SEI LÁ EU
3 premissas e uma cópia datilografada dum texto:
1. no post recente sobre o Metallica, “Papagaiada Presepeira” (em 20 de Março último), passamos por considerações acerca da função dum show dos caras enquanto mega-espetáculo neste 2014, com os fãs escolhendo os sons mais manjados, por quererem esses sons, ñ por ñ serem fãs de verdade
2. no post recente sobre a biografia de Duff McKagan (soberba, q recomendo veementemente), o amigo guilherme citou “Cheguei Bem a Tempo De Ver o Palco Desabar”, de Ricardo Alexandre, livro q trata da “cena rock” brasileira dos anos 90 com propriedade e inquietações. Como a da cópia logo abaixo, introdução desse mesmo livro, cometida pelo controverso e grisalho André Forastieri
3. fim de semana último tivemos o recente Lolla Palooza, festival verdureiro, INFLACIONADO e SAUDOSISTA em q Perry Farrell veio discotecar e vender hype pra brasuca. Cometi uma série de críticas no Facebook, das quais replico – por ora – minha principal: tirando Nine Inch Nails, Soundgarden, New Order e, com alguma boa vontade, Pixies e Nação Zumbi, TODAS as outras atrações eram coisa digna pra, com todo o respeito, uma ou duas apresentações num Sesc sem lotar.
Misturemos um pouco de cada coisa, um pouco do texto copiado abaixo e choremos sobre o leite Jack Daniels derramado. Rola?
(e um video copiado, pertinente, mas pro post ñ ficar tão tijolaço)
[youtube]http://www.youtube.com/watch?v=YQFK9-mzUwk[/youtube]
“Mas, sim, não há mais rock no Brasil. Seu lado diversão foi devidamente retomado pelos ritmos nacionais, sertanejo, forró, arrocha, tecnobrega – brasileiríssimos e globalíssimos. E o que tinha de contestação, pelo rap e pelo funk, idem. Há bandas fazendo bons shows, e boas canções sendo compostas, e isso sempre haverá. Mas não têm importância social, e nunca mais terão. São só música, tudo que o rock jamais pode se resignar a ser.
No Brasil é mais agudo, mas o fenômeno é global. Por que um jovem contestador em 2013 escolheria se expressar com uma guitarra? Não vai conquistar as garotas, não vai escandalizar, não vai ganhar dinheiro, não vai incomodar ninguém, não vai mudar o mundo. Se você está procurando encrenca, melhor trocar a camiseta preta de banda pela máscara negra de black bloc. Se está procurando fortuna, por um paletó e um MBA.
O adolescente que abraça o rock em 2013 é conservador por excelência. Idolatra defuntos e dinossauros. A grande celebração é o megafestival, onde você paga megagrana para ser bombardeado por megamarketing. Rock como parque temático, diversão para toda a família. Extremamente fácil, para você e eu e todo mundo cantar junto, na brilhante premonição do Jota Quest“.
Bruno
10 de abril de 2014 @ 07:16
Concordo em partes.
Sempre teremos boas bandas no underground e uma cena rock aonde as pessoas tocam por diversão, porque não dá para ganhar dinheiro fazendo rock, nem contar com grandes shows hoje em dia.
Tem banda que tocou no Rock In Rio ano passado que toca em barzinho da Augusta, caso do Kiara Rocks (por exemplo), que, na minha opinião, embora não seja uma puta banda, também não é uma banda que tenta se vender pra mídia com modismos coloridos.
Todos nós pagamos caro sim por um saudosismo, para ver dinossauros, não que eu ache certo ingressos para shows de bandas gringas tão caros, mas são eles que ainda conseguem ser grandes fazendo rock de verdade.
No Brasil isso realmente não rola cena com importância social, bandas politizadas só ganharam a mídia nos anos 80, hoje o que vende é romantismo adolescente, putaria ou demagogia barata.
guilherme
10 de abril de 2014 @ 07:26
Caraca, esse sim é um assunto polêmico. Não sei se tenho capacidade de explicar meus pontos como gostaria, mas vou tentar.
Eu meio que concordo com o Forastieri, mas nem sempre o rock reinou supremo durante as todas as outras décadas. E mesmo assim, sobreviveu. E sobreviverá muitos outros anos.
Mas hoje, considerando a evolução da internet, as bandas agora são para nichos. Alguns menores, outros maiores, mas as pessoas que se interessam por elas, meio que querem viver só aquela cena. Acessam os mesmos sites, conhecem amigos que também só gostam daquelas coisas, frequentam festas caídas que só tocam as mesmas músicas. E com os algoritmos do Google e Facebook que mostra com mais frequência coisas que você JÁ GOSTA a chance do nicho crescer é mínima. A internet nos deu as ferramentas para mudar isso, mas não aproveitamos e hoje sobrou isso.
E isso é, em parte, culpa das próprias bandas, que preferem ficar no nicho certo do que diluir o som para tentar atingir mais gente. Isso é ok, tem vantagens nesse modelo também. Ganha-se menos dinheiro, mas teoricamente têm uma base de fãs mais engajada.
Outro problema do rock mundial hoje é que os caras são muito bonzinhos e limpinhos. Eruditos demais. As letras falam muito de coisas e experiências pessoais, muito poéticas. Se eles falassem de coisas universais como foder, beber e quebrar coisas (no meio disso tem crítica social e contestação também Forastieri, relaxa) todo adolescente se identificaria. Como se identifica com bandas mais antigas, porque tudo no som delas lembra ‘foder, beber e quebrar coisas’.
No Brasil, o nosso rock já era mais calculado e erudito (pode-se dizer bunda mole, também) desde os anos 80, porque sempre foi sinônimo de som de classe média. Rock brasileiro, muito pouco dialoga com a realidade do faxineiro lá da firma. O samba e o funk são muito simples e diretos. Aqui eu acho que é herança da nossa MPB, que teve influência de rock (principalmente dos anos 60 em diante) no som, mas manteve Chico, Tom e João na letras. E, com o passar das décadas incorporou Caetano, Gil e etc. Lá fora, rock sempre foi sinônimo do “working class” britânico, do “blue collar” americano. Trabalhadores braçais, que vivem de pagamento em pagamento tentando manter a casa em dia. Aqui, por razões diversas, não.
No livro do Ricardo Alexandre tem um capítulo que ele fala como as bandas brasileiras dos anos 90, por causa do crescimento (inflado artificialmente) do mercado de cds e da MTV se acomodaram e achavam que iam bater de frente com artistas internacionais. Pois bem, bateram de frente e perderam espaço entre a molecada. O que sobrou é aquele argumento caído de Whiplash que sempre temos aqui, de manifesto para parar de pagar pau pra gringo.
André
10 de abril de 2014 @ 13:53
“E isso é, em parte, culpa das próprias bandas, que preferem ficar no nicho certo do que diluir o som para tentar atingir mais gente. ”
Penso um pouco diferente. Foi justamente pela diluição que o estilo passou a ser confundido com outras coisas. Bandas como os paralamas do sucesso, que eram meio punks no começo, pareciam banda de axé em certas épocas. Renato Russo começou no Aborto Elétrico e terminou seus dias cantando Laura Pausini. Nos anos 90, teve o movimento mangue beat que era uma mistureba feita pra agradar gringo. Só pra citar os casos mais famosos, já que pro povão, eles são as referências mais conhecidas sobre rock.
Nunca houve uma banda como Rolling Stones ou AC/DC que dialogasse com todas as classes no Brasil. É sempre aquele negócio elistista, aquela reverência ao tropicalismo que não acaba. Um dos caras do Los Hermanos disse, certa vez, que “achava esquisito uma empregada doméstica cantando Anna Júlia”. Que merda um cara desse tem na cabeça? Um moleque da periferia vai se identificar com um coxinha desse ou com o mc catra?
guilherme
10 de abril de 2014 @ 14:40
Mas André, você tá citando artistas pré-milênio, pré-Napster. Pensa de 2004 pra frente, que banda de rock nova, consagrada pela crítica conseguiu cruzar essa fronteira e atingir o público grande? Arcade Fire e Black Keys talvez, mas mesmo eles são desconhecidos da maioria da molecada. O nicho indie e o nicho garageiro (que muitas vezes coexiste e coabita o mesmo círculo) abraçou eles e parou por aí. Vampire Weekend lançou um PUTA álbum recentemente, mas só quem já gosta do estilo foi atrás. Essa pessoa já tá moldado na caixinha de “indie rock”.
O cara que escuta rádio (embora esse conceito já tenha ido para as cucuias, mas beleza, considere rádio online ou Deezer e Spotify) nunca ouviu VW. Ezra Koenig não é ninguém pra esse cara e o VW também não faz questão de atingi-lo. Essas bandas estão muito felizes só de fazer shows pra 3/4 mil pessoas e depois os festivais de verão.
Quando uma banda dilui o som, ela tenta atingir mais gente e, por consequência, abaixa o denominador. Olhem para o Metallica no ‘álbum preto’. Olhem o Def Leppard no Hysteria. Foram escolhas conscientes. Isso é perigoso pra caralho, mas ok, é necessário bandas assim, de sons mais acessíveis. São a porta de entrada de muita gente que acaba curtindo rock. Pra mim funcionou. Eu comecei com o Nirvana, que fazia rock alternativo com roupagem de estádio (vejam a produção do Nevermind. A bateria reverbera como Phil Collins!) Se eu não conhecesse Nirvana talvez nunca tivesse me interessado por outros artistas que eles citavam, mas que tinham sons bem mais herméticos.
A última banda que fez isso, mas não era incensada pela crítica, é o Linkin Park, que fazia um som mega acessível. Goste ou não dos caras, eles são ou serão responsáveis por trazer um monte de gente a gostar de rock. E agora eles passaram a fazer um outro tipo de som, bem menos identificável com aquele do começo.
Aqui no Brasil, talvez uma que, no auge, dialogasse com todas as classes fosse o Raimundos com Rodolfo. E Raimundos efetivamente acaba em 2001 com a saída dele. Digão não tinha e até hoje não tem carisma para ser frontman. O Los Hermanos lançou trabalhos excelentes, mas como você disse, eram cada vez mais hermético e menos povão.
André
10 de abril de 2014 @ 15:57
Realmente, são épocas diferentes. Mas, será que o Metallica, Def Leppard, Nirvana e Linkin Park converteram tanta gente assim? Serpa que o público não parou por ali?
Li uma entrevista do guitarrista do Diamond Head em que ele fala que já aconteceu de nego chegar nele depois do show e perguntar pq o DH toca tantas músicas do Metallica.
Concordo com o que voce falou sobre os nichos e o fato das bandas daqui se alinharem com nomes da mpb, que há tempos deixaram de ser sinônimo de popular, e abraçarem uma proposta mais hermética. É complicado.
Jessiê
10 de abril de 2014 @ 17:38
Ótima discussão!
Vamos por partes: Sempre achei o Forastieri forçador de barra que tentava impressionar com uma suposta postura controversa milimetricamente comercial e enlatada. Falo mais principalmente da época da Bizz pois atualmente nem acompanho tanto. Lembro de certa vez ter “orientado” a Angélica, então a Sandy dos anos 80 (final), a “dar” e ao dizer que o disco do Supla (castanho e com cara de rockabilly) era legal.
Acho que estamos numa fase de transição muita informação, muito acesso a tudo, muita interatividade e muita bobagem. Tudo é randomizado. Abreviado. Ninguém quer ler um texto longo, um disco inteiro. A era da informação exige rapidez e mastigados (não mais enlatados).
Já conversamos por aqui da dificuldade ou impossibilidade de alguma banda nova vir a alcançar status de lenda do tipo Sabbath, Slayer, Zeppelin. Com discografia sólida. Por isto nada se renova e Ghost com som meio proto-black metal antigo (70/80), cara-pintada, pseudônimo soa novidade para incautos. Putz!
Sempre teremos coisa boa feita no Brasil, mas a maioria é porcaria, assim como a maioria feita nos EUA, na Europa e em qualquer lugar. Todo mundo quer ganhar dinheiro. Gueto não se ganha dinheiro senão deixa de ser gueto.
Acho tropicália um saco, Chico Buarque mais chato ainda, Milton Nascimento nem se fala. Mas gosto de Djavan, muito de Zé Ramalho e de Rita Lee.
Na década de 70 falar mal deste pessoal nos redutos pseudo-intelectuais e faculdades, sobretudo públicas, era heresia e ouvir música gringa, ou fazer, era coisa de alienado. Hoje ainda é assim nestes redutos.
Marco Txuca
11 de abril de 2014 @ 02:04
Estou lendo tudo, acompanhando tudo e achando do caralho. Mandem ver!
Por ora, só pauto o amigo Jessiê: Forastieri sempre foi o rei da polêmica pela polêmica (essa resenha da Angélica tenho até hj, como a do Ira! em q ele se dispôs a sair na mão com o Nasi ahah), mas às vezes um pensar fora da casinha traz elementos. E o cara sempre trouxe mais q o bando de bunda mole q assina André Barcinski, Lúcio Ribeiro, Alvaro Pereira Jr. (uma diarréia q escreve) ou Humberto Finatti.
E o disco do Supla citado é legal pra caralho (menos a versão do Chico Buarghque). Resenhei por aqui em 18 de Setembro de 2009!
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E o patrulhamento ideológico musical bicho grilo ainda deve existir. Freqüentei PUC-SP entre 1993 e 1997 e era freqüentemente pixado pelos idólatras de Marisa Monte, Caôtano Veloso e Gilberto Gil, tropicalista coronel feudal.
Caguei e andei praquilo tudo. Só deixei me influenciar por Djavan, Elomar e Beto Guedes. Em doses parcimoniosamente homeopáticas.
guilherme
11 de abril de 2014 @ 12:48
Só posso falar por mim e por meus amigos que tem mais ou menos a mesma idade e cresceram na década de 90. Nessa caso eu digo que Nirvana, Pearl Jam, Aerosmith (ok antiga mas fez mais sucesso nos anos 90 do que quando começou), Guns N’ Roses, Metallica (mesma coisa do Aerosmith), Oasis e aqui no Brasil, Raimundos, Skank, Charlie Brown Jr. realmente trouxeram uma galera grande a gostar de rock.
E mais tarde, quando eu já estava no ensino médio: Evanescence, Pitty, CPM22, Linkin Park, System of a Down trouxeram a geração do meu irmão, que é mais novo que eu, e seus amigos a curtir rock.
A partir daí, aí sim concordo contigo André, as pessoas mais novas que eu conheço e convivo já não escutam muito e pararam nessa galera ou se voltaram para bandas mais antigas. Mesmo bandas mais novas como NXZero, My Chemical Romance (que eu acho maneiríssimo!), Paramore etc. fizeram sucesso, mas já vinham encaixotadas em uma categoria gigante: EMO. Já virou nicho.
E isso já limita quem curte, pois o emo foi achincalhado demais por todo mundo. Até mesmo o Linkin Park, Evanescence, Pitty, já vinham com uma carga de, quero dizer preconceito mas não é isso… de informação sobre eles que muita gente torcia o nariz mas conseguiram cruzar essa barreira de nicho.
Obviamente que eu tô falando de bandas ‘de superfície’, bandas com o som diluido pro grande público. Existem casos de garotos e garotas que começam curtindo por artistas ‘de periferia’ que são sons menos acessíveis. Nesse grupo só tentei listar bandas que começaram a fazer sucesso mais ou menos na mesma época (o que ajuda a molecada a se sentir incluída num som totalmente voltado para a geração deles e não tão anacrônica) e com um som muito amplo.
Marco Txuca
12 de abril de 2014 @ 03:36
Forastieri sobre o Lolla Palooza 2014. Só pra acrescentar mais algum molho:
http://noticias.r7.com/blogs/andre-forastieri/2014/04/07/lollapalooza-2014-o-rock-morreu-e-seu-futuro-e-selvagem/