KRISIUN
Cine Jóia, 02.12.23
Imaginem o cenário pós-apocalíptico: rua na região central, decadente, com 2 prédios ocupados (protesto por moradia) à frente e mendigos fedidos morando próximos, um barzinho meio “casa da luz vermelha” em frente (vizinhos às ocupações) e uma igreja ao lado chamada Igreja do Deus Vivo Primitiva, situada ao número 66.
Esse é o entorno e contorno do Cine Jóia, lugar tombado aqui na cidade, inaugurado em 1952 e q serviu de cinema pra colônia japonesa por pelo menos 3 décadas. Ressuscitado (minha pesquisa não apurou quanto tempo ficou desativado) em 2011 pra servir de casa de shows, e desde então se mantendo.
Um lugar legal, onde assisti The Young Gods e Nação Zumbi em 2016 (obrigado de novo, bonna!), cuja programação habitual é de rock indie muito específico e de nova MPB série C. Lugar improvável pra show de metal, ainda mais do Krisiun.
Só q rolou, com apoio da Rolling Stone Brasil, naquilo q me soa um esforço da casa pra atingir outros públicos. (Apesar de ter já rolado o British Lion por lá). Tanto q terá Dead Fish esta semana, sei lá.
E antes de falar do show, queria falar do clima do local, exemplificando com o DJ q nos entreteu antes: num esforço pra entender do q tocava e de acolher um público “malvadão”, o repertório começou com “Wherever I May Roam” seguida de “Phantom Limb” (Alice in Chains – muito mais pesada), daí uns sons solos de Jerry Cantrell, daí uma acústica do Alice in Chains (“Right Turn”), um lado B de Pantera (“Throes Of Rejection”), um lado C de Deep Purple (“Love Don’t Mean a Thing”!), interrompida por “Flag Of Hate” (Kreator) em versão original, seguida de “Human Crate” (Fight) e aí uma do Gojira (“World to Come”). Randômico é mato, curti.
No resumo, podemos dizer q nem todo mundo ali conhecia Krisiun. E se ninguém realmente infartou (como imaginei), as caras aos poucos eram de quem não estava entendendo nada. Heavy metal em estado puro: só pra iniciad@s.
Algumas cenas ridículas, de moças vestidas de roqueira (roupas de couro estilosas) batendo cabeça sem jeito ou quicando no chão – como se metaleiro fizesse isso – fizeram parte da paisagem. Pq a real é q dá até pra bater cabeça, mas em geral isso não se faz em show de Krisiun.
Por uma questão de preservar a cervical.
Mas e o show?
1h40min de repertório atordoante (não afeta só os tímpanos e trompas de Eustáquio), a pretexto de lançarem “Mortem Solis” (o q eu já tinha visto duas noites em janeiro) com uma platéia q não lotou o lugar, mas q era repleta de amigos, repetidamente agradecidos por Alex e Moysés.
O maior problema? Estavam visivelmente cansados, demorando bastante entre som e outro, e a ponto de Alex ter dito q tinham chegado de turnê européia (Áustria, Alemanha, República Tcheca, Espanha, França, Polônia) mas q mesmo assim “iam botar pra fuder nessa porra”, “doa a quem doer”, “representando o death metal”, “pq aqui não é projetinho de verão paga pau”, pois “falar até papagaio fala”, já q “sem vcs a gente não é nada”, com “30 anos de estrada”, em todo aquele discurso chat GPTrue dele, às vezes até engraçado. Mas q não sei se quem era neófito entendeu.
Abriram com “Kings Of Killing” e “Combustion Inferno”, q parecem ser igual ao Motörhead quando abria com “Dr. Rock” e emendavam “Stay Clean”: começando no modo de segurança e daí pegando no tranco. Pegaram.
***
Tocaram duas do novo, fizeram uma “Ace Of Spades” bacana (tocam melhor q o Claustrofobia), aparentemente acrescentaram “Blood Of Lions” pq Max queria tocá-la e meu destaque vai pra “Bloodcraft”, provavelmente o som mais claustrofóbico (ops) e dissonante deles, ainda mais ao vivo.
Sinto falta de sons de “Ageless Venomous” e “Works Of Carnage“; tvz tenha faltado assessoria pra aludir aos 20 anos do segundo. Tvz não queiram viver de nostalgia, mesmo tocando bastante coisa do “Apocalyptic Revelation” – “Apocalyptic Victory” foi dedicada ao Toninho Iron (aquele), presente.
E quando eu imaginava q fariam set sem “Black Force Domain” (setlists na Europa não a vinham incluindo), eis q o mesmo Toninho Iron começou a pedir por ela, o q nem foi tão unânime, nem chato (parecem tocá-la ainda mais rápida e desgracenta – tvz pra acabar logo?), mas ainda um pouco anticlimax.
Problemas técnicos outros: 1) Max parece ter estourado um pedal de bumbo, o q levou um tempo pra trocar: 2) roadies pareciam meio perdidos no palco imenso, às vezes trombando nas telas frontais aos amplis; 3) mais ao final, 2 ou 3 tontos resolveram acender uns sinalizadores e correrem pelo local. Dois deles subindo ao palco com um desses.
Não sei como o bombeiro de plantão não interveio, mas um dos roadies acabou pegando um dos q ainda queimava e se livrou dele. Puta coisa pra queimar filme de banda ou dar merda. Felizmente não deu.
Enfim. No final, quem era iniciad@ curtiu, quem não entendeu provavelmente não vai querer ver de novo, e mesmo o pessoal do bar (defeito: só bebida. Nem uma paçoquinha ou saquinho de amendoim pra comprar) estava visivelmente cansado. O show acabou depois do horário do metrô e dei sorte de conseguir voltar num busão circular madrugueiro.
Q venham outras datas de metal no local, mas igualmente torço pra q os horários de começar e – sobretudo – de encerrar sejam como nos Sescs, Hangar 110 e Carioca Club: antes da meia-noite, pq nem todo mundo é playboy pra voltar de táxi ou corajoso pra arriscar parar um carro nas imediações.
Show foda, acessível no preço e local, num lugar estranho, com gente diferente.
Set-list: 1. “Kings Of Killing” 2. “Combustion Inferno” 3. “Swords Into Flesh” 4. “Scourged Of the Enthroned” 5. “Ravager” 6. “Vengeance Revelation” 7. “Blood Of Lions” 8. “Descending Abomination” 9. “Apocalyptic Victory” 10. “Bloodcraft” 11. Solo de Bateria 12. “Ace Of Spades” (Motörhead) 13. “Serpent Messiah” 14. “Black Force Domain”
Leo
5 de dezembro de 2023 @ 11:01
Orgulho de quem vai em três shows da mesma banda no ano PAGANDO, entende do riscado (não está lá só pela brotheragem e pra fotografar setlist), e não requenta resenha.
FC
5 de dezembro de 2023 @ 12:31
Meu medo é que essa imbecilidade de sinalizador vire moda. Pqp, ninguém ouviu falar de Boate Kiss????
Colli
5 de dezembro de 2023 @ 12:58
Show dos caras é atordoante mesmo.
Primeiro que assisti sai sem saber o que tinha acontecido! ????????
André
5 de dezembro de 2023 @ 21:55
Gostaria de vivenciar a experiência de um show dos manos. Deve ser peculiar.
“Sinto falta de sons de “Ageless Venomous” e “Works Of Carnage“; tvz tenha faltado assessoria pra aludir aos 20 anos do segundo. Tvz não queiram viver de nostalgia”
Logo, fazem como o Steve Harris e lançam uma turnê só com músicas desses álbuns kkkk
Mas, volto a tocar no ponto que até comentei com o Leo há algum tempo. Como é errado as bandas ignorarem certas fases e alienar uma parcela da base de fãs. No caso do Krisiun, tem uma porrada de gente que tem o Ageless… e o Works… como os melhores discos da banda. E, aí? Simplesmente ignoram. Medo de nostalgia? Parece o Iron Maiden que quer atochar sons novos guela abaixo do público.
Bonna
6 de dezembro de 2023 @ 12:41
Agora que vi o agradecimento! Valeu!
Devia ter ido neste show… não sabia! Fiquei descansando no hotel para preparar as pernas para o The Cure em festival. Acabou que só saí a noite para comer num rodízio mexicano.