R.A.M.O.N.E.S.

Lendo. Recomendo.

E cito trechos:

[p. 85]

“Em maio de 1972 o que sobrava na cultura musical era o rockstar espalhafatoso ou o rockstar hippie idealista e fora de moda. Ou uma combinação dos dois, como o herói da classe operária John Lennon, que cantava sobre imaginar um mundo sem posses materiais enquanto era filmado em uma mansão de milhares de dólares, tocando um piano que custava mais do que muitos americanos ganhariam durante toda uma vida. Por mais que adorássemos Lennon e os nossos velhos ideais, algo começava a não cheirar bem.

Bandas como Yes não nos causavam nada além de confusão. O que mais havia? Elton John, “American Pie”, Black Oak Arkansas? Hendrix estava morto, assim como Beatles e The Doors. Tudo parecia tão pretensioso, todos pareciam querer empurrar goela abaixo suas filosofias, seus estilos de vida e a si próprios. Todos menos Frank Zappa e pouquíssimos outros”.

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[p. 105 – Debbie Harry citando, e descrição dos primeiros shows dos Ramones]

“‘Foi hilário, porque Joey estava toda hora caindo. Ele é muito alto e muito desengonçado, não enxergava direito e ainda estava de óculos escuros. Ele ficava lá em cima cantando e de repente CABLOFT!, caía de cara em uma escada que dava pro palco. Aí o resto dos Ramones trazia Joey de volta pro palco e continuavam’.

O público não sabia como reagir diante disso. Eles riam quando Joey caía, porque realmente não tinham como saber se era de propósito ou não. Ele se levantava do chão com um rombo na calça na altura do joelho e sangue pingando. As pessoas ao meu redor riam histericamente, mas eu ficava pensando: Ah, cara. O que é que ele está fazendo, porra? Ele vai se matar.

Dee Dee parecia seguidamente perder o tempo da música e errar as notas. Ele parava de tocar as canções e olhava para o John com ar de dúvida. Aquelas eram as músicas mais simples que tínhamos ouvido nos últimos tempos, mas mesmo assim o sofrimento da banda era evidente. E eles pareciam irritados com isso”.

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[p. 137 – show em Londres em julho de 1976. 1ª turnê ramônica pra Inglaterra]

“Então de uma hora para outra o público inteiro começou a cuspir na banda. Chamado de gobbing, o novo ritual era considerado um elogio, uma expressão de aprovação: estavam dando um banho de carinho na banda. Nunca vimos nada igual. O catarro e a saliva era disparados em direção ao palco como mísseis teleguiados. O muco ficava pendurado nos braços das guitarras até finalmente cair no chão, que já estava escorregadio com aquela substância. Saltava dos pratos quando Tommy tocava. E voava pelo pedestal do microfone de Joey. Quando o show terminou estávamos todos encharcados, sinal de que o show havia sido um sucesso.

Tudo era diferente lá”.

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[p. 170 – sobre o famigerado crítico Lester Bangs, com quem Mickey teve uma banda, Birdland, q legou 1 álbum, póstumo]

“Depois do evento a discórdia continuou entre Lester e nossa banda. Seguidamente Lester queria fazer o circo pegar fogo e gostava de irritar, questionar ou criticar qualquer um que na sua opinião não iria virar o mundo de ponta-cabeça nem estabelecer um tipo de anarquia política que ele adorava defender, mas onde jamais teria condições de sobreviver.

Acredito que as intenções de Lester realmente fossem boas, mas ele também gostava de ser pago pela América das grandes corporações, assim como o cara de terno sentado a seu lado no metrô. Ele falava muito, mas não fazia exatamente o que pregava”.

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[p. 248 – sobre episódio q se tornaria uma longa e rancorosa história, ñ pelos motivos óbvios, de “Blitzkrieg Bop” ter virado jingle da Budweiser em 1991]

“Ao longo dos anos 80 os Ramones haviam sido desmoralizados, esnobados e difamados pela mídia de massa e pelos principais nomes do marketing. Eram ignorados por uns e pisoteados por outros. Finalmente em 1991 um inteligente executivo do mercado publicitário percebeu o que nenhum programador de rádio havia percebido até então: que a música dos Ramones poderia vender cerveja para uma nação sedenta. Ao contrário do que alguns enxergavam como ética punk – algo que os Ramones nunca defenderam para início de conversa – , a banda não tinha nenhum problema ético ou político em licenciar a sua música para um comercial de cerveja. Apesar de sempre terem preservado sua liberdade criativa, os Ramones não eram exatamente grandes propagandistas dos ideais anticapitalistas, como, por exemplo, não receber o dinheiro patrocinado por grandes corporações – dependendo do patrocínio, é claro. Para mim era mais como se os pobres estivessem pegando o dinheiro dos ricos – os discos da banda ainda vendiam em média setenta mil cópias por álbum. E quem tem mais dinheiro que a Budweiser?”