perderam a chance de tocar “Territory”, que estava sendo pedida aos berros pelos presentes.

Ao final, sensação de catarse. Foi um puta show, daqueles com um clima punk, todo mundo apertado, gritando e se socando. A banda expremida – ou espremida? (ahah) – no palco, interagindo 100% com o público, carisma, entrega, suor, gritos, sorrisos. Impossível não comparar com vocês-sabem-quem. É o que falta do lado de lá: CARISMA. Max é um monstro, na minha opinião o maior performer de metal extremo de todos os tempos. Araya? Mille? Nergal? Schmier? Nem chegam aos pés. Mas confesso que fica aquela vontade de ver o Andreas ali do lado, no lugar do Mark Rizzo.

Caindo no lugar comum: o que seria uma tour com essa formação, hein? Mas nunca vai acontecer.