THRASH COM H CLASSICS

Em homenagem a Chuck Biscuits, falecido ontem. Menos um baterista no mundo, significando um mundo cada vez mais SOMBRIO…

Publicado originalmente em 16 de Fevereiro de 2006

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“4”, Danzig, 1994, American Recordings

sons: BRAND NEW GOD * / LITTLE WHIP / CANTSPEAK * / GOING DOWN TO DIE * / UNTIL YOU CALL ON THE DARK / DOMINION * / BRINGER OF DEATH / SADISTIKAL / SON OF THE MORNING STAR * / I DON’T MIND THE PAIN * / STALKER SONG / LET IT BE CAPTURED / INVOCATION (faixa 66)

formação: Glenn Danzig (vocals, guitars, piano), Eerie Von (bass), John Christ (guitars), Chuck Biscuits (drums)

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Curiosa e engraçada a observação do Metal Archieves, onde fui pegar a capinha, sobre este “4” (ou “4p”, q é como eles chamam o álbum): “A versão em cd de ‘4p’ é oficialmente o álbum mais furtado de todos os tempos, devido à sua embalagem. Por volta de 100 mil cópias dele foram roubadas nos 6 meses conseguintes ao seu lançamento”. Praticidade ambivalente da embalagem digipack cujo cd escorrega com facilidade do papelão ou um surto endêmico estadunidense de cleptomania justificam o fato só um tanto; pq se o cd fosse um completo lixo tvz nem despertasse interesse.

(e o meu é o digipack gringo, mas acho q aposto e ganho q a versão brasuca saiu na caixinha acrílica, e com encarte mais ou menos)

E “4” é um belo álbum. O ÚLTIMO realmente bom da ainda banda do Pequeno Polegar do metal, Danzig. O último em q uma BANDA trabalhou sob o sobrenome. Pois a partir do pífio álbum seguinte “5 – Blackacidevil”, o gnomo marombado resolveu tomar as rédeas de tudo, no sentido business da coisa: montou selo, cuida das capas (o q já fazia) e lança trabalhos como, quando e com quem bem entende. Só q sem os comparsas, ex-Samhain Von, Christ e Biscuits, ele (ou a banda) ñ mais foi nem nunca mais será o mesmo.

Nos meus modestos entender e especular, “4” é aquele tipo de álbum q aponta o auge duma proposta de banda, como foram o “… And Justice For All” pro ainda Metallica, o “Rust In Peace” pro ainda Megadeth e o “Arise” pro sepultado Sepultura, q a um só tempo deixaram os fãs boquiabertos, mas tb com a inquietação ‘putz, como será q superarão isso?’.

E assim como a produção seguinte a dos álbuns comparados, ñ foi superado. Marcou o último suspiro criativo e o início do declínio.

Tudo bem, Glenn Danzig sempre centralizou as autorias de sons e letras, e aqui ñ é diferente. Mas aquela conversa algo clichê sobre química entre músicos ou numa banda poucas vezes se faz e fez tão nítida quanto entre esses 4 puxadores de ferro. Q se equivaliam tecnicamente: ñ havia um q predominasse, fosse melhor músico q o outro. Se complementavam no jeito comedido e um tanto despojado de tocar.

“4” é o legado final da organicidade perdida de Danzig, banda. Ñ me recordo dum álbum q soasse pesado, cool e lúgubre ao mesmo tempo sem forçações, orquestrações estéreis ou tecladeira exagerada pra criar clima. Uma lição a ser aprendida por muitos gotiquinhos de embalo: alternâncias som-silêncio e peso-calmaria. Receita simples e das mais eficazes. Mesmo ñ significando a coisa mais fácil de fazer (daí q a tal “química” se justificaria). O “South Of Heaven” chega perto, pra tentar passar a idéia: aquele som pesado, mas chapado, q soa meio distante (ñ “na cara”), do qual o responsável é o mesmo Rick Rubin, q aqui ensina tb a produtores como gravar pesado e abafado sem perda de elementos ou exageros de graves (pro caso de baixas afinações, q nem sei se é mesmo o caso por aqui). Sim, pq mesmo alguns harmônicos guitarrísticos – como o riff de “Until You Call On the Dark”, ou em “Bringer Of Death” – conseguem soar dissonantes sem estridências pentelhas.

O vocal mezzo Jim Morrison mezzo Elvis Presley, característico do anabolizado, se faz presente. Embora nos piores momentos – uns ôôô e tentativas de agudos (e o refrão em “Dominion” ilustra bem isso) – soe como aquelas forçações tb típicas e sacais dum Ian Astbury. Ñ faz mal. Christ decanta raríssimos solos e os riffs refletem salutar influência de Black Sabbath, sempre naquilo de faltar uma ou duas notas pra soar completamente idêntico (a se conferir o intermezzo em “Brand New God”, o já citado riff de “Until You Call…”, ou a levada de “Son Of the Morning Star”).

Biscuits, de pegada pesada e bumbo ostensivo (ñ é só mérito da mixagem), complementa o espectro setentista: pouquíssimo teor de viradas, a maior parte realmente simples, mas um peso e um senso de dinâmica (forte-fraco – em vários sons podem se ouvir as ghost notes!) bastante interessantes, vide a intro meio jazz em “Son Of A Morning Star” (pro lado sutil – e o meu som preferido, se é q alguém perguntou) ou a intro cadenciada-rufada em “I Don’t Mind the Pain” e a pegada em “Brand New God” (pro lado do peso). O groove de “Dominion” é tão simples quanto genial. E meu preferido. Eerie Von é discreto e vai junto com a guitarra, quando ñ a complementa (em “I Don’t Mind the Pain” – ou tem duas guitarras ali?) formatando o amálgama sonoro.

“4” apresenta ainda duas faixas experimentais, fora a bônus escondida, q tvz tenham causado repulsa nos fãs true (se é q Danzig tem ou já teve fã true). “Cantspeak”, o 1º caso, ainda mais, por ter sido tb o 1º single e videoclipe (aliás, um vídeo bem tosco), soa realmente estranha em função de ser a mais cool das faixas cool predominantes, e tvz na história da banda: é mais tocada por pedal ou botão de volume da guitarra q por algum riff propriamente, e tem ainda uns teclados sujos sutis. Mas passa. “Sadistikal”, por sua vez, aponta o q o liliputiano q já apanhou do baterista do Def Leppard aprontaria no disco seguinte: flerte com o industrial, com resultado insatisfatório. Bateria eletrônica ostensiva (caixa marcando) e tentativas de se criar clima com distorções e teclados, entre sussurros q nem constar no encarte constam. Ñ é instrumental, ñ dá pra cantar junto, ñ é nada.

Pra falar de “Invocation”, a faixa satânica escondida na faixa 66 do álbum, aproveito tb pra falar das letras do marombeiro marombado: praticamente todas elas são Danzig, sócio-majoritário, falando como enviado do demônio ou como um demônio prestes a assolar alguém. Ñ chegam a ser ruins: há todo um lance de rimas e estrofes bem organizadas, coisa e tal, mas no q tange ao conteúdo (à exceção de “Bringer Of Death”, tb o som mais rápido e de maior apreço pra quem achar “4” arrastado demais), é puro satanismo bobo de história em quadrinhos. Tudo muito vago e superficial.

Aí acaba a faixa 12, e alguém desavisado vai observando faixas de 4″ se sucederem até chegar na 66, quando entra a tal “Invocation”, q é da categoria das faixas bônus realmente dispensáveis. Ou q fornece elemento aos detratores: uma tentativa besta [no mau sentido da palavra ‘besta’ ahah] de se fazer uma missa satânica, ou algo do tipo, q tvz assuste o moleque ou a menina recém-iniciados em heavy metal. (Os true black metal então, vão querer empalar o anão, ou oferecê-lo a algum troll nalgum pico norueguês). Teclados ostensivos* e vozes (mais de uma) num clima q ñ convence nem aquele gótico q vive à base de Haldol ou antidepressivos.

E a moral da estória por aqui com este álbum é: um disco bem homogêneo, trampado, bem produzido e interessante, embora menos áspero q os anteriores, cujas duas últimas faixas (e tb a bônus) dá pra deixar pra lá. “Stalker Song” tem um quê de Led Zeppelin e blues no riff limpo, mas é só; “Let It Be Captured”, quase balada, favorece a sensação de déjà vu, ou de redundância do trabalho: o melhor ficou pra trás, melhor voltar à faixa 1, q tudo bem e nada (nem tempo) se perde. Foi o disco mainstream da banda q hoje já ñ é banda (virou projeto solo), mas sem ser o ápice das concessões e do “se vender” à indústria. Realmente ñ.

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* Um pedido de desculpas devido ao abuso do termo ‘ostensivo’ tvz caiba. Ostensivo demais!…