Ñ VALE 1 REAL

“Black Sabbath – Biografia Ilustrada”, Universo dos Livros, 2013, 186 pp.

Todo mundo por aqui deve ter cometido, em tempos de escola ou de faculdade, algum maldito “fichamento”. Pelo menos uma vez. Aquele tipo de resumo sob encomenda, de textos às vezes pavorosos e cansativos, q ñ leríamos espontaneamente. Pra ganhar miséria de 0,5 ponto em nota e passar na matéria. Ou por pura falta de didática de professores, q duvido q lessem todos os q pediam. Era só pra fazer com q nós lêssemos alguns textos e demonstrássemos termo-los lidos.

“Black Sabbath – Biografia Ilustrada” é exatamente isso. Um maldito fichamento. Alguém já crescido recebeu incumbência de sei lá quem na tal editora Universo dos Livros para fazer fichamentos de “Iron Man”, “Eu Sou Ozzy”, “Confie em Mim, Sou o Dr. Ozzy” e da entrevista de Ozzy e Geezer pra Rolling Stone brasuca de junho últmo, e assim cometer um livro, descrito como “biografia ñ autorizada” na contracapa.

(sim, realmente ñ autorizada, pois Iommi, Ozzy, Geezer, Ward, Tony Martin e a viúva do Dio ñ terão nos bolsos 1 real sequer da venda desta bagaça, já q tampouco sabem haver sido cometida)

Ñ posso ser injusto: a pessoa, ou pessoas – ñ há autor creditado – tb leu/leram “Commando” [S.U.P. mai/13], “Mate-me Por Favor, volumes 1 e 2”, o livro sabbáthico de Joel McIver e biografias de Sharon Osbourne e de Dio, citados nas referências bibliográficas. Ñ disfarça o trabalho de “fichamento”.

Tb ñ se trata de coisa inédita no Brasil: quem se lembra da editora Martin Claret, q anos atrás inventou os “livros-clipping“? Em tempos anteriores ao ctrl c + ctrl v, toda uma série de “Marx Por Ele Mesmo”, “Freud Por Ele Mesmo”, “Jung Por Ele Mesmo”, “Raul Seixas Por Ele Mesmo” foram lançados, formados de trechos de livros, entrevistas e até de biografias dos personagens. Com a desculpa de servir a iniciantes nos assuntos e autores. Surpresa nenhuma ter pesquisado há pouco sobre tal editora – ainda ativa – e ver q enfrentam processos por plágio…

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Trechos inteiros da bio iômmica (ñ li as do Ozzy, mas imagino tb rolar) são citados nesta “Biografia Ilustrada”, catadão q orienta cronologicamente a trajetória do Black Sabbath, inicialmente com cuidado, depois apressadamente – “fases” Dio, Gillan, Hughes, dias Gillen e “The Eternal Idol” são cuspidos num único capítulo – com textos específicos ao fim dos capítulos tb deslocados: um, visaria tratar sobre a oposição do famoso crítico Lester Bangs ao heavy metal e ao Black Sabbath, pra virar relato sobre a rivalidade existente entre Sabbath e Led Zeppelin (de Birmingham) e o Deep Purple, londrinos.

Outro desses textos discorre sobre os guitarristas revelados por Ozzy em sua carreira-solo, e soa pertinente. Adiante, num outro texto contextualizando a NWOBHM, o mesmo encerra falando das carreiras solo oitentistas de Ozzy e Dio. Tudo a ver. Há espaço até pra JABÁ do Electric Funeral, banda cover de Black Sabbath daqui de São Paulo, fundada em 1988 por Vitão Bonesso, tb radialista e “crítico musical”, encaixado após relato do show de 10 minutos da formação sabbáthica original no Live Aid em 1986!

Há erros clamorosos, em 3 níveis: 1) Vinny Appice tem seu nome grafado, e ñ corrigido, como “Vinny Apice” – duas revisoras creditadas, pra quê?; 2) Motörhead e Body Count são citados como bandas de “thrash metal” – ao menos grafaram thrash com “h”; 3) “13” o álbum recente, é descrito como “um disco do Black Sabbath 45 anos depois da estréia”. Puta merda.

Há trechos mal escritos, em q neófitos boiarão. Discos-solo de Iommi mal encaixados (sem contexto), tanto quanto seus casamentos e filha. Há omissão: “Live At Last” ñ é citado nos discos ao vivo – portanto, ñ há a “discografia completa” prometida. Há a picaretagem-mor, ainda nas referências bibiográficas, de citarem DUAS VEZES – em inglês e na tradução em português – as bios de Iommi e as duas de Ozzy. Putz.

Há valorização inútil de rankings periféricos: avaliações de 0 a 5 dos álbuns pelos sites Allmusic.com e da Rolling Stone gringa são citadas. Pra parecer livro fundamentado. Há erro com interpretação errônea do texto original: quando trata da ligação de Sharon Osbourne pra Iommi visando a atual reunião (sem citar ter ocorrido nas horas seguintes a Dio ter sido sepultado), é endossada a interpretação de uma ligação “por engano” da bruaca. Porra.

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Enfim: o tipo de livro espúrio, mal-intencionado e negativamente oportunista. Editora quis ganhar algum, na base do mínimo esforço, a partir dos shows brasucas recentes e do “13” merecidamente incensado. Provavelmente cometido em menos tempo q o tempo necessário para lê-lo. Agradaria a quem jamais conheceu Black Sabbath e ñ tem internet em casa: algum quaker ou amish, decerto.

Mais do q ficar irritado por ter desperdiçado 34 reais e 50 nisto, fiquei ainda mais puto pela REINCIDÊNCIA: ano passado a mesmíssima editora lançou uma “Biografia Ilustrada” identicamente picareta e sem autor, sobre o Iron Maiden. Daquela, percebi o dolo e ñ comprei. A sabbáthica aqui, ñ. Resta-me, como penitência, começar a ler a do Max…

Ñ serve nem pra calçar criado-mudo bambo. Fujam. A editora cita um email, convidando leitores a lhes enviarem opiniões acerca do livro: será q envio esta resenha?

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CATA PIOLHO CCXXIII – novo do Annihilator desovado. “Feast”. Adquiri e vou fazendo a festa. Gerou discussão no Facebook quando do lançamento a música “Deadlock”, q reproduzo aqui. Fazendo um teste:

[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=eAZpMXREsi0[/youtube]

a) o riff inicial remete a “Hit the Lights”, do Metallica?
b) a melodia vocal remete a “Evil Has No Boundaries”, do Slayer?
c) todas as alternativas anteriores?
d) nenhuma das alternativas anteriores?