(I WON’T) PAY YOUR PRICE
E quando é o PÚBLICO q estraga tudo e ñ merece as bandas, o rolê, a “cena”?
Data: 5 de novembro de 2005. Local: um bar novo, chamado M868, q ñ durou. Em parte, por terem aberto as portas em região errada: na Zona Leste, muito próximos (embora do lado oposto da Radial Leste) dos tradicionais Led Slay e Fofinho Rock Bar, antros preferidos dos metaleiros dorme-sujo.
Metaleiros dorme-sujo: aquela laia de bangers devidamente trajados em camisas pretas quase brancas e portando patches de Grave Digger, Kreator e Sepultura nos jacos jeans, acostumados a virar as noites de sábado dormindo vomitados de bombeirinho no chão dos recintos enquanto ñ dá a hora de ter ônibus, trem e/ou metrô pra voltar pra casa. Enquanto tocavam as bandas. Noruega é mato.
Uma derivação dessa espécie é o “metaleiro mochilinha”. Segue abaixo.
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Lembro de ter ficado de eu ajeitar o esquema: dia, horário e outras bandas pra tocar junto. Chamamos os brothers de sempre, P.O.T.T. (Exodus Cover) e o Napster, q era um Metallica Cover com o qual fundiríamos depois, mas ñ ainda nessa época. Grana tvz tivesse combinado algo, ñ me recordo se percentual da bilheteria, bilheteria toda ou valor fixo condicionado ao consumo no bar. De todo modo – alerta de spoiler – nada ganhamos.
Equipamento, acho q era o padrão: só havia microfones e uma caixa de voz (pra vocais). O resto, levamos. Ainda era uma fase “sem frescura”. A bateria, ñ fui eu quem levou; foi o Guilherme (Napster) ou o Wagner (P.O.T.T.). Tanto faz.
Combinada a ordem: P.O.T.T., No Class e Napster como headliner e sem tretas. Metallica sempre teve mais apelo. Sempre terá.
Equipamento montado, esperar um pouquinho começar a juntar gente… E nada de juntar gente. O P.O.T.T. resolveu começar; azarões q eram, contavam com zero público mesmo e bora. Enquanto isso começaram a aparecer uns metaleiros mochilinha na porta.
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Metaleiro mochilinha: uma derivação amena, mas ñ menos tosca, do banger dorme-sujo. Sujeito (99% dos casos homem) q sai pro rolê no sábado à tarde e volta (pra casa dos pais) só no domingo à noite. Sai levando a mochila escolar dalgum irmão ou irmã mais nov@, onde coloca seu maço de cigarro, isqueiro, carteira com algum documento, um vinho de garrafa de plástico (pra durar 2 dias), cartão de busão + uns 20 reais, um misto frio embalado num magipack e alguma coisa embalada em papel alumínio q ele jura ser maconha. Alguma seda tb.
O tipo de metaleiro q chega no lugar e acha absurdo ter q pagar pra entrar. E q, em pagando, nada consome. Nem copo d’água. Só emporcalha o banheiro (pra vomitar, em vez de vomitarem em si próprios) e fica fazendo pose de mão no queixo e cara de mau. Pra impressionar os amigos imaginários e os espíritos zombeteiros. Detalhe outro: abominam banda cover. “Gozam com o pau dos outros”, “roubam espaço de bandas autorais” etc.
Mas estavam lá na porta. O P.O.T.T. tocando, meia dúzia de 7 ou 8 metaleiros mochilinha. Ñ entraram. Dono do bar (parece q era pai de alguém do Horned God) veio pra mim explicando: “ó, o pessoal acha 7 reais muito caro pra entrar. Posso baixar a entrada pra 5 reais?”
Ok. Vai lá.
Acaba o P.O.T.T., começam a desmontar. Antes q começássemos a montar nossa parte, vem o dono: “ó, os caras tão achando muito caro 5 reais pra entrar. Vou baixar pra 3, senão ñ vai ter público e vcs ñ vão ganhar nada”.
Q remédio… Baixa lá. E com isso, tb minha expectativa. Q foi a zero, sem volta.
No Class toca. Foi legal, provavelmente. O público presente era de 11 pessoas: os caras do Napster, os do P.O.T.T. e algumas das namoradas (incluída a minha), q ainda curtiam nos acompanhar nos rolês. Palavra-chave: “curtiam”.
Os metaleiros-mochilinha ñ entraram.
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Napster se prepara pra entrar, e a essa altura todos os envolvidos – bandas e dono de bar – já sabiam q ñ mudaria muito a situação. Tanto q quando o dono veio a mim provavelmente dizer q ia liberar a entrada de graça, já me adiantei respondendo antes: “pode liberar”.
Napster tocou (tocavam horas), dono liberou entrar de graça e os metaleiros mochilinha Ñ ENTRARAM.
Acabou o Napster, desencanamos da vida. Demos alguma risada (tudo amigo de presepadas), tomamos algumas coisas, tvz tenhamos comido algo (ou ñ), e enquanto desmontávamos as coisas pra pôr nos carros e rancar fora, o dono vai no equipamento de som e põe o “Kill ‘em All” pra tocar.
Os metaleiros mochilinha então entram, vão pra beira do palco e começam a agitar e bater cabeça. Descaradamente pra nos zoar, meio pra pagar de tr00. Bando de filho da puta.
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Ñ foi o primeiro bar a empacar e encerrar atividades por causa dessa “gente”, e tvz ñ seja o último. Mas é o pessoal q quando fecha de vez o local, vai pra Facebook (na época era Orkut) fazer “petição pela volta do bar” ou reclamar q “metal no Brasil ñ vinga pq aqui é o país do Carnaval”.
Tá certo.
André
26 de fevereiro de 2021 @ 17:56
PErgunta: o Thiago Bianchi era um dos metaleiros mochilinha?
Marco Txuca
26 de fevereiro de 2021 @ 18:41
Eu te diria q “Thiago Bianchi” e “Zona Leste” numa mesma frase só fazem sentido se o mesmo tiver nascido no Jardim Anália Franco, ou arredores playboys da região.
Sujeito desse ñ tem ANTICORPO pra esse tipo de boteco.
Essa laia de playboy metaleiro fuleiro só freqüenta o Manifesto e freqüentava o finado Blackmore. E se desse pra irem de helicóptero, iriam.
märZ
26 de fevereiro de 2021 @ 20:49
Quem é Thiago Bianchi?
bonna, generval v.
26 de fevereiro de 2021 @ 22:05
Desculpe meter um ‘off topic’ logo aqui, mas como o assunto é metal nacional, nada melhor! rs
Devo ser o sujeito menos metal dentre os que comentam neste blog, então minha opinião é bem suspeita, mas achei um musicasso o novo single do Felipe Machado (Viper) que nem raspa sequer ser rock:
https://www.youtube.com/watch?v=ZrBBAH5bQNY&feature=emb_title
Jessiê
27 de fevereiro de 2021 @ 02:12
Na live que fiz Bonna ele anunciou esse som explicou sobre os remix das músicas do disco solo. Cada uma convidando um DJ (ou que o valha) para fazer.
Jessiê
27 de fevereiro de 2021 @ 02:20
Cansei de ir (e fazer) show local que de fora tinha 5 vezes o número de pessoas com ingressos que custariam hoje 15 reais. Ninguém consegue fazer esses shows quem faz é quem tem banda pra poder toca.
bonna, generval v.
27 de fevereiro de 2021 @ 11:29
Assisti este episódio com o Felipe no YouTube. Muito boa entrevista por sinal, Jessiê. Parabéns!
Marco Txuca
27 de fevereiro de 2021 @ 14:47
Já dei esse feedback em off pro Jessiê: a entrevista foi ótima, o entrevistado ñ tanto…
Como assim, märZiano: Thiago Bianchi é apenas o filho da maior cantora deste país, a Maria Odete!
Vergonha alheia essa tua de ter q perguntar ahahah
A propósito: esse Noturnall lançou ano passado (descobri faz 5 minutos) um disco ao vivo, “Made In Russia”, q a capa só pode ser fake.
https://www.metal-archives.com/albums/Noturnall/Made_in_Russia/863414
Ou então eram banda de abertura de alguma Kylie Minogue, só pode.
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Quanto ao tipo de evento, é isso mesmo: mais a banda, ou bandas, querendo tocar e essa galerinha “malvada” de fora realmente acreditando q dono de bar é filantropo ou q banda cover “rouba espaço das de verdade”.
É o tipo de gente q quer ver banda de amigo, mas entrar de graça. E q queima o filme da banda: banda põe 20 desses caras dentro, q ñ compram 1 copo d´água e vão embora depois de sujar tudo. Daí o bar ñ convida mais a banda, q se é alienada da situação entra no coro da “falta de apoio”, ou se tem noção do q aconteceu, vai chorar o “paga 500 pra ver o Maiden, ñ paga 15 pra ver banda de amigo”.
O q, num sentido muito restrito, até faz sentido. Mas a banda q ñ se livra desse tipo de “amigo”, vai morrer abraçada com eles. Conheci várias.
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Lembrei duma banda “metaleiro mochilinha”: Imminent Attack. Dividimos evento em Jundiaí uma vez. Um bar bacana chamado Toca do Rei.
Os vi tb nalguma abertura de show gringo no Carioca Club (e tvz uma outra vez num rolê no Hangar 110), e a imagem era a mesma: os caras + namoradas + amigos metaleiros de jaco e camisas desbotadas sentados num canto e uma mesinha com cds e lps caríssimos de um deles pra vender.
(acho q um deles tem uma loja de cd)
Nessa vez em Jundiaí, nem interagir com a gente ou com os outros presentes faziam. Ficaram jogando bilhar, expondo os discos pra vender (sem nenhum goró ou porção na mesa) e quando deu um saco cheio, ou eles perceberam q ninguém iria “pagar pau”, nem comprar os cds/lps, pegaram as coisas e foram embora.
Recentemente soube deles “saindo do armário”: iriam participar de evento de “Metal Solidário” da igreja Antidemon bolsonóia. Vieram com papinho “isentão” de q estavam fazendo isso “pela causa” (arrecadar dinheiro pra crianças pobres, coisa do tipo) e quem era fã estava detonando os caras.
Metal gospel lixo arrebanhando metal isentão mochilinha.
André
27 de fevereiro de 2021 @ 16:32
Lembrei de uma banda daqui da minha cidade (o nome me escapou agora) que teve dessas. Um dos integrantes postou uma foto no facebook e a legenda era algo do tipo: “show no manifesto bar em ano tal. Alugamos um ônibus só pra levar família e namorada. Dia inesquecível.” Alguma merda dessa. Como cidadão interior, posso afirmar que o pessoal daqui ainda é deslumbrado com o lance de tocar em SP. Como se isso fosse símbolo de status e tal. É ridículo, mas, existe ainda.
André
27 de fevereiro de 2021 @ 16:33
“Recentemente soube deles “saindo do armário”: iriam participar de evento de “Metal Solidário” da igreja Antidemon bolsonóia. Vieram com papinho “isentão” de q estavam fazendo isso “pela causa” (arrecadar dinheiro pra crianças pobres, coisa do tipo) e quem era fã estava detonando os caras.
”
Aposto que são do tipo “nem de esquerda, nem de direita, pra frente” haha
Marco Txuca
28 de fevereiro de 2021 @ 17:10
Vou te retrucar com a perspectiva oposta, André: muitas vezes fomos bem recebidos até demais aí pelo interior.
Por um lado, merecido. Gente q reconhece o esforço da banda q ensaia e viaja pra tocar; o q aqui em SP é um grande “foda-se”. Por outro lado, às vezes um exagero ou um endeusamento meio constrangedor.
Da primeira vez em q tocamos em Leme, o contratante descolou tanto salgadinho e bebidas (cerveja, água, refri) q em duas bandas ñ conseguimos comer tudo ahah Ganhamos camiseta de fã clube motorhéadico (Motorheadbangers, uso até hoje, camiseta dry fit, da hora) e até um troféu desse mesmo moto-clube, tal foi o tamanho do q curtiram a gente.
E ao mesmo tempo, fui vendo um ABUSO de bandas cover daqui. Já até comentei: Children Of the Beast e bandas cover “oficiais” de Metallica e Slayer ferraram todo o esquema de tocar no interior.
Pedindo cachês de 4 dígitos, estadia, comida e van. Muitas vezes o dono do boteco entrava na onda e cedia. Certamente tinha prejuízo e passou a ñ chamar mais essas e nem outras bandas daqui de SP.
Quanto ao Imminent Attack, fácil de imaginar: “ñ somos esquerda, nem direita. Nosso partido é o Brasil”.
Ugh
André
28 de fevereiro de 2021 @ 18:37
Marco, tem gente boa e que realmente curte um som. O cara da banda que eu citei é um exemplo. Mas, como eu falei, é meio deslumbrado por ter tocado em SP. E, eu sei que isso aconteceu com outras bandas. Pessoal se gabava de ter tocado em Campinas. Enfim, tem público de rock/metal pra kralho no interior. E, o pessoal abraça as bandas quando eles gostam
FC
1 de março de 2021 @ 13:00
1 – FDP, roubou meu comentário “meu partido é o Brasil” haha
2 – A foto é verdadeira sim e tem mais 80 mil pessoas do lado de fora, assistindo por um telão porque não coube. Mas fiquei sabendo que rolou protesto porque fizeram o show incompleto, ou seja, sem a mãe do vocalista.
3 – Sobre esse rolê mochilinha, tem que acabar o jovem. Porque todos nós aqui já fomos estúpidos, imbecis e nos metemos em roubadas inacreditáveis que poderiam ter sido evitadas com um pouco mais de idade. Mas rolê em porta de boteco, acompanhado de um monte de metaleiro sujo semi-virgem pra só entrar quando tocar Metallica em playback, é uma derrota de um tamanho inacreditável.
Gustavo
1 de março de 2021 @ 14:47
Salve, Txuca!
Vou dar uns pitacos…
– Uma vez, no RJ, fui no finado Garage, na rua Ceará. Ingresso do show, com duas boas bandas autorais, era 5 reais. Devia ter 30 pessoas dentro da casa e umas 500 bebendo na rua (do lado tem ou tinha o Heavy Duty, outro bar).
– DVD do Noturnall foi gravado numa abertura do Disturbed na Rússia. Mais aleatório, impossível.
– Sério que alguém fica deslumbrado de tocar no Manifesto??? haha
Abs
Marco Txuca
1 de março de 2021 @ 22:35
FC:
recentemente (2019) toquei na Fofinho Rock Club com o Still Life. Aliás, show de estréia da banda ali. Meia dúzia de gatos pingados, ñ se esperaria coisa melhor. Tocando ali no térreo.
É uma “casa”, como era a Led Slay, q nos 80’s rolava balada de som mecânico. “Som de fita”. Noites em q alguém punha algum disco inteiro pra tocar, ou fazia seleção de músicas de metal mais radical pra tocar e deixar tocando. Pra banger ficar batendo cabeça na frente do aparelho de som.
Em 2019 a gente tocou esse show no térreo pq o palco principal alguém tinha colocado uma seleção de músicas pra tocar e TINHA metaleiro batendo cabeça sozinho ali na pista. Nego ainda paga pra ouvir som mecânico em bar. Ou seja, isso ainda existe.
***
Gustavo:
Nunca entendi pq acontece. Se é gente pagando de tr00 do lado de fora, querendo aparecer (pra quem?), mas esses metaleiros dorme-sujo e metaleiros mochilinha fazem tudo pra sabotar o rolê. Mesmo q seja gastar 20 reais em bombeirinho no boteco de forró na esquina ou do tiozinho com isopor na rua de trás (o Lolla Palooza em Santo André acabou com essas interferências), e ñ pagar pra entrar, é o q fazem.
Capa do Noturnall: discordo de “aleatório”. Desonestidade intelectual, isso sim. Precisa nem adivinhar em quem votaram 17 em 2018, hum?
Quanto ao Manifesto, a resposta é SIM. E ñ necessariamente de gente q vem do interior, como apontado pelo André. Segue uma historinha em comentário à parte. A seguir.
Marco Txuca
1 de março de 2021 @ 22:41
2000: entro numa banda autoral chamada Minefield, onde fiquei por 11 meses (longa história, ñ cabe aqui) e conheci o Edinho, amigo até hoje e vocalista/baixista do No Class, tão citado nesta pauta.
A banda em questão estava mudando formação. O vocalista demissionário, Giba, estava de mudança pros EUA. Pra trabalhar e montar banda de metal lá. Ver se “acontecia”.
2020: Edinho me manda um zap dizendo q o Giba o contatara querendo montar banda.
Ainda mora nos EUA e veio com conversa mole de o Edinho montar uma banda por aqui, pra gente compor, gravar e mandar umas músicas lá pra ele fazer letra, pôr voz e gravar nalgum estúdio. Pra daí fazer rolê de procurar gravadora, gravar um disco e, de repente, a gente até ir pra lá pra fazer turnê.
Faz sentido q as pessoas até hoje acreditem em “fazer sucesso” tocando no Manifesto?
Fichinha perto de gente q ainda acredita q o André Matos quase entrou pro Iron Maiden.