O INDESEJÁVEL FIM

Pelo amigo jornalista FC, estreando por aqui

dr sin

Foi com bastante emoção que o Dr. Sin se despediu dos palcos paulistanos no último sábado, 19/03, no Carioca Club. Depois de anunciada a aposentadoria, a banda anunciou um giro de cerca de 30 shows pelo país, deixando para o final da turnê o adeus à sua cidade-natal (haveria ainda uma última apresentação em Campinas, no dia seguinte).

Quando cheguei, a banda de abertura – o paulistano Seventh Seal – finalizava seu show, executando o cover de “Balls to the Wall” (Accept) e mais duas composições próprias, bastante pesadas.

Foi a minha primeira vez na casa, então não posso comparar a lotação daquela noite com a dos shows gringos. Mas quando o Dr. Sin adentrou o palco mandando logo de cara “Down In the Trenches” (do play “Brutal”, de 1995), o público abarrotava o Carioca Club até o final da pista, pulando e cantando junto. Em seguida, Andria Busic saudou os presentes e o grupo tocou “Lady Lust”, do disco “Animal” (2011), com a guitarra de Edu Ardanuy emitindo peso e distorção mais intensos que nos discos. Ao final desta, foi a vez de Ivan Busic dar o seu boa noite e anunciar “Time After Time”, a primeira de “Dr. Sin II” (2000), seguida de seu solo de bateria, logo emendado por “Fly Away”, do mesmo disco.

O calor daquela noite foi a deixa perfeita para Andria anunciar “Fire”, mas uma pequena falha no sistema de fumaça acabou broxando um pouco a brincadeira, porém, sem diminuir a empolgação dos fãs. A grande surpresa veio em seguida, quando o tema da “Marcha Imperial” do filme Star Wars começou a ecoar pelo Carioca Club. A plateia vibrou muito quando o palco foi invadido por Stormtroopers e pelos personagens Darth Vader e Kylo Ren, munidos de seus sabres de luz, enquanto a banda tocava “May the Force Be With You”.

Na sequência, três músicas do recente “Intactus” (2015): “Saturday Night”, “We’re Not Alone” e “The Great Houdini”, esta anunciada por Ivan como “uma música em que Andria e Edu faziam mágica”. Ainda não ouvi o disco, mas me empolgaram.

“Dr. Sin II” voltou a ser revisitado com a bela “Miracles”, que abriu caminho para “Isolated”, com o solo magnífico de Edu. Somente na canção seguinte, a emocionante “Zero” (a primeira no set do disco “Insinity”, de 1997) é que minhas primeiras memórias afetivas surgiram. Pude relembrar os vários shows do grupo a que assisti (provavelmente mais de uma dezena), com um detalhe que não deixava de ser curioso: em 24 anos de carreira, aquela era apenas a segunda vez que eu via a banda num “show solo”, sem ser em festivais ou abrindo para outros artistas – a outra havia sido em 2002, na gravação do dvd “10 Anos Ao Vivo”.

Também de “Insinity” a banda tocou “Revolution”, precedida por uma bela intervenção instrumental e um número em que Andria despejava efeitos em sua voz. O público cantou o bonito refrão a plenos pulmões e a banda encerrou a primeira parte do show.

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Na volta para o bis, Ivan cantou “Last Night I Had A Dream”, de Randy Newman. A performance vocal foi discutível, principalmente em comparação a Andria, mas a ocasião especial deixava escapar qualquer deslize. O grupo trouxe de volta ao set a belíssima “Eternity” (“Dr. Sin II”) que, segundo Ivan, esteve fora das últimas turnês (tremendo desperdício, a música é uma das melhores) e os fãs ainda acompanharam a última de “Insinity” no set, a hard “No Rules”.

Foi ao fim desta que tive um pequeno fio de decepção, pois esperava que, por ser um show de despedida, a banda houvesse programado alguma participação especial, como na gravação do dvd. Certamente a presença de Michael Vescera seria muito legal. Mas não aconteceu, infelizmente.

Àquela altura todos já tinham notado que nenhuma música do primeiro álbum havia sido tocada. Mais uma vez imaginei que a ocasião merecesse algo especial e torci para que tocassem na íntegra o polêmico (por conta de questões contratuais) disco, pois já fizeram a mesma coisa com “Brutal”. Portanto, fiquei duplamente empolgado quando as primeiras notas de “Emotional Catastrophe” fizeram o Carioca pular e cantar, sobretudo na parte do “breakdown!”.

Mas, infelizmente, foi apenas a deixa para o indesejável fim, era mesmo a última canção do set e a única daquele disco. Estavam acabados o show, os shows e, muito provavelmente, a banda. Não foram raras as vezes em que a banda agradeceu os fãs pelo apoio durante todos os anos, recebendo como resposta um coro de “não acaba, não!”. Também senti que qualquer ranço entre os músicos, por conta das discordâncias nas últimas declarações, não foi externado no palco, com o trio numa sintonia muito legal.

Na saída notei também um fato curioso para um show de rock pesado: uma maior quantidade de gente com mais de 30 anos, beirando os 40, numa inacreditável proporção de pessoas com mais cabelo curto do que comprido, algo muito diferente dos shows do Angra, por exemplo. Certamente eram pessoas que acompanharam a carreira dos músicos desde os “embriões” Platina, A Chave do Sol, Anjos da Noite, Taffo, até as duas décadas de Dr. Sin, dando o seu último adeus à banda. Não, acho que ninguém acompanhou a trajetória deles no Supla