BORN TO LOSE
Era muita presepada junta: festival com mais de 4 bandas (foram 6), num domingo, no interior e como “headliners“.
Mas ñ sabíamos disso ainda: era nossa 3ª vez no interior (2ª em Jundiaí) e estávamos dispostos e disponíveis para o q desse e viesse. Ou pra o q viesse e nos desse. Como achar defeito?
Há exatos 15 anos – coincidência pura deste q vos posta bosta – em 25.09.05 seguimos com o No Class para Jundiaí pra tocar num desses tantos festivais de metal, contendo bandas autorais e covers. Sei o nome de todas, ñ vou citar. O promotor ajeitador de corres do metal, alguém chamado Paulo, nos viu na cidade, noutro evento uns meses antes (motivo duma história futura), curtiu e nos convidou, acho q via Orkut ainda.
Ah, festival no domingo, vai ter um monte de banda, equipamento, público e as bandas vão ganhar 6 cervejas por integrante. Eu, q negociava, impus cachê. Ñ iríamos tocar a 57 quilômetros da capital por breja. Contrariado, mas confiante, o ajeitador de corres garantiu q ganharíamos 80 reais. Ñ por integrante, a banda toda.
Entendi q cobriria gasto de gasolina e pedágio (meu carro) e topamos. Programação: começaria às 14h e por volta de 20h fecharíamos o evento. Aham
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Tivemos um contratempo no dia: nosso baixista/vocalista (Edinho) tinha compromisso de trabalho voluntário budista (hoje sei q budistas adoram se ocupar nos domingos ahah), de modo q só conseguimos rumar pra Jundiaí umas 16h. Ruim isso, pareceríamos cuzões, daquele tipo de banda q detestávamos, q chega pra tocar pouco antes do horário combinado, ñ vê as bandas anteriores e vai embora logo depois.
O q fizeram, exatamente, TODAS as outras 5 bandas anteriores. Q incluíam os amigos do P.O.T.T. (cover de Exodus) e o Kremate, banda thrash autoral de Osasco, discos lançados e tudo, com quem tínhamos alguma amizade.
Pra piorar, me perdi no caminho; peguei a Anhanguera em vez da rodovia dos Bandeirantes. Conserta dali, ajeita daqui, retorno lá longe (ñ havia ainda GPS), eram 17:30 já e nós na estrada. Até q o Wagner (baterista do P.O.T.T.) nos liga: “tão vindo já?” Sim, mas nos perdemos. “Relaxa, q o evento começou faz meia hora, ainda nem tocamos”.
Aham
Detalhe à toa: era dia de prova do Enem. Motivo irrelevante pro ajeitador de corres, q achou q ñ pegaria nada. Freqüente demais isso: pessoal q faz festival de metal de interior alienado de eventos na própria cidade, mais uma lição. Tvz ñ tenha atrapalhado, mas serviu de desculpa pro sujeito no decorrer. O famoso “ñ sei pq ñ veio tanta gente”…
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Chegamos com o Kremate tocando. Já tinham rolado duas bandas e ainda haveria outras duas antes da gente. A noite avançando, as bandas anteriores indo embora “pq iam trabalhar na segunda”. A CENA DO METAL. 20h e estava na antepenúltima banda, público pequeno (nem lembro se cobraram entrada) minguando ainda mais, começamos a desconfiar. Q horas iríamos tocar? Até q horas iria o festival?
Procuro o Paulo, cadê? “Ah, foi levar os caras duma outra banda pra casa, daqui a pouco volta”. E eu ali só pensando q o filho da puta nem pra ficar no próprio evento ficaria, e ainda nos daria o calote. Quando reapareceu, pulei em cima do cara: “até q horas vai o festival?”
– Temos q entregar o ginásio (era uma quadra) às 22h.
“E só falta vc me dizer q ñ vamos receber o cachê, já q tempo pra tocar ñ vamos ter…”
Sujeito assustou, contemporizou q nos pagaria, botou a mão no bolso e me deu 100 reais. Nem pisquei: peguei a grana e virei as costas. Turminha do ajeitador de corre, próxima, só olhando.
21h e a penúltima banda ainda tocava. Edinho e Cássio (guitarista) estavam na pegada do “desencana, vamos embora”. Eu, puto, falava q iríamos tocar nem q fosse 10 minutos. (Tocamos 10 minutos). E propus irmos ajeitando equipo: tirassem dos bags e afinassem baixo e guitarra, Edinho aquecia a voz, enquanto eu montava as estantes de prato, chimbau e pedal duplo ao lado do palco. Pra ñ perdermos tempo montando.
Algo trivial, mas q pareceu irritar essa penúltima banda, q ficou enrolando pra encerrar. Cuzões, liberaram o palco pra nós era 21h40.
Tinha 4 pessoas pra nos ver, esperando os headliners. Tinha 2 caras da mesa de som, gente decente pra quem NENHUMA das bandas até o momento tinham sequer falado “obrigado”. Nos elogiaram por isso no final.
Tocamos 4 sons: “Ace Of Spades”, “R.A.M.O.N.E.S.”, “Overkill” no final, e tvz “Sacrifice”, ñ tenho certeza do terceiro. As 4 pessoas curtiram, nos parabenizaram e foram embora. Pessoal da mesa nos elogiou e agradeceram q agradecemos a eles no microfone.
Pessoalzinho do ajeitador de corre do metal, do outro lado da quadra, começou a nos xingar. Q éramos “mercenários” e etc. Foi a única vez q vi o Edinho “sair da linha”. Por muito pouco ñ descemos do palco, eu e ele, pra bater nos caras. É q foram mais rápidos e estavam perto da saída. E saíram correndo.
Paulo, com cara de cu, nem teve clima pra cumprimentar a gente, foi embora tb. E nós, na seqüência, pegando a estrada de volta xingando até a quarta geração da prole do filho da puta. E as outras bandas. E a penúltima banda, de cuzões.
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Passam uns dias, troco idéia com os caras do P.O.T.T. e do Kremate, q se fingiram de mortos, continuaram convictos no auto-engano do “foi do caralho” e insistiram na desculpa do “tivemos q voltar logo por causa do trampo”. Mesmo assim, ainda contei do nosso stress todo e sondei se haviam recebido cachê. Já sabendo da resposta.
Os caras tinham ido pra Jundiaí tocar por SEIS BREJAS por integrante
PS – dias depois, esse mesmo Paulo me contatou prum novo evento. Q ñ tocaríamos no fim e seria mais organizado. Nem retruquei mensagem
André
25 de setembro de 2020 @ 17:11
É o empreendedor brasileiro. O cara que te deu a “oportunidade” de tocar. Esse tipo de merda de gente sem caráter. Essas outras bandas que tocaram prestavam, pelo menos? Ou eram padrão metal nacional?
Jessiê
27 de setembro de 2020 @ 17:26
E tenho uma por outro prisma.
25/30 anos atrás eu organizava shows pequenos, mas não tinha fonte de renda. Consistia em contratar uma boa equipe de som, onde ia maior parte do investimento de patrocínio inicial, chamar entre 3 e 4 bandas que ficavam por conta dos instrumentos e fazíamos a divulgação juntos que era pregar na madrugada cartazes pela cidade.
A grana da portaria, preços módicos, mais bar pagávamos as despesas e o excedente dividiámos em partes rigorosamente iguais: uma pra mim que trabalhava o show todo, ruma para cada banda.
Sempre sobrava grana, tipo uns 300 reais hoje pra cada. Mas o lance era ter local para tocar e se divertir, além de tocado movimento.
Outro cara que tb produzia em outro esquema, me chamou para fazer um show médio onde trariámos o Anthares e fiquei no esquema de som e divulgação como sempre. O cara com o local e acomodação.
Faltando uma semana com tudo pronto o cara me diz que “esqueceu” de reservar o local e não consegui outro.
Resultado fiquei com o prejuízo e desgaste social e larguei disso. O cara ficou nesse esquema de queimar as pessoas por um tempo, teve selo. Até não ter mais parceiros e definhar.
Foi um misto de me tirar do esquema por vaidade, ciúme e até ideologia colaborativa com mau caratismo. Deu certo e fui concentrar na faculdade.
Era assim. Ainda é assim.
Gustavo
28 de setembro de 2020 @ 12:04
Esta história chega a ser um clichê do underground. kkk
FC
28 de setembro de 2020 @ 12:11
Como mostra clipe daquela banda atualmente expoente reaça: “vocês vão tocar e ainda querem ganhar dinheiro?”.
Marco Txuca
28 de setembro de 2020 @ 12:39
Sim, Gustavo, ainda acontece certamente.
E todo mundo errado na história: promotor de show (mais “ajeitador de corres”) incompetente, bandas desonestas e descompromissadas com uma “cena”, um movimento (isso de tocarem e ir embora; ñ foi só por ser domingo. Tá cheio de “festival” em q ninguém quer ser a primeira banda e atrasa pra chegar, mas tb ñ quer ser a última e tocar pra ninguém) e um público q muitas vezes ñ merece o evento.
Em próximas histórias, vou tentar abordar alguns desses aspectos melhor. Sobretudo o true q ñ paga 5 reais pra entrar no boteco, mas gasta 15 em cachaça no boteco de pagode da esquina. E reclama da “cena underground”.
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Jessiê: hoje tenho uma visão um pouco mais ampla. Organizar show e festival é tarefa pra abnegados. Pra quem curte de verdade.
Pq só dá merda e as chances de dar tudo errado beiram os 90%. A questão passa por assumir responsabilidades, o q ñ rolou no evento q descrevi em nenhum momento.
Sujeito deveria ter cancelado/adiado o evento por conta do Enem ter atrapalhado (um pouco). A outra coisa é a dificuldade pra uma banda aqui da capital em tocar em interior ou litoral, muitas vezes.
Pessoal de interior e litoral é acostumado e prefere show de domingo. Pra gente daqui da capital, é péssimo, uma vez q temos q tocar, atrasar e ainda voltar pra casa apressados por causa do trabalho na sebunda de manhã.
Hoje em dia tem mais gente confiável nesse segmento. Mas insisto ser gente abnegada. Eu ñ conseguiria fazer, nem nunca sonharia em tentar.
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FC: q banda é essa?
Jairo
28 de setembro de 2020 @ 12:55
Regra de ouro de quando produzo show por aqui, 3 bandas apenas, no MÁXIMO 4, mas odeio colocar 4, porque é muito tempo de show.
Horários rigorosos, costumo fazer um pouco mais cedo e converso com a casa, que daí faz outro evento depois, assim força a galera a cumprir horário. Horário de entrada e saída impressa no camarim, deu a hora, a banda não para, vou ao palco e peço pra acabar.
Mas é treta fazer evento, ainda mais quando tem que alugar casa, equipamento e tudo mais, só dor de cabeça, tem que ter muito amor pra continuar fazendo.
Marco Txuca
28 de setembro de 2020 @ 13:23
Essa regra a gente aprendeu aí com o No Class, Jairo: nunca mais – ou raríssimas vezes – voltaríamos a tocar em evento com mais de 3 bandas.
Tb deixamos de tocar com bandas q ñ fossem de conhecidos. Uma história q vou contar é a dum cara q tentou levar meu BANQUINHO embora. E banda cover se achando.
Quem organiza show GOSTA de fazer, mas tem q assumir TODA a bronca. Outra coisa muito comum, em boteco, é o famoso “na hora a gente vê a ordem das bandas”…
NUNCA. Dá. Certo.
FC
28 de setembro de 2020 @ 15:38
Raimundos.
Posso relatar uma historinha que presenciei in loco sobre ordem de bandas em shows, que culminou com troca de farpas e até com o desligamento de um integrante?
Marco Txuca
28 de setembro de 2020 @ 15:55
Bora. Só se for agora.
FC
28 de setembro de 2020 @ 16:37
Resumindo o máximo que consigo: um amigo meu músico profissional, produtor e dono de estúdio, montou uma banda de prog metal. Juntou uma grana com os outros caras e contratou o empresário/produtor de outro expoente do prog nacional (que inclusive já tinha tocado em festival grande por aqui) pra fazer os “corres”.
Passa-se um tempo e o empresário marca o show de lançamento do CD da banda “grande”, colocando a banda “nova”, do meu amigo, pra abrir. Até aí, presumo que esteja tudo normal.
No dia do show, a ordem era a seguinte:
21h – Angra Cover
22h – a banda do meu amigo
23h – a banda “grande”
Chego pontualmente às 22h pra ver a banda do meu amigo e, quando olho no palco, quem começa o show é a banda “grande”. Minha primeira reação foi ficar constrangido, porque imaginei que tinha confundido o horário e perdido o show.
Então encontro o meu amigo com a banda dele numas mesas, peço desculpas por ter pedido o show e ele comenta “que nada, cara, a ‘banda grande’ foi super gente boa! anteciparam o show deles pra deixar a gente como headliner!'”.
Achei esquisito, mas tudo bem. Nisso, um dos guitarristas estava sentado em outra mesa, isolado, com a namorada e uma puta cara de bunda.
Eis que a banda grande faz um set com 3 horas, tocando todos os discos e ainda incluiu um parabéns pro baterista, sujando o palco com bolo etc.
A banda do meu amigo entrou no palco 1h30 e nunca divulgou as fotos do show, porque só tinha eu na plateia.
No dia seguinte o guitarrista meteu a boca, chamou a banda “grande” de mau-caráter e foi demitido da banda do meu amigo.
Marco Txuca
28 de setembro de 2020 @ 17:11
Tenho uma história parecida com o No Class. Envolve duas bandas autorais “sérias” – Armahda e King Of Bones – e com discos lançados (grande bosta) e nos botarem de headliners no finado Gillan’s.
Enquanto isso, fico especulando qual seria a banda “grande”. Meu primeiro chute é Hangar.
FC
28 de setembro de 2020 @ 17:22
Não. Acho que a banda nem existe mais, isso faz uns 12 anos. Deixe o fluxo mental trabalhar, acho que você vai descobrir.
Gustavo
28 de setembro de 2020 @ 17:59
Gostei da dica. hahaha
Quando eu comecei a produzir shows, em 2007, fiz alguns mais underground pra ir treinando, mas desisti rápido. Se é pro rolê ser muito tosco, melhor nem fazer. Fica todo mundo em casa e se poupa do stress.
Acho que as bandas estão mais ligeiras hoje em dia, organizando os próprios shows, muitas vezes em estúdios, inclusive.