GENTE Q FAZ

Nunca tinha ouvido falar do tal Bill Hudson, brasuca e guitarrista de carreira gringa. Provavelmente muitos dos amigos por aqui tb ñ. Tocou no Vital Remains e tb no Circle II Circle (!!).

Há uma matéria extensa no whiplash sobre o sujeito, repleta de REALIZAÇÕES e OPINIÕES, das quais reproduzo algumas por aqui. Achei simplesmente memoráveis.

O negócio todo toma uma meia hora (vale a pena!) e está aqui: http://whiplash.net/materias/entrevistas/203985-circleiicircle.html

Simplesmente o cara falou coisas q há 11 anos venho opinando por aqui neste velho e carcomido blog. Trocaria 11 anos de Thrash Com H por ter conduzido essa entrevista.

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1. as bandas q surgem e se vão

Você tem idade suficiente para se lembrar da ascensão e estabelecimento de alguns nomes do Brasil no cenário internacional, como o Sepultura e o Krisiun, assim como o completo e absoluto naufrágio de outras bandas nacionais que investiram muito na tentativa de se lançar internacionalmente, pagando grandes nomes para aparecerem em seus discos e shows e discos e se endividando para viabilizar precárias pseudoturnês pela Europa. A seu ver, na privilegiada condição de músico brasileiro que não toca música tipicamente brasileira e radicado há tanto tempo no exterior com reconhecimento de músicos de porte no meio do Metal, o que determina o êxito ou o fracasso de um músico de Metal brasileiro perante o público estrangeiro?

Na verdade, comecei a gostar de música em 1993, quando o Sepultura já era estabelecido e todo mundo tinha uma cópia em vinil de ‘Arise’. O Krisiun, para você ter uma ideia, eu só fui ouvir falar aqui nos EUA, bem como o Hibria [a minha banda preferida dentre as do Brasil]. Então eu não cheguei a assistir a ascensão de banda nenhuma, assim em tempo real.

Porém, você está certo, eu assisti TODAS as outras bandas tentarem e naufragarem. Essa situação foi EXATAMENTE o que me fez querer sair do Brasil, uma decisão pelo qual eu me dou parabéns por ter tomado todos os dias [risos]!

A meu ver, em qualquer lugar no mundo, fora o Brasil, você precisa das mesmas coisas: talento, determinação e os contatos certos. Se você trabalha duro, consegue. Fora do Brasil, ninguém está preocupado com “de onde você e”, e sim o que pode trazer para qualquer situação profissional. Em MENOS DE UM ANO morando nos EUA, eu já estava no cast da Metal Blade Records e com patrocínios das principais marcas do mundo. Com 2 anos aqui eu já tinha rodado o mundo em turnê e dividido o palco com o Heaven And Hell no Japão. Sempre fui pago pelo meu trabalho. NUNCA paguei pra tocar, NUNCA paguei para ter exposição que não fosse merecida e bancada por uma gravadora e parte de uma campanha de marketing.

No Brasil, um músico brasileiro é sempre isso: um “músico brasileiro”, no sentido de não poder nunca estar no mesmo “nível” que os que não o são. Por isso eu digo que o que determina o êxito ou fracasso para um brasileiro é o mesmo para um coreano, sueco ou japonês. Trabalhe duro e conseguirá. Fique em casa falando besteira na internet e não conseguirá. Só que se o cara for brasileiro, é muito melhor ele mudar de país primeiro e fazer uma carreira lá. O Brasil foi o vigésimo nono país que toquei na minha carreira, em ordem. Eu fiz show em Dubai, Japão, toda a Europa e todo o continente Americano, antes de fazer no Brasil. Virou mais um país, ao invés do “meu país”.

Porém, entenda que “trabalhar duro” vai muito além de tocar. Tem que ter o visual, estar em forma… não ficar a semana toda bebendo e reclamando da vida. Saiba negociar, conversar com as pessoas. Aprenda outras línguas, estude sobre o business. Seja honesto, não pise na cabeça de ninguém. Pra mim, existe sim uma fórmula para o sucesso, mas a maioria não segue.

2. “complexo de vira-latas” brasuca. Reputação exilada, pra ñ dizer desconhecida, aqui

Você acha que essa postura colonizada do povo brasileiro em sua absoluta maioria de precisar se ver pelos olhos do estrangeiro, ou da metrópole, e começar a apreciar seu próprio valor somente depois que o gringo o reconhece é uma doença psicossocial irreversível ou um adianto para que artistas mais esclarecidos se destaquem quando se propõem a imigrar para outro país com real tradição no rock pesado e se estabelecer por lá?

“Doença psicossocial irreversível” é talvez a melhor definição do que acontece no meio metal do Brasil que eu já ouvi. Será que posso usar esse termo daqui pra frente? [risos]

Veja, estou digitando essas respostas do meu estúdio em Los Angeles. Estou gravando umas demos para um novo projeto que estou desenvolvendo com o David Vincent [Morbid Angel]. Hoje é meu primeiro dia de volta em casa depois de 5 semanas no Brasil. Nesse tempo, percebi algumas coisas sobre o Brasil e essa necessidade de aprovação de fora, o que é bem triste, pois temos, na minha opinião, os melhores músicos do mundo no tocando no rock e heavy metal.

Já fui ao Brasil em turnê por duas vezes, em 2012 com o Vital Remains e em 2013 com o Circle II Circle. Ambas são bandas muito estabelecidas no seu estilo, e ambas tiveram seus maiores públicos em São Paulo [coisa que duvido que saibam por aí]. Em ambos os casos, as pessoas vinham falar comigo em inglês. Sempre fiz o meu melhor para deixar claro que era brazuca, como eles. Pagava bebida pra galera, tirava trocentas fotos, etc. Mas eu acho pessoalmente, que passaram a me tratar diferente por isso. Para o brasileiro, o mero fato de a pessoa ser de lá faz dela menos importante, o que é muito triste. Não estou dizendo que quero ser tratado melhor, mas a verdade é que senti a diferença entre quando as pessoas achavam que eu era estrangeiro e quando perceberam que não era. Realmente é meio esquisito para mim, e um fenômeno 100% brasileiro.

Compare isso com, digamos, a Suécia. Os artistas de lá fazem suas maiores turnês em seu país natal. A turnê de verão do Sabaton será em ESTÁDIOS. Cara, qual foi a última vez que você ouviu de uma banda de Power Metal lotar um estádio? Com Udo Dirkschneider como abertura?! Bandas suecas têm publico de 5 – 8 mil na Suécia enquanto fora, 1500 – 3000. Eles pensam exatamente o contrário do que o pessoal no Brasil!

No meu caso, das 3 turnês comemorativas de discos do Savatage que já foram feitas [em ordem, 2011 com “Hall of The Mountain King”, 2012 com “The Wake of Magellan” e 2013 com “Edge of Thorns”], eu fui guitarrista em duas. A próxima, que será a de “Streets”, eu também farei. São 3 de 4 turnês, com os membros originais [Zak Stevens e Jon Oliva]! Toquei mais Savatage nos últimos 3 anos que qualquer guitarrista. Mesmo assim, todas as vezes que saí em qualquer publicação de metal do Brasil ou foi por que você me colocou, ou o Guilherme Spiazzi da Roadie Crew, que conhece a minha carreira, pois morou 12 anos nos EUA! O Ricardo Batalha, o Julio Feriato e o Vinicius Neves já me abriram um espaço legal em seus programas de TV também, mas é uma coisa bem rara de acontecer.

Se algum outro membro de qualquer dessas bandas aportasse no Brasil, haveria um puta fuzuê e coletiva de imprensa, etc. Então eu sinto isso na pele, meu amigo!

Não acho que isso seja um adianto de forma nenhuma… Isso na verdade deveria mudar. Mas não vai, então, pra mim virou algo com que eu tenho que conviver e seguir minha vida.

3. a mídia metálica brasileira
A mídia especializada em metal no Brasil é formada por certos grupos de pessoas: um monte de fãs querendo entrar em show de graça, mas isso os promotores tiram de letra, pois vêem o cara tentando usar o mesmo nome por “publicações” diferentes. O próximo tipo são as garotas que ficam amigas das bandas e do pessoal de revista e faz a ponte. Normalmente isso nada tem a ver com jornalismo, mas com amizade ou outros interesses… E aí vêm os caras sérios, mas que ainda assim acham que mandam no mundo. Caras que não deram certo na música, mas se deram muito bem como jornalistas. Essa, infelizmente é a maioria. É a síndrome do zelador que se acha dono do prédio. Isso pode ter sido verdade nos anos 90, quando a Rock Brigade manipulou TUDO para levantar a banda que empresariavam e funcionou. Mas hoje com a internet ninguém mais tem esse poder todo.
4. os  trú

Recentemente, um cretino brasileiro se certificando como algum tipo de autoridade do Death Metal lhe abordou em público questionando seu envolvimento com o gênero, já que ‘cê num é du défi!’. Esse tipo de postura beócia, tacanha e juvenil existe também entre os fãs estrangeiros, ou predomina de maneira peculiarmente acentuada no Terceiro Mundo?

[Risos] Isso foi no show do Obituary, na Clash Club. Depois da apresentação, no camarim, um cara de 2 metros olhou pra mim e perguntou “Não foi você que tocou com o Vital Remains?” e eu respondi que sim, já estendendo a mão para o cara, achando ser um fã. O cara me ignorou e ainda passou a falar várias merdas pra mim e dizer que eu não merecia estar lá. Que me viu tocar com o Vital Remains, mas que eu era falso, que minha ideologia não batia, etc., que eu devia ir tocar “heavy metal” – Obituary é o quê? Death não é mais parte de Metal? Chegou a um ponto eu achei que o cara queria brigar comigo, fisicamente… mas o segurança o tirou da casa logo e acabou ali.