FAROFA (NO VENTILADOR)

(p. 67)

– Alô, aqui é Gene Simmons. Li seu anúncio e gostaria de lhe fazer algumas perguntas – o cara disse.
Ele tinha uma voz grave e enunciava cada palavra como se fosse um professor falando com um aluno.
– Ah, claro, manda ver! – eu disse.
Para ser honesto, não estava esperando muito dessa ligação. Recebi algumas respostas para o anúncio e fui a algumas audições no Village e uma em Yonkers. Todas as bandas eram muito ruins.
– Qual é sua altura? – Gene perguntou.
– Tenho 1,78 metro.
– Você é gordo?
– Não, sou agradável e magro. – Eu era um palito. Era um músico morto de fome.
– Tem cabelo comprido?
– Sim, alcança abaixo de minhas tetas – respondi.
– Você se considera alguém bonito, com boa aparência ou gracioso?
Era um teste de múltipla escolha? Estava ficando ridículo. Assim, virei-me para meus amigos no apartamento, que estavam escutando mnhas respostas.
– Eu tenho boa aparência? – perguntei a eles.
– Positivo! – eles gritaram.
– Sou muito bonito – eu garanti.
Tinha de dar uma lição naquele cara. Ele era muito meticuloso em sua sequência inquisitorial, parecendo saber exatamente o que queria de nossa conversa.
– Você estaria disposto a se vestir como drag?
– Eu estaria disposto a me vestir como drag? – repeti a pergunta para meus ouvintes. – Com certeza. Não tenho nenhum problema com sso. Na verdade, tocaria pelado. Tenho um pau de 23 centímetros.
Todos na sala riram. Na outra extremidade da linha, Gene ficou mudo.
– Ah, tudo bem – ele disse, finalmente.

Gene me revelou que gostou que eu estivesse disposto a fazer qualquer coisa para ter êxito, pois ele também queria muito isso. Conversamos por um bom tempo e, durante nossa conversa, ele me contou que tinha uma banda com seu amigo Paul chamada Wicked Lester … … …

Nunca fui um entusiasta pela Banda Beijo (vulgo Kiss) e acho q nunca serei. Passei da idade, perdi o bonde. Mas sempre gostei dos personagens, personas públicas da banda. E do Eric Carr.

Comprei despretensiosamente este “Makeup to Breakup – Minha Vida Dentro e Fora do Kiss”, de Peter Criss assinado pelo ghost writter (nem tão ghost), Larry “Ratso” Sloman, creditado.

Nem tão despretensiosamente, na verdade, pq já tinha lido uns trechos traduzidos pelo whiplash ano passado. Especialmente um bastante perverso de episódio ocorrido com sua avó senil. E ñ me arrependi.

Tal como em autobiografias ghost writters recentes, como as de Lobão e Nasi, o sujeito aqui se considera uma sumidade, figura de suma importânca pra música. Por outro lado, ñ há qualquer semelhança entre esta bio e as de Lobão, Nasi e Tim Maia (a do Nelson Motta) no q se refere a amenidades: Criss simplesmente joga farofa pra todo lado!

Dá nome de produtor cocainômano e hostil (Bob Ezrin), nomeia discos em q tocou numa faixa só (“Destroyer”. Aliás, em q ninguém da banda, segundo ele, tocou), outros em q só ganhou crédito (“Unmasked”. Em q Ace Frehley ñ tocou), diz q o “Alive I” só teve a bateria ao vivo (tudo o mais, regravado em estúdio). Q teve turnê em q ñ tocou, e tiveram Titico Torres e Carmine Appice fazendo o “homem gato” e etc.

Entrega podres inenarráveis do sátiro Gene Simmons (há um trote com um sósia, inacreditável), ñ consegue entregar se Paul Stanley é ou ñ gay e descreve Ace Frehley (memorável tb o teste do sujeito!) como um viciado psicótico de tal ordem q Dee Dee Ramone ficou parecendo um escoteiro, comparando. Há tiros, surubas, intrigas, desmandos, máfia, tentativa de suicídio, amizade com John Belushi (putz!), casamento com coelhinha da Playboy.

Tô curtindo. E percebendo ñ se precisar ser fã doente da banda pra acompanhar: tá tudo muito bem escrito (a despeito dumas grosserias de tradução, marZ!) e detalhado.

Chega a ser vertiginoso, embora compreensível: assumidamente narcisista, deve ser um falastrão do cacete pessoalmente; fora q se acha um baterista foderoso. Ainda ñ acabei: estou na página 228 (de 384 totais) e no Capítulo 14 (de 21). E tb entendendo pq a seção de agradecimentos inteira 4 páginas, com várias menções a advogados.

Simmons e Stanley devem estar se lixando. E Criss, precisando de grana. Mesmo assim, e mesmo ñ superando as bios de Tony Iommi e Johnny Ramone, recomendo.