SERVIÇO DE UTILIDADE PÚBLICA THRASH COM H

“Out Of Order”, Nuclear Assault, 1991, I.R.S./Under One Flag/Music For Nations/Relativity

sons: SIGN IN BLOOD / FASHION JUNKIE / TOO YOUNG TO DIE / PREACHING TO THE DEAF / RESURRECTION / STOP WAIT THINK / DOCTOR BUTCHER / QUOCUSTODIAT / HYPOCRISY / SAVE THE PLANET / BALLROOM BLITZ [Sweet]

formação oficial e formal: John Connelly (lead vocals & guitar), Anthony Bramante (lead guitar, backing vocals & lead vocals on “Doctor Butcher”), Dan Lilker (bass, backing vocals, lead vocals on “Hypocrisy” &  keyboards), Glenn Evans (drums & backing vocals)

filigranas contidas no encarte: all rhythm guitars performed by Anthony Bramante except “Preaching to the Deaf” & “Quocustodiat” performed by John Connelly // middle crunch on “Stop Wait Think” by Glenn Evans // “Ballroom Blitz” performed by Dan Lilker & Casey McMackin (produtor); lead vocals by Glenn Evans, Dan Lilker and Anthony Bramante // all acoustic 6 and 12 string guitars performed by Glenn Evans, except acoustic lead on the intro to “Save the Planet” performed by Anthony Bramante // lead guitar tracks on “Hypocrisy” and intro on “Fashion Junkie” performed by Dan Lilker; “Quocustodiat” and middle on “Preaching to the Deaf” performed by John Connelly; 1st & 3rd leads on “Too Young to Die” performed by Casey McMackin // middle keyboard solo on “Save the Planet” by John Quinn

Num Nniverso Paralelo Qualquer, ou num mundo ideal, ou numa cosmogonia psicótica peculiar (o MEU mundo ideal, e sua ameça de irromper e tomar conta de vez), o Nuclear Assault é o Metallica e o Metallica é o Nuclear Assault. Dan Lilker ñ morreu soterrado por busão na Suécia, mas a formação se manteve parecida, com um guitarrista solo meio prego e um baterista de assinatura e timbres próprios, meio dono da banda na surdina e no limiar técnico do tosco. Só ñ nórdico e meio boiola.

Nessa realidade, “Handle With Care” é o “Metallica”, q enfrentou resistências semelhantes dos fãs radicais, pouco menos. Por conta de só uma balada gravada, sem Michael Kamen, “Trail Of Tears”, e pela turnê com mosh pit interrompida, devido a queda de John Connelly ali dentro (num show na Albânia), q redundou em meses de estaleiro e milhões de dólares menos nas contas bancárias. Se venderam, mas ñ puderam passar o recibo. Nada, porém, q minasse a integridade da banda q, com “Out Of Order” e o “Something Wicked” – já sem Lilker (q preferiu voltar ao Anthrax) e Anthony Bramante (q resolveu se dedicar à criação de fungos em cativeiro, visando o cartelizado mercado de probióticos japonês) – seguintes cometeram seus “Load” e “Reload”.

Mais ou menos. Ñ chegaram a ser convidados pra fazer trilha de “Missão Impossível”, tampouco rolou disquinho morno com orquestra. Continuaram, outrossim, contando com expectativa e condescendência maiúsculas dos fãs antigos e resilientes, q passaram a demandar um próximo disco muito foda, q voltasse aos dias de “Survive” e “Handle With Care”. “Third World Genocide”, de 2005, satisfez 40% desses otimistas, enquanto q os demais 60% ainda o agüardam, tanto quanto a improvável renúncia de Silas Malafaia ao Papado no Vaticano. Pff!…

Cabe dizer ainda, nestas outras circunstâncias cósmicas, q o Nuclear Assault por ali jamais cometeu algo como “St. Anger”. Q lugar lindo e higiênico para se viver!

***

Mas é desta nossa realidade, ou delirante ficção compartilhada, q se trata a resenha e o blog“Out Of Order” tb por aqui ñ é o melhor álbum do Nuclear Assault. Nem o mais inspirado. Mas tb ñ acho o pior. Por outro lado, é o disco de q mais se poderia prestar a análises detidas e curiosas sobre as reais intenções por detrás. Se era pra ser álbum mais acessível ou comercialmente viável, fiascou. Se feito por pressão de contrato, ficou a (de)ver. E se era pra ser álbum mais maduro e aprimorado nos requintes técnicos e líricos, tb deu em nada. Q merda.

Trocando em miúdos: o álbum coerentemente inicia onde “Handle With Care” terminara. Na “Trail Of Tears”, lenta e com violões. A ñ ser por “Quocustodiat” e “Hypocrisy”, únicas mais rápidas q caberiam nalgum álbum anterior (a 2ª chega a ter blasts), todos os sons em “Out Of Order” têm o freio de mão puxado, violões e até teclados (vide ficha acima). São extensos, às vezes demais, no q ñ restou qualquer espaço para as sacrossantas vinhetas de outrora. O cover afrescalhado de Sweet tb ñ ajudou.

Só q esse foi um caminho lógico na trajetória deles. Coerente até, insisto. E tb algo defasado: ñ tinha como eles saberem q o paradigma vindouro seria o da diluição, devido ao “Metallica” lançado 28 dias antes, no mesmo 1991. Se o Nuclear Assault, tanto quanto o Sodom e um pouco o Overkill, foram as únicas hordas thrash a ñ se afetarem pelo Metallica mainstream, por outro lado foi pior pros novaiorquinos terem se escorado no paradigma antigo, do Metallica com Cliff Burton… Tiro n’água: ninguém curtiu.

Os caras evoluíram tecnicamente, quiseram fazer sons mais ambiciosos e ousados. E até o conseguiram, vide “Save the Planet”, quase uma “Orion” deles. Mas ñ tinham tanto repertório técnico, cabedal ou infra estrutura na cadeia alimentar pra alçar tal vôo. Tvz se tivessem lançado antes mais 1 ou 2 álbuns na veia antiga teriam obtido o habeas corpus pra ousar. Encher as músicas de partes de solos não resolveu muito. Deram o passo maior q as pernas.

Uma estranheza: tb em 1991, Connelly desovou o único lançamento do projeto paralelo/carreira solo John Connelly Theory, “Back to Basics”. Sei lá em q mês, se antes ou depois ou DURANTE a feitura de “Out Of Order”.

Verifica-se, neste aqui, as autorias dos sons compartilhadas entre todos dum jeito q ñ se via nos álbuns de antes (majoritariamente compostos por Connelly e Lilker), fora uma esquisitice complementar: Connelly participa autorando (“Quocustodiat”) ou co-autorando 3 sons. Participou mais fazendo e co-escrevendo letras. 7. Menos mal. Se por uma questão de democracia todos estavam envolvidos e animados com a banda, ñ funcionou; Steve Harris, Dave Mustaine e Lars Ulrich & James Hetfield Ltda. legaram ao mundo o senso de q democracia em banda raramente funciona. Se isso, por outro lado, se deu por falta de inspiração ou de envolvimento suficiente de Connelly, todos saíram perdendo igualmente.

A quem conhece, e desgosta de “Out Of Order”, a propósito, recomendo “Back to Basics”, mais próximo do Nuclear Assault primordial e “clássico” (vinhetas incluídas) q este. O nome decerto entrega. Mas ñ exatamente uma coisa inspirada ou diferenciada: carreira solo redundante, tais como as de Dave Matthews e Ian Anderson ahah Sei lá se o cara estava “se achando” e meio rancando fora, ou se as desavenças criativas começavam a aparecer… O baixinho nunca foi um Dave Mustaine, mas ñ ocupou lacunas q ficaram evidentes.

Por outro lado, as letras mantiveram-se interessantes, alternando sarcasmo e contundência, das quais destaco a sintomática “Sign In Blood” (reclamação indireta sobre bandas forçadas por contrato ou empresariamento a gravar disco – !! – e sair em turnê), a esquisita “Preaching to the Deaf” (Connelly conversando com um pregador messiânico), a tr00 “Resurrection” (Connelly e Lilker descendo o malho no poperô e no rap, de artistas q fazem sucesso cometendo hits de partes de músicas alheias), “Doctor Butcher” (Bramante queixando-se de médicos q tratam os pacientes na base do dar uma receita e dispensar rapidinho) e a panfletária “Hypocrisy”, de letra e vocal de Lilker, em q o mesmo cospe abelhas africanas contra o Papa e a Igreja Católica em suas proibições ao aborto e à camisinha.

***

Nenhuma delas, entretanto, q mereça um Nobel de Literatura. Musicalmente, apenas trechos de “Stop Wait Think” e “Save the Planet” saem do mediano puro e simples. O “Something Wicked” posterior tb ñ ficou grande coisa (e pra mim é o pior), mas ao menos soa mais a ver com o Nuclear Assault inicial, até pelo Connelly ter reassumido algumas rédeas.

É q, pra resumir, gosto muito da banda (mesmo nos piores momentos) pelo q ficaram pelo caminho, meio mulambos, meio falidos, a despeito dum potencial inegável, e vejo q “Out Of Order” ficou pra História como o álbum ignorado dos caras. (Ñ ter saído uma versão nacional até hoje tb colaborou pra isso). Há álbuns, ditos fodas, de bandas ditas fodas hj em dia q considero piores. No sentido de medianos, descartáveis ou irrelevantes após 3 ou 4 audições. “Out Of Order” pode ser acusado de tudo – os vocais continuaram impagáveis, os solos de guitarra toscos e a bateria torta, como sempre – menos de ser artificial. É fraco, mas eu gosto.

Ah, e ainda ñ entendi q catso quer dizer “quocustodiat”.

E eu tb curto essa capa.

*
*
*

CATA PIOLHO CCXVI – o Accept vem aí, edição especial à volta deles: “Beat the Bastards”: The Exploited ou Accept? // “Locked And Loaded”: Halford ou Accept? // “Revolution”: The Cult, Judas Priest ou Accept?