FARAÓN • LIVING METAL • GUERRA SANTA
La Iglesia, 05.04.25
Comentei por aqui em janeiro da minha frustração de ter passado 5 dias em Santiago e não ter encontrado nada de heavy metal latino-americano. Fosse cd, show ou boteco. Algo muito estranho, pq vimos metaleiros demais pelas ruas.

Sábado passado, eis q me cai no colo esse fest.
Venezuela Metal Fest, capitaneado pelos venezuelanos radicados (exilados) na Argentina Guerra Santa, e com Faraón (argentinos), Living Metal (brasileiros) e Olymp (alemães), tudo banda totalmente desconhecida pra mim.
E por isso mesmo, resolvi ir.
Evento q teve algum atraso na passagem de som (me disseram), daí o La Iglesia só abrir às 20h e o Faraón (primeira banda) começar às 20:30. E daí eu não ter visto o Olymp, pq tive q sair fora às 23:45 pra pegar o metrô.
Aquele déjà-vu desnecessário de rolê metaleiro. (Acostumei com Sesc Belenzinho, Hangar 110 e fest punk…)

(faz de conta q a resenha está prolixa pra enxertar merchan ahah)
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Éramos em 13 pessoas + uma convidada (influencer, youtubber ou da produção) quando entramos. Noite q parecia realmente underground, ao contrário do fest de sexta-feira.
E é relativamente fácil descrever o q foram os shows do Faraón – q abriu a noite inesquecível – e do Guerra Santa, a última q vi: bandas encaixadas entre o heavy metal tradicional e algum power metal sem caricaturas.

Sem chupinhar Judas Priest, Accept, Helloween ou Iron Maiden, o q sugeriria o nome Faraón. Bandas de identidade própria, cantando em espanhol e bastante profissionais. Tocando seus sets sem migué. União mesmo.
Um outro detalhe, meio periférico, q me chamou atenção: guitarrista barrigudo do Faraón, fisicamente lembrando um Tom Araya, usava camiseta do Death, capa de “Human“, sem q ele mesmo ou a banda tivessem qualquer traço da Chuck Schuldiner Group. O guitarrista base do Guerra Santa usava camiseta do Dying Fetus, e idem zero traço de death metal no som
Quero dizer q parecem haver bandas com integrantes de influências distintas, ocupadas apenas em fazer heavy metal. De verdade e de qualidade. Ao contrário do Living Metal, q deveria estar tocando no Manifesto, no Santo Rock Bar, num Matanza Fest ou no House Of Legends.

O q vou dizer desses é assim: paródia de Massacration. Bem tocado, vai. A vergonha alheia não era aí. 5 cabeludos de preto disputando a frente do palco (exceto o baterista) e fazendo músicas de louvor ao heavy metal.
Pesquisei: um único disco lançado, de 2021, com músicas como “Do You Believe In Steel?” (faixa-título), “I Am the True” (sic), “It’s Only About Heavy Metal” e “We Are Metal… You’re Not”, essas duas últimas tocadas. Descrevi o suficiente?
Agradaram aos amigos e namoradas presentes. Amigos imaginários e espíritos zombeteiros tb, tvz. (Não sou médium) Vocalista com bandana parecia querer fazer hard farofa, mais q heavy metal. A vergonha alheia era minha… e não deles.
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Na banquinha de merchan, material do Guerra Santa (peguei o cd com o vocalista) e do Living Metal. Praticamente nada do Olymp e zero produtos do Faraón.
Troquei idéia com um sujeito (brasileiro, não perguntei o nome) q tem um selo, Storm Atoom Records, q está lançando bandas latino americanas de heavy metal (tem página no YouTube) e me explicou q o Faraón não tem material lançado devido à crise econômica argentina.
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Volto ao Faraón: 4 sujeitos tocando bem e fazendo um metal puxando pro tradicional. Baixista empolgado e preciso, baterista tiozão carismático e careteiro, o guitarrista “Tom Araya” sossegado e um vocalista sem pose. Tocaram sons próprios e chamaram o vocal do Olymp pra fazerem juntos uma versão aceitável de “Resurrection” (Halford). Gente mais nova pegando o “Judas” etariamente mais próximo. Ficaram depois trocando idéia e conversando com latinos q foram chegando pro show.
(Q já não era mais a dúzia e pouco)

O Guerra Santa veio em formação quinteto (duas guitarras) e fazendo um metal quase melódico (mais próximo dum Helloween “Better Than Raw” e “The Dark Ride“, sem chupim), mezzo tradicional. O som importando mais q qualquer pose.
O vocalista Martino Vázquez fisicamente lembrava uma cruza de Jeff Scott Soto com um Chuck Billy depois da bariátrica e, incrível, não foi incômodo. Tom de voz médio e agradável, sem querer soar Kiske, Bruce ou Andre Matos sem acento. Sendo emotivo e épico sem afetação. Não me parece ter vocalista do estilo assim aqui.
O baterista magrelo Lucas Gonçalves tb não apelou pra malabarismos e maneirismos desnecessários. Segurou a bronca e reiniciou a contagem num som q o guitarrista solo meio clone de Yngwie Malmsteen acelerou na largada. Tudo de boa.

A certa altura, chamaram o vocalista do Living Metal pra traduzir algumas falas e contexto: se apresentaram como uma banda exilada da Venezuela e residindo em Buenos Aires, com impulso de fazer esse festival entre os países afora e etc. Cantaram juntos “Camina”, sobre esse exílio e outros 5 sons do disco (de 2023) q comprei lá do Vásquez, “Êxodo: Un Nuevo Comienzo“. Foi muito bom.
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Meu juízo sobre o evento: Faraón e Guerra Santa não perdem em nada – muito pelo contrário – pra bandas similares aqui do (🤢) metal nacional, mais afeitas a “polêmicas” e podcasts q a tocarem de verdade. Acho mesmo q caberiam num Bangers Open Air (processa, Jessiê!) mais q muito europeu série B q está vindo e sendo vendido como “revelação”.
De uma forma geral, geopoliticamente falando tb, vejo q falta uma troca entre nós brasileiros (latinos não admitidos) e os latino-americanos de língua espanhola; ainda q se saiba q eles nos conhecem mais q vice-versa. Satisfez minha curiosidade com relação ao metal hermano e torço pra q outros eventos assim ocorram.
Com banda brasileira menos caricata escalada e a farta oferta de bandas latinas q parece existir.
11 de abril de 2025 @ 10:32
Vou soar repetitivo, mas, pra mim, isso prova mais uma vez a importância do Iglesia. Porque a casa de shows não é só o espaço físico, é a “curadoria” do evento, é a galera que está por trás e que articula com produtores, que atende a solicitações como essa, que encaixa esse show num dia nobre pra tentar trazer mais público pro evento, … Isso não é pouca coisa. E é um movimento que parece acontecer (coordenadamente ou não) com outras pequenas casas de show em São Paulo. É assim no 74 Club, parece ser assim no FFFront (que não conheço). No caso do Iglesia, seria muito mais simples fazer o trivial e ser espaço de locação pra show de qualquer coisa. Pela localização central do lugar, funcionaria de boa. Por isso, acho ainda mais legal.
11 de abril de 2025 @ 10:39
Só complementando: ano passado conversava com um amigo que abriu uma livraria de arquitetura. Ele diz que livraria em São Paulo tem que ter nicho claro. Que essas grandes livrarias tendem a reduzir, como sumiram Cultura, Fnac, … pq o sujeito que vai pra livraria frequentemente procura algo especializado ou por algo diferente que tem nela. Isso não existe numa grande livraria. E, no fim, acaba criando um vínculo com o lugar. Casa de show me parece caminhar para o mesmo lado. Lógico que as grandes sempre vão existir pra abrigar certos shows (ainda que eu ache que os estádios reformados estejam disputando esse lugar com elas), mas, nessa escala menor, parece fazer sentido.