THRASH COM H CLASSICS

Publicado originalmente em 25 de Março de 2007 e reprisada por motivos óbitos (digo, óbvios)…

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SERVIÇO DE UTILIDADE PÚBLICA THRASH COM H

carnivore

“Retaliation”, Carnivore, 1987, Roadrunner

sons: JACK DANIEL’S AND PIZZA * / ANGRY NEUROTIC CATHOLICS * / S.M.D. / GROUND ZERO BROOKLIN / RACE WAR / INNER CONFLICT / JESUS HITLER * / TECHNOPHOBIA / MANIC DEPRESSION [Jimi Hendrix] / U.S.A. FOR U.S.A. * / FIVE BILLION DEAD * / SEX AND VIOLENCE / faixas bônus (relançamento): WORLD WARS III AND IV / CARNIVORE / THE SUBHUMAN

formação: Peter (bass, vocals), Mark (guitars, vocals), Louie (drums)

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A resenha q se segue é bastante indicativa a quem, vivendo os anos 80, ñ chegou a conhecer o Carnivore. Como eu, q só recentemente tive acesso a este “Retaliation”, alvo tb recente de revival e considerações q em sua época de lançamento tvz ñ tivesse tido tantas.

Sim, o Carnivore era a banda do Pedro Aço (vulgo Peter Steele, atualmente no Type O Negative), e ñ fosse isso provavelmente ñ teriam voltado em 2006 pra tocar no Wacken. Voltaram, provavelmente embolsaram um pezinho de meia e já des-voltaram (ainda q o Metal Archives os dê como banda ainda ativa): pouca gente reparou, a repercussão (pelo menos aqui no Brasil) foi pouca – pra ñ dizer nula – e é isso aí. Ao menos ñ tentaram forçar barra de gravar disco novo, de prometer show por aqui ou causar polêmica envolvendo desacordos ou incongruências folclóricas entre integrantes. Q afinal, fora Peter, eram quem mesmo?

Mark, guitarrista, era Mark Piovanetti, q postumamente faria parte do Crumbsuckers (hein?) em fins dos 80’s; Louie era Louie Beateaux, de passagens anteriores pelo Fallout (quem?), banda tb anterior do Peter, passou pelo Agnostic Front [S.U.P. em jul/05] e pode ser q ainda toque, numa banda chamada Aggression (se bem q ñ entendi bem a ficha no M.A.). No único álbum outro da carreira da banda, o anterior auto-intitulado, quem tocava guitarra era um tal Keith Alexander, q consta haver morrido num acidente de bicicleta em 2005, ñ sem antes passar por um certo Primal Scream (q ñ aquele indie pedante britânico) e haver tocado no Dee Snider’s SMF.

Ah, então tá. Já diz muito sobre a banda.
Tvz ñ tanto pra trocentos parágrafos de enrolação biográfica, costumeiros do S.U.P.. Menos mal. Ao som:

Meio um híbrido de thrash com punk nova-iorquino oitentista – ñ o pula-pula noventista metido a mano. Ñ lembro onde (achei ter sido no allmusic.com, mas voltei lá e ñ encontrei), mas vi certa vez uma descrição como eles sendo um Slayer punk”: ñ descreve bem, mas dá alguma referência, por conta das temáticas abordadas e pela URGÊNCIA com q os sons são apresentados. Contanto q ñ se espere rifferama inspirada e imortal (maior parte das guitarras é passagem de acordes rápidos e bruscos), tampouco solos-alavanca em profusão e a rítmica destacada (as batidas aceleradas no modo hardcore antigo predominam). Duvido q quem curte o Sodom oitentista, assim como tb fãs dos álbuns mais metal do Agnostic Front ou apreciadores ainda das vinhetas diretas-e-retas do Nuclear Assault primordial ñ fique fã.

No entanto, q ñ fique a impressão de sujeitos ostentando tosqueridade sonora: mesmo ñ sendo fabulosos instrumentistas, a receita dos sons aqui apresentados demonstra uns caras fazendo som sem tentar inventar demais nem usar a precariedade técnica como álibi para ñ ter gravado coisa melhor. Mesmo pq “Retaliation” está longe, bem longe, de ser um álbum ruim: entrosamento por aqui é ponto pacífico. E ouso ainda dizer q de tanta banda ruim, lado b, lado c, lado d voltando, esta certamente encontra-se entre as menos piores.

“Retaliation” é bem produzido e gravado, coerente e homogêneo (ñ tem faixas muito superiores, nem muito inferiores às outras) e tem as músicas todas tendo uma mesma concepção: baixo e guitarra básicos acompanhados por guitarra q às vezes ousou dar passos adiante, e com o vocal conduzindo as letras alheio às passagens, riffs, bases, formando linhas melódicas à parte (inclusive fora de tempo), em torno das quais as músicas se desenvolvem. Acabada a letra, acaba o som.

Capítulo – e aqui, no caso, 4 parágrafos – à parte tem q ser dedicado às LETRAS de Steele, várias delas enfocando aspectos sócio-políticos (“Race War”, “USA For USA” e a única datada, “Ground Zero Brooklin” – q trata de Nova Iorque enquanto provável alvo de míssil soviético; tempos de Guerra Fria e Holocausto Nuclear…) ou sérias (“Inner Conflict” é praticamente um tratado splatter de alguém descrevendo processo de autodeterioração), mas q nas mais legais – pra mim, as q fogem a isso – revelam um senso de humor único e apurado.

Q ñ poderia ser meramente enquadrado como ‘politicamente incorreto’, ‘excêntrico’ ou ‘de mau gosto’. Tem um pouco de cada, mas ñ se fecham num ou noutro, ou naquele. No Carnivore, Steele parecia fazer algo q apenas nas entrevistas e declarações do Type O Negative se tem: o dischavar dum humor único e insólito, ao mesmo tempo sarcástico e solene, como tb mordaz e desconcertante. O q dizer então – chavão de Orkut isso – de “Jack Daniels And Pizza” inicial? Apenas, pra ñ estragar a graça, ser uma vinheta introdutória sem uma única nota q envolve vomitar e uma privada. Memorável, pra dizer pouco.

“Angry Neurotic Catholics” desanca os católicos fervorosos duma maneira tão mais contundente q noruegueses a granel. E a melhor de todas, ANTOLÓGICA MESMO, é a de “Jesus Hitler”, sobre a estória do sujeito homônimo, nascido duma freira estuprada por um nazista na 2ª Guerra Mundial e profundamente perturbado por ñ saber sua missão na vida: proteger ou exterminar os judeus? ahahah

“Race War”, voltando às letras ‘sérias’, vale uma lida enquanto um tratado de humor duvidoso a respeito do direito q as diferentes etnias nos EUA teriam de se odiar umas às outras: ñ é lá a ‘terra da liberdade’ afinal? “Sex And Violence” parece baseada em “Laranja Mecânica”, futurista tanto quanto “Technophobia”, denotando Steele como letrista com referências a mais, ao passo q “USA For USA” soa esquisita, meio q tirando sarro do poderio bélico estadunidense tratando em 1ª pessoa – na visão do agressor – do assunto, posando de arrogante (“Ya don’t fuck with the eagle”).

E para quem ñ encara o vocal forçado e falsamente tenebroso imposto com toneladas de compressores no Type O, a GRATA SURPRESA por aqui é a vocalização verdadeira de Steele. O sujeito é rouco mesmo (mas ñ tãããõ rouco), e o fato de ñ ir nem pro gutural, tampouco pro rasgado torna o fato algo q poderia influenciar outras bandas, outros vocalistas. A única banda q a mim vagamente chega perto, nesse sentido, acho o Força Macabra [S.U.P. em dez/05].

Passagens por alto: “S.M.D.” tem alternância de temas e andamentos bem interessante, com passagens bem Black Sabbath (presentes tb em tudo o q é passagem lenta), como “Ground Zero Brooklin”, da bateria mais grind por aqui, fora refrão com backings a ñ ser rejeitado por fãs xiitas de Anthrax e Exodus, e q tal qual “Race War”, por serem mais arrastadas em várias passagens, só me parece q poderiam durar menos. “Jesus Hitler”, afora ‘partes Sabbath + passagens velozes’, contém a passagem de solos de guitarra mais legal, trabalhada e inspirada.

“Technophobia” em sua base inicial, é coisa fina pro paladar de quem ouve o “Show No Mercy” todo dia, assim como “USA For USA” o é pra assíduos no “Reign In Blood”, e demonstram q ao longo das faixas as coisas ficam mais técnicas. A versão de “Manic Depression” ñ macula o legado de Jimi Hendrix, adaptando-a a 2 bumbos; “Five Billion Dead” cai bem como instrumental, com abertura pro tal Mark se mostrar um tanto mais (o q tb fez na “Sex And Violence” seguinte), parecendo estrategicamente bem colocada na seqüência de sons.

Caso excepcional de banda cult mais influenciada q influência (ou alguém já viu gente declarando “minhas influências são Carcass, Bezerra da Silva e Carnivore?), haja visto tb a batida motörhéadica, “Overkill”, de “Inner Conflict”, sou da opinião de q o Carnivore e este “Retaliation” merecem, sim, uma 2ª chance, uma apreciação devida. Mesmo q em 1987 a própria Roadrunner ñ lhes tenha dado tanto crédito, o q o digo baseado 1) no fato de q até há pouco tempo o álbum ñ havia sido relançado em cd (fora o anterior, q parece q permanece), 2) na impressão de a própria banda, com visual “Mad Max” em fotos de divulgação, tb ñ se levar tão a sério, e 3) na capa – na verdade, DUAS CAPAS q tem “Retaliation”: a capa consagrada, do álbum relançado no Brasil com bônus (as 3 últimas faixas) era, na verdade, uma arte ruim em relação à arte original, q é a q consta no relançamento gringo.

A capa colada acima é a da versão original.