VALE 15 CONTOS

mortiis

“The Smell Of Rain”, Mortiis, 2001, Earache Records

sons: SCAR TREK/PARASITE GOD // FLUX/MENTAL MÄELSTROM // SPIRIT IN A VACUUM // MONOLITH // YOU PUT A HEX ON ME // EVERYONE LEAVES // MARSHLAND // ANTIMENTAL // SMELL THE WITCH

formação: Mortiis (keyboards, programming, lead & backing vocals), Fredrik Bergström (timpani & percussion), Sarah Jezebel Deva (soprano, solo soprano, harmonies & alto female vocals), John Prozac (additional programming), Chris A (all guitars), Alzahr (bass guitar), Nicklas Thane (additional bass guitar on “Antimental”)

além de Martina Binder (alto + lead female vocals), Suvi-Tuulia Virtanen (alto female vocals), Mika Lindberg (alto male vocals), Raptor (alto male vocals), Asa Anveden (Cello), Staffan Wieslander (Cello), Johanna Wetter (Violin), Cecilia Lindgren (Violin)

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Esse é daqueles álbuns q nos surpreendem quando reouvidos. E quando eu digo “nos surpreendem”, entendam: “me surpreendeu”. Positivamente.

É de toda uma série de discos q tenho de q fui comprando por recomendações, compulsão e por estar barato nalgum sebo. 15 contos. Ter sido lançado pela Earache tb contou. Provavelmente à época escutei sem ouvir, guardei numa prateleira e deixei pra lá. Até recentemente ter sido acometido por alguma pitoresca vontade de ouvir Mortiis – e seus 2 álbuns comprados até o momento – e fazer pra valer o teste do “gostômetro”.

“The Stargate” (o outro), ñ curti de fato: atmosférico e hermético, de macetes meio Summoning. Só q sem talento. Prefiro disparado os austríacos. “The Smell Of Rain” (este aqui) destaca-se por ter sido o “álbum darkwave/synthpop” do cabra. Q é quase um cosplay de chupacabra na capa. E me foi a grata surpresa. Gostei.

Pois é um disco de EBM bem gravado e produzido, com referências synthpop oitentistas ostensivas (vide a pauta “encartes” a Mortiis dedicada, em dez/15, em q esclarece e enaltece as mesmas), misturado a alguma ambiência industrial e peso metálico. Longe de ser um trabalho clássico, influente ou divisor de águas, mostra-se bem agradável/acessível.

Sobretudo a quem tem broncas com a praia noventista de metal industrial, de Nine Inch Nails, Ministry e derivados derivativos, ou jamais – como eu – conseguiu digerir a parafernálica cacofônica do Prodigy: soa menos eletrônico do q deveria, menos pesado do q poderia, mas mais palatável q os citados. Ñ é diluído, por exemplo, como a fase “eletrônica” dum Theatre Of Tragedy. É saudosista e reverente – praticamente um tributo ao estilo – sem soar datado, oportunista ou fajuto.

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E muito por se tratar duma empreitada conceitualmente oitentista feita com esmero e equipamentos do século XXI: as programações eletrônicas (misturadas a percussões “reais”) têm timbres e levadas menos enfadonhas (muito menos aqueles chimbaus pentelhos em contratempos), há participações de backing vocals (o coro em “Marshland” é bastante climático) e cordas de verdade, fora baixos e guitarras nada sintetizadas, por exemplo. O esquisitão poderia ficar na preguiça e ter feito tudo num teclado só, ou 2.

Se trata duma abordagem sonora específica propiciada de modo abrangente, o q se pôde obter, óbvia e felizmente, por ter sido cometido depois dos 80’s.

Meus sons preferidos são os 2 primeiros, além de “You Put A Hex On Me” e “Marshland”, mais próximos aos moldes EBM até então descritos. “Spirit In a Vacuum” soa quase como Laibach, sem a caricatura e o vocal caricato dos eslovenos. Por sinal, em nenhum momento as vocalizações são guturais, muito pelo contrário: repletas de saturações e distorções q ñ chegam a distorcer ao modo ininteligível das coisas. A “Smell the Witch” derradeira soa um resumão de todos os sons, contendo características deles todos.

“Everything Leaves”, em seu início, me remete ao Engima, projeto romeno picareta noventista, mas tudo bem. “Monolith”, pro meu gosto, é a única sem destaque. “Antimental” soa bem climática, em sua textura industrial, quase Nine Inch Nails, mas sem chupinhar. Rolou um talento na abordagem, nas composições e na produção, o q a mim conflita tremendamente com a “obra” ambient anterior do sujeito. Ruim, reitero. Por outro lado, parece q os discos posteriores a este adotaram linhagem “rock industrial”, q ñ cheguei a conhecer, mais por faltar prioridade q curiosidade instigada. Lançados virtuais – ao menos os 4 últimos – pelo próprio selo (Omnipresence) de Mortiis.

Disco, no fim, pra saudosos duma batmacumba eletrônica belga de outrora e pro pessoal ñ tão tr00.

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CATA PIOLHO CCLX – “Exodus”: Exodus ou Vision Divine? // “Smear Campaign”: Napalm Death ou Annihilator? // “Bad Religion”: Accept ou Motörhead?