WALK A CROOKED MILE

“Vcs são foda. Vamos combinar de vcs tocarem lá no Moto Clube ___, q vai ser do caralho”

É a famosa frase: se eu ganhasse 1 real a cada vez q eu ouvi isso ao final dum show do No Class… teria contratado o Motörhead de verdade pra tocar no nosso lugar ahahah

Sobretudo pq a maioria das vezes jamais rolou. Feedback sincero e positivo, mas quase sempre fogo de palha, empolgação de gente bêbada. Ainda mais quando o sujeito (sempre sujeitO) vinha pegar contato da gente – nunca fizemos cartão de visita – anotando em guardanapo e guardando no bolso de trás da calça.

Quase certeza q a calça foi pra lavar algum – ênfase em “algum” – dia e o papelzinho estragou nisso.

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Tenho algumas histórias com Moto Clube, a maioria esquisitas (exceção: MC Kaiowas, em Leme. Um dia conto) mais q propriamente roubadas. Por peculiaridades de cada um, q os tornam parecidos.

Ñ é a toa q recentemente se revelaram, maioria, bostonaristas. Sempre rola uma bandeira do Brasil e uma do Estado de São Paulo em palco e colete dos sujeitos… e sujeitas poucas tb. Um patriotismo meio oblíquo e tosco, tipo aula de Educação Moral e Cívica.

Fora isso, e de modos diversos, é um pessoal q contrata as bandas e as tratam meio como se as mesmas devessem favor a eles.

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Passo à história específica da vez:

Casa do Rock, Araras, local q o MC da cidade, os Sinistros, compraram (acho q era casa de pagode) e nos convidaram pra noite de inauguração, q honra. Junto duma – boa – banda cover de Iron Maiden da região, Moonchild.

Foi em 13 de julho de 2012 isso, e fomos (e voltamos) de van, alugada e bancada pelo MC. Uma fase bacana q vivemos, q durou entre meados de 2008 até início de 2013, em q os contratantes de interior ofereciam a van e topávamos no lugar de cachê. Afinal, mais q isso seria abuso, hum?

Acontece q uma certa banda pagou-tocou no Rock In Rio, KR, mais uma certa banda cover estrelinha de Iron Maiden (COTB) e uma outra cover escrotaça de Metallica (TBMC) soubemos q estragaram esse esquema aprazível, com exigências de van + estadia + comida + cachês de 4 dígitos. Q alguns desses lugares no interior bancaram, depois se arrependeram e fecharam.

Q merda, isso. Mas ñ é o foco.

Tocamos na inauguração, levamos uma das namoradas (Luana, namorava o guitarrista), um casal de amigos e foi bem legal. Bem cheio, pessoal mandando o famoso “vcs são foda…” [coda acima], o Moonchild abrindo (pq o local exigiu. Acho mesmo q eles deveriam ter fechado) e o q mais me lembro mesmo era q minha posição no palco, num praticável, era bem à frente da caixa de luz do local, q a portinha tinha “joguinho” e ficou me cutucando o show inteiro.

Tenho foto disso, se encontrar posto aqui.

Fora isso, uma impressão, capricorniana, me ficou: “será q os caras vão conseguir manter esse lugar por muito tempo?” Parecia muita areia pro caminhão dum MC.

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Muita risada, alguma cerveja, eu de boa por ñ precisar dirigir na volta, e voltamos pra São Paulo. Q essa ñ é a história ainda. A história é de quando voltamos pela segunda – e última vez – à Casa do Rock.

E aí se trata da idiossincrasia desse Moto Clube específico.

Chamaram a gente pra 9 de novembro daquele mesmo 2012. Cachê apertado (ñ lembro quanto) acertado, sem van (e bora fazer um ida-e-volta, 350km totais, na mesma noite) e com uma condição q nos impuseram: TERÍAMOS Q LEVAR OUTRA BANDA PRA ABRIR.

O famoso “oi?”

Sim.

Justificativa do Moto Clube: galera ñ vem pra balada se só tiver uma banda. Putz. Já estávamos familiarizados, a ponto de recusar pra sempre, àqueles esquemas de bar/evento q exige venda antecipada de ingresso (no q o contratante SEMPRE ganha) ou com aqueles q EXIGEM banda levar público, condicionado a cachê. Mas levar outra banda?

Pra piorar, ñ conseguimos. Nenhuma banda de amigos estava disponível ou tocava mais. Nosso então baixista/vocalista, Márcio, q cuidava dessa parte no meu lugar (q bênção) ponderou. Salvo engano, a data era pra ter sido antes e adiou-se. Mas ñ se adiou mais e ñ conseguirmos outra banda pra “abrir”.

Condição do lugar: então vcs vão ter q tocar pelo menos 3 horas.

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Nosso repertório, total, mal chegava a duas horas.

Trabalho escravo é mato. E equívoco duplo: da casa, q ñ devia ter nos chamado (mas depois soubemos q estavam sem muitas opções mais), e nosso, q ñ deveríamos ter topado. Topamos. E ensaiamos TODO o nosso repertório, até músicas q há anos ñ tocávamos. E foi a única vez em q tocamos, mal, as versões motörhéadicas pra “Enter Sandman” e “The Trooper”.

Pra ninguém. Tinha os caras do bar, uns 2 ou 3 outros. Indiferentes e meio hostis. A galera de Araras realmente ñ ia pra rolê se tivesse só uma banda. Pra piorar, os caras do bar culparam a gente.

Sei q saímos doloridos e pagos de lá, cogitando ñ mais voltar. Desaforo. Mania q Moto Clubes têm de achar q banda é máquina de videokê. E ñ voltamos. E nunca mais soubemos dessa Casa do Rock, nem de quem tivesse ido a Araras tocar ali.

Em 2018, quando fizemos nosso penúltimo show, no Moto Clube Kaiowas, em Leme (por tabela, tb nossa última vez em Leme), foi q perguntei ao organizador, o lendário, emérito e figuraça V8, se o Casa do Rock tinha falido.

Resposta franca: “ñ duraram muito, fecharam já faz uns anos. Deram o passo maior q a perna”.

Complicado.