ZUMBIS DO ESPAÇO

Hangar 110, 11.05.24

O duro de me acostumar com shows no Sesc é q não tenho mais paciência com bandas de abertura.

Foram 3, eram anunciadas as duas primeiras: Freakfur (meio emo, aparentemente banda de roadies), The Red Lights Gang (rockabilly com direito a baixo de pau) e Morcegula (bandinha hipster, tentando pagar de Cramps e soando um Raveonettes tabajara) e q agradou bastante.

Não seria um problema tremendo, não fosse o Hangar 110 não ter qualquer lugar pra sentar. Já teve: uma arquibancada onde teve nos primórdios um half pipe pra skatistas. Aí quem é velho como eu, tem q sentar no chão próximo à entrada. Aí é foda.

Prefiro ir direto à banda principal e meu medo inicial: 24 sons e começando a apresentação às 22:20. Daria tempo de acabar antes da meia-noite pra eu pegar o metrô de volta?

Respondo assim: às 23:45 eu já estava na plataforma do metrô Armênia, moído de cansado e impressionado. Puta show.

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Desconheço o q foi o show do Zumbis do Espaço no Summer Breeze; acho mesmo q ninguém viu, pq no meu radar nenhuma resenha apareceu. No Hangar sábado estavam sendo muito aguardados.

As aberturas serviram de suspense: havia rockers, pin-ups (mulherada estilosa tatuada), roqueiros hipsters, metaleiros velhos (eu + uns 3), punks e crianças (sim, crianças acompanhadas dos pais e usando camisetas da banda) ansiosas pela horda de Tór Tauil, ainda mais figuraça q de costume pq com barba longa meio hillbilly.

O ensejo do show era o lançamento de “A Fúria Selvagem” (comprei cd na banquinha de merchan), do qual tocaram 5 sons. “Ir, Seguir e Destuir”, nova e pra mim novo clássico, foi contundentemente entoada. Como foram a chuva de clássicos “Mato Por Prazer”, “Nos Braços da Vampira”, “Satã Chegou”, “Que Venham os Mortos” (precedida em playback por “O Congelante Toque do Medo”), “Espancar e Matar” e “A Marca dos 3 Noves Invertidos”.

Uma curiosidade extra e histórica é o baterista novo (desde a pandemia), Guilherme Martin, ex-Viper (fase “Theatre Of Fate”), Toyshop e Luxúria: toca muito, tem carisma e puxou pra cima o tempo todo o volume. Do som, q estava estúpido de estupendo.

Tór, por outro lado, demonstra não aguentar tanto o tranco, saindo pro backstage – pra respirar? Sentar? Assassinar alguém? – em vários inícios de sons, no q me surpreendeu demais a banda estar ciente e completamente ensaiada pra isso.

Alguns sons eram estendidos no início, pra galera cantar; noutros, o guitarra Rafael começava os vocais sem constrangimentos. Às vezes complementava versos pro vocalista, e tudo bem. Tanto quanto o baixista veterano original. E assim a apresentação nunca perdeu a pegada. Digno demais.

Mais do q isso é resenhar em demasia: é banda de nicho, vinda do interior (Taubaté) e q nunca pagou jabá pra fazer parte de supostas elites paulistanas. Têm o próprio selo (13 Records), por volta de uma dúzia de discos – fora os ao vivo (à venda em CD, LP e cassete) e fora os já 7 discos solo de Tór – e, sobretudo um público, cúmplice e reverente sem exageros. Tór é carismático a seu modo, a banda tem chassi Misfits até no logotipo e tudo bem.

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Curti muito a meia dúzia de moleques presentes, q os pais não deixaram entrar nas rodas e 2 deles subindo ao palco no final, pra pegarem palheta e abraçar Tór e o baixista. Aquela felicidade de quem pega uma palheta e vem correndo mostrar torço pra q seja uma garantia de imunidade futura ao evangelismo talibã, aos funks reaças e ao Spotify segregador.

E recomendo por aqui a todos: tendo show do Zumbis do Espaço na sua cercania e/ou vizinhança de má fama, vá. É divertido demais.