ENXERTO

Foi o nome, noutra freguesia, do Serviço de Utilidade Pública Thrash Com H (vulgo S.U.P.), por brevíssimo tempo – uma única edição – no zine Heavy Sound, do camarada Gustavo Garcia.

Aquele em q na edição #1, lançada ano passado, eu falei bem do “Load” (Metallica).

O Gustavo havia pedido uma 2ª resenha, pruma 2ª edição, q acabou ñ saindo e, infelizmente, nem sairá mais. Meu combinado com o cara era de publicar ali e ñ desovar cá tão já. Acredito q o timing era inevitável (mesmo tendo escrito esta aqui ano passado) e eis:

supla

“Supla”, Supla, 1991, EMI

ENCOLEIRADO / SAI PRA LÁ VUDU / BREAK THE ICE / 25 HORAS / SÓ PENSA NA FAMA / MENINA DE FAMÍLIA (SAFADINHA) / VOCÊ NÃO ENTENDE NADA + COTIDIANO [Caetano Veloso/Chico Buarque]/ ZAP OUT / À BEIRA DO ABISMO / FIGA DE MARFIM / NEM DEUS BRINCARIA / AMERICAN BOY

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Coisa q ñ se discute, unanimidade mesmo, é a competência técnica de Edu Ardanuy e dos manos Busic, o Dr. Sin. Os caras tocam muito e consta serem zero em ego, no q é consenso dar-lhes outro ponto por isso.

No entanto, ñ é de hoje q algum questionamento acerca da banda, em sua trajetória algo irregular, existe: pois são bons, gente boa e lançam trabalhos acima da média (exceção, em minha opinião, ao desnecessário ‘ao vivo’ de 10 anos). E por q então parece q ñ vingam nem vingarão jamais? Comercialmente falando, claro, pois os fãs aí estão pra discordar tenazmente de tal premissa.

Tenho a hipótese de serem gente certa nascida no país errado: tivessem nascido nos EUA, rivalizariam com Mr.Big, Racer X e outras bandas hard rock de quilate técnico. Ñ foi desta vez e tvz ñ adiante reclamar com Allan Kardec ahah

Ao mesmo tempo, tenho q o vocal lhes seja ainda (mesmo tendo melhorado no “Bravo” recente) o calcanhar de Aquiles: nada contra o Andria, q canta e toca muito ao mesmo tempo (o equipararia aos melhores, a um Geddy Lee, nesse aspecto), mas é fato q seu timbre vocal ñ é por vezes dos mais cativantes, muito pelo contrário.

Teorias à parte – em q lanço ainda outra, q ouço com freqüência: como é q os caras arriscarão carreira gringa se, ganhando o pão como músicos de estúdio, professores e etc. estão vivendo mais o certo q o duvidoso? – cabe finalmente indagar: por q falar em Dr. Sin se o Enxerto da vez é dum disco do Supla?

Simples: “Supla” é o 1º álbum do Dr.Sin. Mesmo q mal conste no site oficial deles. Será vergonha? Ñ deveria, pois este é um PUTA álbum de hard rock brasileiro; daqueles, arrisco dizer, a virar cult daqui uns anos. Andria, Ivan e Edu se juntaram pela 1ª vez por aqui, como foderosa banda de apoio, e depois juntos seguiram no nome-fantasia mais famoso e pecaminoso (existiria “carreira solo de banda”, aliás?).

E o Enxerto dirige-se a quem ñ tinha idade pra acompanhar os hits “Encoleirado” e “Break the Ice” no rádio (“Só Pensa Na Fama” tb foi, mas acho sacal) ou mtv. A quem jamais ouviu falar q o filho do senador e da ex-prefeita era cover ruim de Billy Idol e possa desacreditar q um sujeito auto-paródico e lesado, de recentes encarnações ‘Charada Brasileiro’, ‘político e pirata’, ‘bossa furiosa’ e ‘brother of Brazil‘ possa já ter feito algo consistente musicalmente. Fez.

Sabe-se lá como. Ou mais ou menos: contrato com EMI, músicos excelentes, baterista do Paralamas do Sucesso produzindo – fora tocar em “Encoleirado” – e toda uma infra midiática sugerem o Papito ter usado bem seu din-din alguma vez na carreira. Ñ deu seqüência e isso ñ nos importa aqui. Aos sons:

“Sai Pra Lá Vudu” (sobre olho gordo), “25 Horas” e “Menina De Família (Safadinha)” são as mais pesadas, de riffs inspirados e diretos, afiados, q o melhor do Dr. Sin tvz ñ tenha – tb ñ os conheço tanto pra sacar se reciclaram algum material daqui na obra posterior – e q, Ñ FOSSE o Supla, seriam hits ainda maiores q a divertida porém simplória “Futebol, Mulher & Rock’n’Roll”. Pois apesar do Papito e sua dicção problemática (“voxê”, e ñ “você”; “xai”, e ñ “sai”), têm letras bem sacadas e refrãos marcantes; as duas últimas ainda, safadas como um Velhas Virgens ñ comete tão bem.

“Encoleirado” é hit de letra esperta (a cargo de Roger, do Ultraje A Rigor, quase sempre acima da média nisso) q muito marmanjo vivendo dias de compromisso com a patroa, mas receoso de perder a liberdade, certamente se identificou – “encoleirado é meio casado, meio enforcado, meio engraçado, quase capado”. Nunca vi tal assunto abordado por qualquer outra banda brasuca. E é aqui virtude q ressalto neste “Supla”: letras falando de mulher, de sexo (às vezes bem explicitamente) e de relacionamentos, sem entanto resvalar nos clichês q formações como Velhas Virgens e Baranga insistem e insistem em repetir e repetir. Até o próprio Dr. Sin tendo em português letras deste tipo (nada pra Academia Brasileira de Letras, mas tb ñ qualquer chulice) vingaria muito mais.

Pq sou da opinião de faltarem bandas pesadas falando na língua pátria coisas q ñ só goró, balada e putaria: o Golpe De Estado permanece invicto nesse páreo. Voltando…

“Break the Ice” é balada q ñ faria feio nos EUA. Em inglês (nem todos os sons aqui são em português) mas com vocal do Andria, passaria bem. “À Beira Do Abismo” e “Figa De Marfim” são mais amenas – ñ tão ásperas, rápidas, mas também ñ baladas – e dissertam também sobre relacionamento. Se alguém lembrar da banda Taffo – q a maioria das letras era algo constrangedora, embora bem-intencionada – vale apontar q caberiam com louvor num sucessor de “Rosa Branca”. E ambas com solos impactantes. “Nem Deus Brincaria” flerta com o pop (no groove mais reto de bateria eletrônica), mas tem riff preciso, agudo, e ambiências entre Van Halen (a cargo de alavancadas) e Satriani fase “Surfing With the Alien”: a cara do Ardanuy, em suma.

Como “American Boy”, com o solo mais Van Halen, e cuja letra só pode ser de auto-ironia involuntária: sobre playba q volta deslumbrado dos EUA, “ñ gosta de nada do q é feito aqui”, “drogado pela América”.

O destaque ao Ardanuy na resenha é algo involuntário, algo ñ: pois em sendo disco de hard rock, é natural q o maior destaque, fora o vocal, fosse ele mesmo. No entanto, ressalto algum trampo baterístico de Ivan, q se retomado na Banda do Pecado (soou nome de forró isso ahah) talvez a guindasse a outro nível. Falo da timbragem, bem diferente da costumeiramente abafada por ele adotada, e de algumas passagens mais ágeis, com breques de caixa (“Encoleirado”) e condução em semicolcheias (“Sai Pra Lá Vudu”) bem interessantes. O mano Andria ñ faz feio em nenhum momento – acompanha com garbo tudo e a todos, e mais comparece como co-autor dos sons – mas era músico contratado aqui.

Os demais sons, ñ citados, ñ recomendo. Em tempos de internet, entenda-se: ñ os baixem. Porque também ñ perdi tempo e caracteres por aqui depreciando. Ñ por fazerem o disco – a propósito tb, reeditado em cd, mas q ñ sei se ainda em catálogo – pior, nem nada: apenas por ñ condizerem tanto com o perfil hard rock predominante em “Supla”.

Pra concluir, uma viagem: fizessem acordo com o Papito para regravar 90% do material aqui, mesmo com vocais do Andria, e sem falarem se tratar de coisa do Supla (supondo a hipótese da ‘vergonha’, citada atrás, bater), o maior disco do Dr. Sin, comercialmente falando, estaria consumado. (Sem querer desmerecê-los, só uma viagem besta). E sairíamos do show todo mundo mais safadinho e cantando junto: “sai pra lá vudu”.

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CATA PIOLHO CLXXV – alguém lembra q em algum momento entre 1991 e 1992 surgiu a estória do Metallica haver chupinhado o riff de “Enter Sandman” duma música obscura duma banda (obscura tb?) chamada Excel?

Lembrava disso, e de q ñ deu em nada o assunto (ou teria Lars e uma horda de engravatados encerrado o assunto?), de modo q segue aqui a pergunta: procedia ou nem?

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