EAT THE GUN

Uma história sobre fedor e criminalidade.

Mauá é uma cidade feia. E ñ o digo por elitismo. Pra quem ñ conhece, é uma cidade “patinho feio” em meio ao “Grande ABC”, como Diadema e Ribeirão Pires, e q se o vivente (alô, Rodrigo Gomes!) ñ é daqui, tvz nunca tenha ouvido falar tb.

“Cidade dormitório”, constituída de moradores q trabalham FORA de lá (Santo André, São Bernardo, São Caetano) e onde as opções de lazer são boteco, puteiro, forró e igreja seita-cheque. Mauá tinha ainda outro agravante: o alto índice de criminalidade e assassinatos.

E foi lá q o No Class foi tocar em 12 de fevereiro de 2005.

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Convidados pelos ingênuos gente boa do Napster, q recém tocaram ali e disseram o famoso “foi do caralho e tava cheio”. Tvz estivesse 1) pq era cover de Metallica. E 2) pq estavam num momento de encerramento de TOQUE DE RECOLHER na cidade – sério (ninguém ficava na rua após às 22h) – e alguns botecos de música estavam retomando atividades.

O dono era um sujeito simplório e simpático, codinomeado Zé do Boné. Igual da HQ. Sujeito era igual ao da HQ.

O público foi escasso, pouco mesmo. O q serviria de lição acumulada pra nós: nunca mais tocar ou acompanhar banda q recém-tocou num lugar. Tipo semana, quinzena ou mês seguinte. Ñ rola. Tem q haver um intervalo pra uma carência, um sentir falta etc. Antes tivesse sido esse o problema.

Do q mais lembro do Galpão Orion Z é o CHEIRO. O lugar ñ tinha ventilação ou janela (“galpão”, né?) e cheirava a banheiro imundo, porra e gordura de fritura. Se é verdade q a gente acostuma com o cheiro, procedeu, mas uma hora em q o nosso guitarrista à época, Cássio, tentou ir ao banheiro, ñ conseguiu. Motivo: cheirava ainda pior ali dentro.

Imagina na Copa.

Junto disso – e ñ sou exatamente o cara mais esotérico – havia uma vibe estranha. Ñ sabia dizer como, até na nossa vez de tocar: as borboletas (duas) dos meus (dois) pratos de ataque “decolaram” dos suportes duas vezes enquanto tocávamos. Nunca mais aconteceu, nunca tinha acontecido.

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A banda q abriu a noite era local, Códice, e lembro mal e mal serem banda metal autoral com alguns covers. O q lembro melhor é q demoraram uma eternidade pra passar o som, um pouco por falta de noção, outro por estrelismo idiota. Napster e nós tivemos pouco tempo pra isso.

Tb enrolaram pra cacete pra entrar (o famoso migué do “tá faltando chegar um cara”) e tocaram. E demoraram. E ñ interagiram. E foda-se.

Tocamos nós, e o palco era tão alto (estilo Led Slay), q lá na bateria eu ñ conseguia ver a pista. Só conseguia saber q estava quase vazio, q ninguém ali estava a fim de Motörhead, fora as duas vezes q tive q demorar um pouco entre os sons pra “caçar borboleta”. Roubada, ñ iria rolar cachê mesmo, tudo bem.

No q veio o Napster, alguma galerinha juntou pra cantar, acompanhar e etc. Mas tiveram q interromper o show no meio, pra ñ mais voltar. Motivo?

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Polícia do lado de fora mandando todo mundo pra dentro. Motivo? Dois quarteirões adiante, sujeito q havia sido barrado num forró voltou pra casa, pegou seu revólver e o descarregou todo no infeliz porteiro do local.

A vibe já era ruim, só piorou.

Pessoal do Códice acho q já tinha saído fora; ficamos nós 3 e os 4 do Napster junto da meia dúzia de fregueses + o Zé do Boné naquele antro fedorento até umas 3h da manhã, quando a PM liberou q os locais pudessem abrir e as pessoas pudessem ir à rua. Ou ir embora.

Q foi o q fizemos. Algum de nós q tivesse levado namorada teria ficado sem namorada imediata e incondicionalmente. Ficou aquele clima estranho, um ou outro nóia ainda querendo vir trocar idéia sobre música (em cidades assim esse tipo de coisa foi só uma outra encrenca), a gente juntar as coisas nos carros e irmos embora.

Voltaríamos a Mauá ainda duas vezes mais à frente, com outras formações e em melhores condições. A última coisa q me lembro foi termos parado num Habib’s na Avenida do Estado… pra jantar.