MULHERES NO PUNK

Tendal da Lapa, 21.04.24

Pois é: existe renovação.

5 bandas punk femininas e feministas tocando de graça num local consideravelmente cheio e sem tretas. Vendendo chopp e merchan dentro, integrantes das bandas trocando idéia e confraternizando etc.

A molecada da prancha de bodyboarding presente, como no Crypta resenhado aqui em janeiro, e no Garotos Podres no mesmo local há uns meses. Uma mesma molecada nova querendo ser punk ou metaleira, por vezes usando maquiagens passando do ponto: umas pessoas à Coringa e Arlequina, outras sem definir se corpsepaint ou gótica. E uma adolescente convictamente maquiada à Siouxsie Sioux.

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Cartaz dizia q começaria às 14h, e provavelmente foi assim (chupem, rolês metaleiros), pq cheguei umas 16:30 e as Refugiadas estavam acabando. Monte de gente no palco, banda tocando cover do cover (versão Ratos de Porão) de “O Dotadão Deve Morrer” mudando a letra pra algo mais feminista, q não entendi na hora. Legal, mas não curti os vocais.

Uma meia hora depois entrou Charlotte Matou Um Cara, a banda de q tinha maís curiosidade: como não curtir banda com um nome desse?

E vieram sem a vocalista, não entendi bem porque, mas vi q tocaram um recado da mesma no microfone, justificando. E vieram precedidas dumas meninas à beira do palco cantando um som delas.

E achei muito bom. Baixista e guitarrista revezando os vocais e passando o recado. Inteligíveis. Destaco o protesto anti machista “Buceta Dentada” e o contra a PM, afiado e atualizado, “Tiro, Porrada e Bomba”.

Reconheci ainda “Rosários” (refrão foda), “Não Aceito”, “Não Passarão”, “Vulva la Revolución” e “Punk Mascuzinho”, de temas até óbvios, mas nunca datados.

Troquei uma idéia com a baixista na banquinha de merchan, q me disse não terem (mais) mídia física, só Spotify, plataformas e YouTube. Motivos: tudo o q fizeram venderam, e fazer nova leva é muito caro.

Pé no chão e som foda.

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Dominatrix, veteranas, vieram depois. 27 anos de banda, tecnicamente a melhor banda da noite, duas guitarras, som bem ajeitado.

Curti a autoridade da vocalista em pedir uma cerveja a alguém – e o técnico da mesa de som providenciou – só q sem excessos. Curti a parte dos discursos em q chamava as pessoas pra “ir aos rolês, comprar merchan, cd, vinil, fita cassete e encontrar pessoalmente as pessoas”, pra não ficar só em rede social, q é instrumento do imperialismo americano.

Errada. Não. Está.

Brincou q eram de verdade, e não Inteligência Artificial, e foram ouvidas. Curioso: não tinham merchan nenhum pra vender. Pô. Reitero: têm autoridade e influência. Anunciaram pra maio um disco novo.

Detalhe delas e das outras bandas: ninguém passando do tempo ou embaçando pra entrar.

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Eram umas 19h e achei q viriam as Mercenárias, q vi chegando no Tendal durante a Dominatrix. Mas foram ainda as Ratas Rabiosas, a banda mais punk raiz da noite.

Trio, com as 3 revezando vocais. Barulheira em estado puro, só q dando pra entender. Vez ou outra pessoal das bandas agradecia a umA alguém na mesa de som, tvz fosse Gisele. Sei q estava honrando o evento. Enfim.

Até curti as Rabiosas, e o banner colocado por cima da bateria. Percebi o público cantando os sons juntos, e reconhecendo um ou outro. Homens e mulheres. Muita roda à beira do palco. Baixista bastante comunicativa. Achei legal quando manifestou a influência de Dominatrix e Mercenárias pra elas terem montado a banda; reverência, não babação de ovo. O único defeito – chatice minha – achei a baterista tocando numa levada própria e torta, meio tudo igual.

Provavelmente importa porra nenhuma o q eu acho disso.

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Das Mercenárias, acho q esperava pouco ou nada. Se fosse (fraco) como na abertura do L7 ano passado, daria álibi pra eu rancar fora. Nada.

Vieram em trio, tudo tiozona (a guitarrista Silvia Tape, aparentando menos) e eram muito esperadas. Ninguém foi embora durante, foi a banda melhor recebida. Pra mim, uma surpresa.

Público cantando junto as letras. Algumas do meu tempo, várias atravessando o tempo. Auge: “Santa Igreja”.

Tocaram ainda “Polícia”, “Inimigo” (minha favorita), “Pânico”, “Me Perco Nesse Tempo”, “Há 10 Anos Passados”, “Ação na Cidade”, “Somos Milhões”, “Trashland”, “Danação”, umas duas q não constam dos discos, e me chamou atenção Edgard Scandurra – ex da baixista Sandra Coutinho, marido da guitarrista Silvia – curtindo e cantando tudo em frente à mesa de som. Chamaram pro palco, não foi. Bola dentro.

Destaque ainda pra baterista Pichu Ferraz, q já foi do Nervosa e em veia Keith Moon: bateu cabeça, agitou, começava os sons antes, apressada. Mas sem nunca sair do tempo. Dá o tônus sem vaidade.

“Polícia” terminou o show curto, uma hora no máximo, mas não as deixaram ir embora. Rolou bis, com “Imagem” e repetição de 3 músicas. Tivessem repetido todo o set, ninguém reclamaria. Precisam ensaiar mais repertório, tem demanda. Tvz tenham se surpreendido tb.

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Saí do rolê moído, e não pq tenha dado mosh ou entrado em roda, mas pq sou velho e me senti um intruso ali, com camiseta do Krisiun. Mas jamais hostilizado ou desconfortável.

O futuro é fêmeo? O presente já o é. E o punk rock está vivo, representativo e renovado. Isso é bom.